Sabra Sport GT: O desportivo israelita

15/09/2022

A observação de aves, ou até de comboios, eram actividades algo vulgares nas décadas do passado, mas o presente parece adoptar uma nova forma de observação, ou no bom inglês, “spotting”. Similarmente às actividades anteriores, o “carspotting” é uma actividade na qual um indivíduo aprecia com interesse a observação ou captura por fotografia de veículos automóveis raros.

Encontrar um automóvel verdadeiramente raro torna-se um momento de celebração, e o veículo de que se trata, fosse ele um caso pessoal de observação, seria-o sem dúvida.

No final da década de ’50, Yitzhak Shubinsky fundou a Autocars Company Ltd. como o primeiro fabricante automóvel israelita. Fabricante talvez seja uma palavra demasiado contundente, particularmente se considerarmos que nos primeiros anos de vida a Autocars apenas fazia a montagem de veículos Hino Contessa e Triumph 1300, com vista ao lucrativo mercado americano para a vinda de muito apreciados lucros para o território.

Após algum período de incerteza, Shubinsky apostou na fabricação do Sussita, do Carmel, e do Gilboa, todos veículos económicos que alcançaram vendas a bom ritmo no mercado israelita, muito em parte graças ao facto de o governo os ter comprado em grande número para auxiliar o início da empresa, os quais seriam vendidos nos anos que se seguiram.

A epifania de Shubinsky chegou no salão automóvel de Nova Iorque de 1960, quando este decidiu enveredar por um trajecto diferente para a sua empresa: a produção de veículos desportivos. Contudo, Shubinsky tinha noção de que a capacidade para produzir um veículo do género era inexistente no seu país. Foi então que recorreu à Reliante.

Com a ajuda inicial da Reliant Motorcar Company (sim, os mesmos responsáveis pela infame Robin de apenas três rodas) a Autocars estrearia o Sabra no ano seguinte, no mesmo palco, no seguimento de uma parceria de advinha de anos anteriores, em que a Autocars confiava à Reliant a tarefa de trabalho com fibra de vidro.

Alimentado por um motor Ford de 1700 cc a debitar 61 cavalos de potência, o nome Sabra foi escolhido pois significava “nascido em Israel”, o que também influenciou o seu logótipo. Existiu ainda uma variação desta mecânica, com a designação “Alexander Kit”, que utilizava dois carburadores SU ao invés de apenas um carburador Zenith, e adicionava válvulas de melhor qualidade, o que potenciava o motor da Sabra para 90 cavalos de potência. A ambas as variações surgia associada uma caixa manual de quatro velocidades.

Os designers associaram uma carroçaria em fibra de carbono com um chassis Leslie Bellamy (ligeiramente modificado a partir do original do Ford Anglia), tudo componentes britânicos. Ao nível de suspensão, na dianteira era possível denotar a presença de molas Girling e amortecedores, enquanto que na traseira se destacavam um “live axle” com ligação Watts, molas Girlings, e amortecedores. Por travões, na dianteira estava equipado com discos, e na traseira com travões de tambor.

Apesar de a identificação destes veículos referir “Autocars Company Limited, Haifa, Israel”, a verdade é que os 144 primeiros foram montados pela Reliant em Inglaterra, em parte devido a atrasos na construção da fábrica-mãe em Israel. A produção foi eventualmente transferida para Israel, onde cessaria em 1967 devido à guerra dos seis dias. As encomendas realizadas foram cumpridas de qualquer forma, mas apenas entregues nos anos de 1968 e 1969. De uma forma interessante, a Reliant continuou a produzir uma forma sua do Sabra, que renomeou de Sabre.

Os Sabra, com as suas variações de Cabriolet e, mais tarde, de Coupé (mais rara), foram vendidos para além das fronteiras israelitas, com destaques para 144 com destino aos Estados Unidos da América e 81 com destino à Bélgica. Actualmente cerca de 100 Sabra são ainda rastreáveis, de um total de 379 unidades produzidas, estando um número considerável destes presente. Sem dúvida digno de carspotting.