Rapide S: o Aston Martin dos crescidos

23/04/2018

Lançado em 2010, o Rapide foi apresentado no Salão de Detroit, como concept-car, em 2006 e a versão de produção demorou mais três anos, tendo sido apresentada em Frankfurt em 2009. Inicialmente a produção estava prevista ser feita na Áustria, mas quando o plano inicial de 2000 unidades/ano não foi alcançado, esta foi transferida para o Reino Unido em 2012.

Refira-se que em 2005 a Mercedes-Benz tinha introduzido o CLS com grande êxito, lançando o conceito de coupé de 4 portas. Os rumores eram que a Porsche estava a trabalhar num modelo com características semelhantes também, o que se veio a confirmar com o Panamera.

A Aston Martin abordou o conceito de uma forma diferente: partindo da base do DB9, resolveu dotá-lo de 4 portas, aumentando para isso a distância entre eixos em 246mm. O resultado é simplesmente fantástico. Enquanto os outros dois modelos citados podem ser considerados berlinas, embora com formas de coupé, o Aston é um coupé de 4 portas, um coupé com versatilidade acrescida.

A marca reclama para o Rapide o título de “O desportivo de quatro portas mais bonito do mundo” … e não anda muito longe da verdade!

Para um “quatro portas”, o Rapide é extremamente elegante, dir-se-ia que as formas originais não foram comprometidas, acrescentando a distinta vantagem de acessibilidade e espaço para passageiros adicionais.

Equipado inicialmente com o 6.0 V12 da marca, com 470cv de potência e com um binário de 600Nm, o Rapide foi alvo, em 2013, de uma serie de revisões, com a introdução da variante Rapide S, passando os números anteriores para 550cv e 620Nm.

Em 2015, com a introdução da caixa de velocidades Touchtronic III de 8 relações e mais alguns refinamentos, os dados reivindicados pela marca passaram para 552cv e 630Nm. Foi precisamente esta versão que nos foi dada a ensaiar.

A cor branca da carroçaria dá-lhe uma presença muito vincada, realçando-lhe as dimensões e as nuances de uma miríade de curvas tornam-se muito visíveis, algo que as cores mais escuras tendem a disfarçar. O interior, em pele azul, é de um bom gosto e de uma execução sem reparos, como é normal na Aston Martin. O espaço para os passageiros, nos lugares traseiros, é adequado e confortável, tendo dois bancos separados com uma consola central, à semelhança do que acontece nos lugares da frente.

Em movimento, o Rapide entrega tudo o que promete.

O ruído emanado pelo V12 permanece inalterado e ainda bem, sendo este um dos trunfos da marca. Tranquilo, mas poderoso, deixa antever que, se o condutor assim o desejar a dose de selvajaria está toda lá…como um punho de aço envolvido numa luva de veludo, perdoem-me a expressão, tal a capacidade de gerar acelerações e sensações intensas.

A direcção é extremamente incisiva e com bom feedback, permitindo ao condutor saber o que os pneus estão a fazer, permitindo a avaliação da capacidade de adesão destes, elevada, diga-se de passagem…transmitindo uma confiança algo rara para uma automóvel com este nível de performance. O equilíbrio do chassis é de uma fluidez assombrosa e de uma agilidade exemplar em mudanças de direção abruptas. O Rapide é daquele tipo de automóvel que depois de 15 minutos ao volante, parece que o conduzimos desde sempre.

A caixa de velocidades, extremamente rápida e suave, parece adivinhar as intenções do condutor, tal a facilidade com que seleciona a relação certa, no momento certo e, em modo Sport, simula o movimento de ponta-tacão, trazendo o regime do motor para a velocidade certa…fazendo virar umas cabeças dos transeuntes que acidentalmente assistam a esta demonstração de dotes de condução, mas o mérito vai todo para o Rapide e não para o piloto.

A velocidade aumenta sem se dar por isso, quase ilusória, sendo extremamente fácil rodar a velocidades elevadas com uma descontração quase total.

Há um detalhe curioso, neste modelo: o aumento da distância entre eixos, que á partida poderia parecer prejudicial, transforma-o, muito agradavelmente. Em primeiro lugar, o conforto acrescido é evidente, desde os primeiros metros de rolamento. Embora a suspensão seja firme, como convém, o conforto a bordo está a um nível bastante superior ao do DB9. Depois o comportamento… estes 246mm conferem ao Rapide uma benevolência, uma compostura e agilidade quase inesperada. Normalmente, seria de esperar uma ligeira perda em agilidade proporcional ao aumento de conforto, mas nada disso acontece aqui. É um caso raro de win-win.

Embora o facto de ter quatro portas possa fazer parecer que o Rapide é um Aston mais pacato desenganem-se. É tudo o que um DB9 é… e ainda mais.

Agradecemos a colaboração da empresa AML Sport SA, na realização deste ensaio.

Hélio Valente de Oliveira

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