Kalle Rovanpera: O mais jovem campeão nos ralis

22/11/2016

Kalle Rovanpera, que fez 16 anos há bem pouco tempo, venceu a última prova do Campeonato da Letónia de Ralis no seu Skoda Fabia R5 e confirmou o título nacional de ralis. Desde os oito anos que os adeptos dos ralis seguem Kalle Rovanpera no YouTube. Os anos passaram, e o filho de Harri Rovanpera já ganha campeonatos. Vamos conhecê-lo um pouco melhor…

O nome Rovanpera é há muito bem conhecido e muito respeitado no mundo dos ralis devido ao que Harri Rovanpera fez como piloto da Ford, SEAT, Peugeot, Mitsubishi e finalmente Skoda, nomeadamente pelo seu triunfo no Rali da Suécia de 2001. Agora, o nome Rovanpera está novamente a tornar-se famoso, e por uma razão fantástica. O filho de Harri, Kalle, tem sido uma enorme estrela do YouTube pelos seus feitos ao volante de carros desde os seus oito anos, e desde aí para cá não tem parado de evoluir ao ponto de, quando ainda tinha 15 anos, já estar imbatível no Campeonato de Ralis da Letónia, onde se tornou este ano campeão. Não estamos a falar de qualquer segunda divisão dos ralis na Letónia, mas sim do campeonato principal. Se não leu lá atrás, nós repetimos, o jovem Rovanpera tem 15 anos, se fosse em Portugal estaria a três anos de distância de tirar a carta. A Letónia é o único país onde o jovem Kalle pode competir a este nível contra os melhores pilotos, pois autorizam que nas provas possa rodar com o carro.

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É verdade que a Fórmula 1 ultrapassou um marco na história da F1 com Max Verstappen ao tornar-se no mais jovem de sempre a chegar à modalidade, com 17 anos, mas ou muito nos enganamos ou Kalle Rovanpera vai chegar ao WRC ainda mais cedo, pois já anda a ser ‘namorado’ pela Toyota e, com o que mostrou este anos aos comandos de um Skoda Fabia R5, não vai demorar muito a ter algum tipo de programa com a equipa gerida por Tommi Makinen, ou tal como sucede com Temu Suninen, vão colocá-lo a correr no WRC2 para ganhar ritmo até ser altura para ser promovido à Toyota.

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História de um futuro campeão

Kalle Rovanpera nasceu a 1 de outubro de 2000 e é filho único de Harri. Pedimos a Harri Rovanpera que nos contasse a história do seu filho até aqui: “Deixei de ser piloto profissional no fim de 2006. Nessa altura o Kalle fez seis anos, portanto ele tem memórias bem fortes do que o pai fazia para viver. Para além disso, ele sempre se mostrou muito interessado em andar em coisas com motor! Começou por andar a andar em pequenos quads – moto quatro – e em scooters. Ele já guiava motos com três anos, e os brinquedos que teve, sempre tiveram motor”, começou por contar Harri Rovanpera, explicando os primeiros tempos do seu filho e as primeiras ligações ao mundo dos motores. Logicamente, vindo de um país como a Finlândia e vivendo numa cidade como Jyvaskyla, o jovem Kalle tinha que saber muito sobre ralis, o que é confirmado por Harri: “É verdade, aparte de Marcus Gronholm, muitos dos pilotos de topo finlandeses são da área de Jyvaskyla”, confirmou.

Portanto, tendo em conta que o meio é pequeno, era natural que por vezes privasse com pessoas ligadas ao meio e tudo isso ajudou a que se inserisse ainda mais nos meios dos ralis. O primeiro carro a sério de Kalle Rovanpera foi um Toyota Starlet de tração traseira e ele ia muitas vezes treinar para um lago gelado no invernos e para vários locais no verão”. Como se sabe, estradas de terra é ‘coisa’ que não falta na Finlândia, pois tal como uma vez nos foi explicado, quando lá estivemos, asfalto só nas estradas principais, pois nas secundárias, tendo em conta que o inverno é rigoroso, e a maior parte do tempo o gelo e a neve cobrem as estradas, é preferível deixar as estradas em terra, já que é mais fácil para quem precisar de rodar andar em gelo e neve sobre terra, enquanto cima de asfalto há uma altura em que se torna muito mais perigoso. Sendo terra por baixo, nem tanto… Coisas que os portugueses têm certamente mais dificuldade em entender. “Numa dessas vezes em que o jovem Kalle foi rodar com o Starlet num lago gelado, fizemos uns vídeos e uma vez mostrei a uma pessoa da TV na Bélgica e ele colocou o vídeo no YouTube e a partir daí tornou–se viral”. O vídeo é de 2008, e pode vê-lo no artigo de Kalle Rovanpera no nosso site. A partir daqui houve muito adepto dos ralis que nunca mais perdeu de vista o jovem piloto. Curiosamente foi através do YouTube que o fizeram, na maior parte dos casos.

