Renault 18 Turbo, a revolução debaixo do capot

03/08/2020

EN SITUATION
Existem coisas que nos ficam gravadas na memória desde os tempos de infância. Sons, cores, cheiros, paisagens e, claro está, os automóveis! Nos miúdos, que desde logo são impelidos a brincar com carrinhos e a imaginar corridas, ou perseguições de polícias e ladrões, existem alguns exemplares que não saem da memória, mesmo que praticamente tenham desaparecido das ruas!

Quem teve a sorte de nascer e crescer entre os anos 70 e 90 terá, certamente, um bom punhado de memórias que o acompanhará pela vida fora. Aliás, arrisco-me a afirmar que grande parte dos compradores de automóveis clássicos, pré-clássicos, ou simplesmente “velhos” são pessoas dessa faixa etária.

A saudade, a nostalgia e lá está, a memória, ou as memórias. Hoje, a minha memória transporta-me para o fim dos anos 80 e início dos anos 90. Desde sempre que na minha família existiram automóveis franceses. O mítico e o mais exuberante era o Citröen DS, o famoso boca de sapo. Um veículo que acompanhou os meus avós desde Angola e ainda hoje existe e permanece na família. Renault 9, Renault 11, Renault 19, Citroën AX Gti, entre muitos mais. Mas, existia um modelo francês que nos enchia as medidas a todos! Sobretudo aos miúdos da família! O Renault 18 Turbo do Tio Nelo! Era qualquer coisa de extraordinário pela aura e um certo misticismo que o acompanhava. O Turbo estava sempre imaculado, guardado e longe dos olhares, pois era um automóvel pouco usado.

A curiosidade e a ansiedade tomavam conta de nós sempre que o tio vinha a Portugal e podíamos dar uma volta naquele “maquinão” que nos transportava com velocidade muito superior à que estávamos habituados, fosse para a praia ou para o Gerês! O conforto, a evolução técnica e a genica, aquela genica que nos tirava, por vezes, o fôlego!

Convém não esquecer que éramos crianças e todas essas sensações eram vividas no seu expoente máximo. Não queríamos saber de pormenores técnicos, nem de questões de subviragem, como alguns críticos ressalvam.

Para nós era um Renault 18 Turbo, cinza, com as letras que formavam a palavra Turbo escritas a preto, entre listas da mesma cor, na parte inferior das portas dianteiras, como que a desvanecer-se pela velocidade estonteante. Tinha os bancos dianteiros com bom encaixe e um manómetro de pressão do turbo junto aos botões dos vidros eléctricos e do relógio. Aquilo era logo um “avião”, mesmo que não fosse.

Claro que com 10 anos ninguém quer saber de características técnicas, mas a história encarrega-se de nos revelar tudo o que queremos, servindo de trampolim para a evolução. É assim na sociedade e no mundo, ou pelo menos é o que deve ser! Pegando na história, é tempo de revelar os segredos passados deste ícone gaulês.

O Renault 18 foi apresentado no Salão Automóvel de Genebra em 1978, tendo-se tornado num dos automóveis familiares mais bem-sucedidos da história da marca, substituindo o Renault 12 e o Renault 16, dando mais tarde origem ao Renault 21. Foi produzido entre 1981 e 1985 e era equipado com um motor de quatro cilindros em linha, com 110 cv de potência, movido a gasolina e contava com as jóias do turbocompressor Garret e o carburador Solx 32DIS. Contava com uma caixa de cinco velocidades, travões de disco à frente e tambor atrás.

A sua suspensão dianteira independente, tipo MacPherson, com barra estabilizadora e a traseira de eixo rígido, com braços oscilantes, molas helicoidais e barra estabilizadora, conferiam uma estabilidade e o conforto pedido a uma berlina familiar desportiva, que tinha uma velocidade máxima de 185 km/h e um consumo de 8.2 litros, em andamento simpático.

Em 1983, o Renault 18 Turbo viu a sua potência aumentada em 15 cv, passando a ter 125 cv, fazendo dos 0 aos 100 km/h em 9.5 segundos, contra os 10.5 segundos da versão anterior. Passou a contar com discos de travão atrás, conferindo uma maior segurança para reduzir a velocidade máxima que aumentou para 195 km/h, assim como o seu consumo, que facilmente chegava aos 16 litros, numa condução mais desportiva. Disse-me alguém, que conseguiu chegar aos 205 km/h, sem dificuldade. É bom que o pai não saiba!

O Renault 18 Turbo revelou-se uma berlina familiar turbinada, confortável, dinâmica QB, com interiores simpáticos e adequados à sua época, sendo discutível a sua qualidade, razão pela qual a degradação dos modelos existentes foi mais acelerada. Ainda contou com uma versão “break”, aumentando assim a sua capacidade familiar.

Este modelo e motorização chegou a ser usado pelas forças de segurança à civil do nosso Portugal, pois as suas características técnicas permitiam fiabilidade e performances necessárias nas eventuais perseguições.

Sem dúvida um salto de qualidade na marca francesa e uma ponte sólida para outros modelos Turbo.