Os melhores feitos de engenharia de Hans Mezger

21/11/2020

Há mais acerca de Hans Mezger do que o motor GT3, muito mais. O engenheiro, designer de motores e mestre de carros de corrida foi essencial para o sucesso da Porsche como construtora de automóveis de estrada e desportivos durante quase quatro décadas.

Motor Type 547 para o Porsche 550 Spyder

Depois de estudar engenharia mecânica naquela que é hoje em dia conhecida como Universidade de Estugarda, Mezger acabou o seu curso com um incrível total de 28 ofertas de trabalho. Nenhuma delas era, no entanto, da empresa para que ele queria trabalhar, a Porsche. Isso não o impediu de se candidatar para a construtora de carros desportivos e em 1956 foi aceite e colocado a trabalhar no ramo de motores a diesel da empresa.

Não muito satisfeito em criar este tipo motores, Mezger deixou claro para os seus patrões que queria trabalhar em algo diferente. O pedido dele foi ouvido e Mezger foi colocado no departamento de cálculos, uma parte muito mais interessante da empresa do que aquilo que pode inicialmente parecer.

Foi aqui que Hans começou a trabalhar em motores de corrida, o primeiro sendo o Type 547 para ser utilizado no Porsche 550 Spyder.

Em 1962, aos 30 anos, Mezger trocou a sua NSU Lambretta por um automóvel. Um Porsche 356, como seria de esperar. Nesse mesmo ano, a Porsche entrou na Fórmula 1 com o modelo 804, alimentado por um motor Type 753. Não só esteve Mezger envolvido no desenvolvimento do motor, a aprender técnicas valiosas acerca de designs de câmaras de combustão, mas também ajudou no desenvolvimento do chassis do carro de corrida.

Motor Type 901

Foi no início dos anos 60 que Mezger criou o seu mais influente motor, o seis cilindros refrigerado a ar para o Porsche 901/911. Originalmente, o Porsche 911 foi lançado com uma versão de 2.0 litros da criação de Mezger, mas o motor tinha sido desenhado com espaço suficiente para ser expandido para uma capacidade de 2.7 litros. O que ninguém estava à espera era o quão longe o 911 iria chegar, pois passou de ser apenas um automóvel de estrada para ser usado também em corridas. O professor Ferry Porsche, o designer do 911, comentou que se soubesse que o motor podia ser aumentado de 2.7 litros, ele teria “decidido que o motor era desnecessariamente grande e pesado e teria pedido aos designers para diminuir o tamanho”, dizendo também que não se arrepende de não ter intervindo.

Fazer referência ao motor de seis cilindros de Mezger como se fosse apenas do 911 é quase injusto. Sim, este motor alimentava qualquer 911 de estrada ou corrida refrigerado a ar, mas também podemos ver evoluções deste em carros de competição, nomeadamente no 935, no 936, no 956 e no 962, bem como nas versões de estrada, corrida e rali do 959. O motor de Mezger não só provou ser forte e confiável, mas também extremamente competitivo e adaptável, estabelecendo assim que o seu design é uma obra-prima de engenharia.

909 Bergspyder

Mezger acreditava plenamente na filosofia da Porsche que automobilismo aperfeiçoava a marca, e que tecnologia de competição ajudava a criar melhores automóveis de estrada. Foi apropriado, então, quando o chefe da equipa de desenvolvimento, Ferdinand Piëch, deu a Hans o cargo de chefe de design de carros de corrida. Nesta função, Mezger dirigiu a criação do belíssimo motor do 906/Carrera 6, uma evolução do seu motor do 911, bem como do 910, 907 e 908, todos equipados com versões do motor Type 771, este sendo uma evolução do motor criado para Fórmula 1.

Um dos automóveis mais marcantes desta era foi o 909 Bergspyder. Este foi encomendado por Piëch para ser incrivelmente leve e pediu que fossem usados outro tipo de materiais para reduzir ainda mais o seu peso. Conta-se que Piëch inspeccionou cada peça usada na construção do automóvel com um íman para confirmar se tinha sido usado aço. Se o íman ficasse preso, os engenheiros a trabalhar na peça tinham de a construir com outro material.

A equipa de Mezger utilizou uma variedade de materiais não ferrosos no Bergspyder, incluindo um chassis de alumínio, uma carroçaria em fibra de vidro, suspensão em titânio e discos de travão em berílio. Apesar de berílio ser leve, forte e ter propriedades térmicas ideais para discos de travão, é também altamente cancerígeno.

