O primeiro Alba, um automóvel português em 1952

ALBA é a designação da empresa criada em 1921, em Albergaria-a-velha, por Augusto Martins Pereira. Nos anos 50 seria a fábrica metalúrgica mais avançada em Portugal, com representação em Lisboa e no Ultramar. Mas ALBA é também o nome de um automóvel concebido e fabricado em Portugal, nos anos 50, exactamente na fábrica de Albergaria-a-velha. Martins Pereira nunca teve efectivamente ambição de criar uma fábrica de automóveis, apenas pretendeu construir um carro seu por “por pura distracção e divertimento” como refere anos mais tarde em entrevista, claramente influenciado por outros automóveis portugueses da época, como o FAP ou DM.

O primeiro automóvel ALBA foi desenhado e construído em 1952 por António Augusto de Lemos Martins Pereira, Francisco Corte Real Pereira, e Ângelo de Oliveira e Costa, sobre um chassis Fiat 508C, com o número 508-C-229808. Possuia um motor Fiat de 1089 c.c. modificado, para competir na categoria específica de Sport para carros com cilindradas de 750cc até 1100cc, tendo-lhe sido atribuida a matrícula OT-10-54.
O OT-10-54 foi tinha um chassis modificado na fábrica de Albergaria, de longarinas com travessas de reforço, com corte e inversão da traseira para reduzir o centro de gravidade e uma armação tubular para colocar a carroçaria e suspensão tipo Gregoire.
A carroçaria em alumínio estampado também em Albergaria-a-Velha, tipo barchetta de estilo italiano foi pintada de cor clara, com as riscas longitudinais amarela e azuis. De lado, um pato, desenhado casualmente por um funcionário e que Martins Pereira pintou na carroçaria.
Face à alteração de regras de limite de classe, pelo Automóvel Club de Portugal para o ano de 1954, foi consultada a Maserati para compra de um novo motor. O preço apresentado de 89 contos levou à resposta imediata de Martins Pereira: “por esse preço faço eu um!“
É então que é desenvolvido o motor ALBA 1500, com1490cc que podemos considerar como o auge da tecnologia automóvel portuguesa, desenvolvido inteiramente pelos mesmos três impulsionadores do projecto inicial.
Fundido em molde de areia na Fábrica de Albergaria, com 4 cilindros de inspiração Maserati, com 2 válvulas por cilindro, este o motor ALBA possui a configuração “Twin Cam”, com duas árvores de cames e a cabeça e duas velas por cilindro para optimização da combustão, sendo alimentado por dois carburadores Solex 36 com distribuidores Bosch fabricados propositadamente para o ALBA, e que ocasionou a deslocação de responsáveis da marca alemã a Albergaria.
Sem banco de ensaios disponível, o motor ALBA foi então montado numa armação metálica, e ligado, a um motor de arranque, que não era mais um motor eléctrico ligado por meio duma correia que guiava um tacho com uns parafusos encostados contra o volante. O primeiro arranque, com um som belíssimo, foi apenas pautado por um ruído metálico estranho provocado por um dos parafusos desapertado do tacho. “Nem parecia um motor de explosão, soava mais a um dínamo!” recorda Martins Pereira.
Em 1952, Francisco Corte Real Pereira leva o ALBA ao segundo lugar na categoria Sport de 750cc até 1100cc, na sua estreia no Circuito de Vila do Conde. Ainda no mesmo ano, o ALBA obtém o segundo lugar em Monsanto, para em 1953, obter a vitória no Circuito Internacional do Porto, na classe 1100.
Durante a I Taça Cidade do Porto, em 1953, o ALBA pilotado por Corte Real Pereira envolveu-se num aceso despique com o FAP de Abílio Barros, levando a ALBA a melhor a partir da segunda volta, vencendo a prova a média horária de 119,207km.
Martins Pereira, cumprindo o compromisso assumido com o seu Avô não participa em provas de velocidade, vencendo no entanto ao volante do ALBA o Rali da Montanha “A Mundial”, em em 1954. Em Agosto de 1955, vence o Rali a Guimarães e é vencedor absoluto do Rally do Vinho do Porto à Régua.
O ALBA OT-10-54 encontra-se no Museu do Caramulo no seu estado original, sendo propriedade de António Augusto de Lemos Martins Pereira, tendo participado recentemente no Caramulo MotorFestival, pilotado por Salvador Patrício Gouveia.
Mais informações em albaportugal.ning.com

Texto: Francisco Lemos Ferreira / Jornal dos Clássicos
Imagens: Francisco Lemos Ferreira