Com um ligeiro toque de travão, pressiono a embraiagem, e antes de a largar volto ao acelerador momentaneamente, com o calcanhar, ao mesmo tempo que engreno a relação imediatamente inferior. O V6 à minha frente parece ter ficado satisfeito, a julgar pelo som que emite. Já sem o pé na embraiagem, ataco o pedal do volume á entrada da primeira curva à direita.
Apesar de reivindicar 225 cavalos, o propulsor parece ter mais, tal a resposta que disponibiliza e as relações da caixa de 6 velocidades serem curtas e muito pouco espaçadas, o que ajuda consideravelmente. Viro o volante na direcção da curva e a trajectória é cumprida ao rigor, sem drama, sem desvios. A suspensão, dura e muito incisiva, transmite os desníveis do pavimento, amplificados pelas baquets mais viradas para uma utilização intensiva, do que o conforto, tudo sem qualquer indicio de perda de aderência. Quase de seguida, viro à esquerda, para a curva mais complicada: muito longa e com o camber ao contrário do que seria de desejar.
A súbita mudança de direcção não afecta o comportamento e com um à-vontade invulgar, o Beetle crava os pneus no asfalto desenhando a curva com uma precisão que mais parece um slot-car. Ouço um pequeno queixume do pneu traseiro esquerdo, como que a avisar-me dos limites da suspensão. Logo de seguida, outra viragem à direita. A sensação foi…de que nem existia, esta ultima curva…fantástico.
Já na recta, a cada passagem de caixa, o Beetle salta para a frente com urgência, como que a dizer que a próxima curva tarda em chegar. Parece que a razão de ser deste automóvel é curvar depressa, dir-se-ia quase viciado em curvas…e viciante para o condutor, ao mesmo tempo!
Apesar das linhas exteriores não o evidenciarem, com umas formas que mais parecem ter sido feitas para uma utilização completamente lúdica e mais pacata, a Volkswagen conseguiu transformar o bonacheirão Beetle numa fera, tal a dose de temperamento, quase malévolo, que lhe conseguiu incutir.Mas o que fez a Volkswagen? Bom, o mais óbvio é o excelente V6. Não sendo um paradigma de potência hoje, nem o era na altura, este motor é de uma disponibilidade desconcertante.
Acho que mais redondo não podia ser. O equilíbrio entre binário e potência máxima está muito bem conseguido o que lhe confere uma faixa de utilização quase absoluta. O duplo escape Remus confere-lhe a agressividade e permite ao propulsor expressar-se mais de acordo com o tipo de utilização que o RSi exige.
Refira-se o trabalho posto no escalonamento da caixa, outra vez… perfeito! O sistema de tracção integral é o já conhecido 4motion utilizado no Golf e outros produtos da marca.
Depois temos os alargamentos das vias. Para o olho menos treinado e tendo em conta que as formas comuns do Beetle, pelo menos na zona dos guarda-lamas, já são bastante evidenciadas, o RSi tem 80mm de largura adicionais.
A suspensão foi redesenhada e reforçada principalmente na traseira, onde exibe orgulhosamente uma barra anti-aproximação na bagageira, e dotado de uma geometria mais vocacionada para uma utilização intensiva, leia-se eficácia acima de tudo. Em contacto com a estrada estão uns excelentes 235/40, emoldurados pelas jantes OZ de 18” de diâmetro.
A estética exterior faz lembrar o célebre Mulholland Look: uma serie de acessórios, em fibra de vidro, que fizeram as delicias dos apreciadores do Beetle original, na Califórnia no final da década de 1960…
O interior, já referido é quase todo revestido em fibra de carbono, com uma serie de inserções em alumínio. Desde os aros circundantes dos manómetros até aos puxadores das portas. Pormenor curioso, esta versão tem vidros manuais. Estou plenamente convencido que foi mais um pretexto para mais duas peças, as manivelas dos elevadores, em alumínio.
No interior ainda, destaque para as baquets, com um excelente apoio lateral, forradas a pele laranja. O conjunto confere a este automóvel um ambiente interior muito racing, que combina muito bem com o aspecto exterior. Suspeito ainda que a Volkwagen terá poupado uns metros/quilos em material insonorizante. Sem ser intrusivo, o ruído de rolamento é mais elevado do que um Beetle normal, o que não é defeito nenhum. Digamos que lhe realça as virtudes…
Tudo isto que a Volkswagen fez, independentemente poderá parecer o trivial, ou o normal para um automóvel destas características, mas, e é um grande mas, a conjugação e harmonização destas características é que fazem deste Beetle um driver’s car de se lhe tirar o chapéu…
Agradecemos a colaboração da Pep´s Gang (917 235 762/917 232 415) para a realização deste artigo.
Hélio Valente de Oliveira
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