Não foram só as escolhas de material que foram inovadoras, ideias para reduzir o peso estavam por todo o automóvel, inclusive a falta de uma bomba de combustível. Mesmo com o seu relativamente grande motor Type 771 de oito cilindros, o peso final do 909 Bergspyder era de apenas 385kg já com combustível e óleo, fazendo dele o automóvel de corrida mais leve da Porsche.

Porsche 917

A construção e design do motor do 911 foi, sem dúvida, um dos mais incríveis feitos de Hans Mezger, tendo em consideração as suas décadas de serviço à Porsche e o número incalculável de vitórias que trouxe à marca, tornando assim o design do Porsche 917 o segundo melhor feito do engenheiro.

Mezger não só trabalhou no motor do 917, todo o automóvel era da sua responsabilidade. Baseado apenas nos relatórios de pilotos que testaram o protótipo e as primeiras versões do 917, qualquer pessoa podia ser levada a pensar que o projecto era um falhanço. Era difícil de o conduzir numa linha recta e inconstante nas curvas.

Mas essa é apenas uma pequena parte da história do 917, pois este foi, com certeza, um carro de corrida extremamente bem sucedido. Em 1970, um 917 ganhou em Le Mans, dando assim à Porsche a sua primeira vitória em La Sarthe e começando assim o reinado da marca como melhor construtora no evento. Este modelo conquistou também sete vitórias dos oito campeonatos em que participou nesse ano.

Porsche 911 Turbo e 924 Turbo Rekordwagen

Depois do sucesso do 917, a Porsche pediu a Mezger e à sua equipa que criassem um automóvel com um turbocharger que pudesse andar na estrada, e assim nasceu, em Outubro de 1974, o 911 Turbo (930). Apenas alguns anos depois, a Porsche colocou um motor turbocharger no seu modelo 924. Para provar a capacidade deste coupé, a Porsche queria bater o recorde de velocidade média da Mercedes-Benz.

A tarefa de fazer com que o 924 Turbo fosse capaz de quebrar o recorde foi dada à equipa de engenharia de competição da Porsche. Enquanto que uma parte do departamento de automobilismo trabalhava na carroçaria do automóvel, Mezger e Schäffer começaram a trabalhar no motor.

O projecto estava a decorrer bastante depressa, mas não foi terminado a tempo. Enquanto a Porsche estava ainda a desenvolver o automóvel, a Mercedes conseguiu bater o seu próprio recorde, e como resultado disso a Porsche terminou o projecto Rekordwagen e Mezger focou a sua atenção em algo diferente.

TAG Turbo V6

Hans era um grande amante de motores com turbocharger e tinha as competências para os desenhar e criar. Então quando a McLaren pediu à Porsche para criar um novo motor para os seus carros de Fórmula 1, foi Mezger que ficou encarregue de o construir, e foi desse projecto que saiu o TAG Turbo V6. Apesar de ser um motor pequeno, este conseguia debitar cerca de 1000cv e ajudou a McLaren a conquistar 25 vitórias bem como os títulos de melhor construtora em 1984 e 1985.

M96/76, M96/70 e M96/70S “The Mezger”

O nome pelo qual é conhecido pode enganar, pois o “The Mezger” não foi construído totalmente pelo engenheiro. No entanto, este motor partilha tantos pontos comuns com os motores construídos por Hans Mezger que ninguém dúvida da sua influência no projecto.

Mezger reformou-se da Porsche em 1993, depois de ter trabalhado para a empresa durante 37 anos, mas os motores que desenhou continuam a ser um ponto essencial no ADN da Porsche. Durante a criação do GT1 de 1996 houve uma mudança na filosofia da Porsche, o motor deste modelo ia ser refrigerado a água. Apesar desta alteração no motor, qualquer pessoa familiarizada com o trabalho de Mezger consegue identificar os pontos em comum com o motor do 911 GT1.

Bastantes partes do motor do GT1 foram evoluções de tecnologias bem desenvolvidas e que ficaram provadas durante corridas, o que levou a Porsche a decidir que este modelo era a base perfeita para motores destinados para os 911 de alta performance. Neste grupo estavam incluídas as versões GT3, GT2 e Turbo do novo 996 911.

Estas três versões são conhecidas como os “The Mezger”, mas apenas o GT3 sobreviveu à mudança do 996 ao 997. Com 500cv e 8250 rotações por minuto, este motor foi uma excelente forma de terminar o legado de engenharia de motores de Hans Mezger.