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À boleia nas ligações

A Letónia é o único país em que é possível ao jovem Kalle Rovanpera correr em ralis com apenas 15 anos (já fez 16), numa situação que encerra uma curiosidade: Quando mostrámos interesse em fazer ralis a sério, comprámos um Citroën C2 R2 Max e de momento a Letónia é o único país onde se pode competir como piloto de ralis, mas o Kalle só tem autorização para competir nas especiais, e é o Risto (Pietiläinen, o meu antigo navegador) que guia nas ligações e estradas públicas. Quanto aos reconhecimentos, começámos por ser eu a fazer as notas. Fazia as notas básicas na primeira passagem e na segunda o Kalle mudava o que queria, mas desde o início deste ano ele faz as suas próprias notas desde o início. E pelo que se vê ele é bom nisso! Hoje em dia já é tudo seu trabalho. Ele gosta de fazer tudo”, disse Harri Rovanpera, que explicou depois a passagem do pequeno Toyota Starlet para o C2, com grande pulo para os Fabia de quatro rodas motrizes: “No ano passado ele venceu a categoria Open de duas rodas motrizes na Letónia, e o passo lógico eram as quatro rodas motrizes. Como ele já tratava por tu o C2, pediu para experimentar um 4×4, pelo que falámos com o Toni Gardemeister, que na altura tinha um S2000 disponível. Esse era um bom carro para começar, mas durante o verão passou a haver a possibilidade dele ter um R5 em alguns eventos, pelo que decidimos avançar para o R5. O carro era um novo modelo, com muita coisa diferente, mas da mesma classe e por isso foi possível ao Kalle trocar de carro durante a competição. Na Letónia, os troços são muito rápidos e a velocidade máxima do S2000 não era suficiente em alguns eventos, mesmo sendo um grande carro. Ele testou o novo carro e aprendeu todas as diferenças muito depressa, sobre o carro e o motor. Tudo foi excelente! Curiosamente, o R5 não é mais rápido em todo o lado, por exemplo em troços sinuosos ou mais técnicos, mas em especiais mais rápidas o R5 é melhor. Depende das áreas dos ralis na Letónia. Há muitos tipos de estradas, mas em termos globais o R5 é muito bom”, disse.

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A história mais recente relativamente a Kalle Rovanpera foi o facto de ter pilotado o novo Toyota Yaris World Rally Car. Como isso sucedeu, perguntámos a Harri: “O Tommi (Makinen) perguntou se o Kalle estava interessado em testar o Toyota e nós, claro, sim, por favor, seria muito bom! Ele fez todas as verificações, como seria normal em qualquer outro carro. Quando estava no carro e o ligou, foi a fundo, deu tudo o que sabia. Ele gostou bastante, não teve absolutamente medo nenhum, o teste correu muito bem mesmo que não tenha feito mais do que 20, 30 quilómetros ou algo assim. Foi um bom primeiro teste com um World Rally Car. Foi o primeiro piloto a experimentar um dos novos World Rally Car”, revelou Harri Rovanpera.

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Como se percebe, os feitos do jovem Kalle Rovanpera já chegaram aos olhos e ouvidos dos responsáveis pelas equipas do WRC, e Tommi Makinen é para já o único que já tem uma ideia do que pode valer o jovem Rovanpera. Contudo, o ‘pai’ Harri mantém os pés no chão: “Estamos muito calmos, não vamos forçar nada. Estou a ouvir as suas ideias e a pensar no que podemos fazer., como tudo pode correr, passo a passo, não há pressas. Não quero que a vida do meu filho seja apenas os ralis, pois ele gosta de fazer muitas coisas diferentes e isso é normal. E depois há a escola e tudo o mais. Os ralis são o seu passatempo, que ele adora, mas a verdade é que ele é mentalmente muito maduro. Não tem uma mentalidade de criança, que se pode imaginar de um jovem com essa idade. Muito diferente do que eu era com a idade dele. Ele pensa muito nas coisas e é inteligente”, revelou Harri Rovanpera que já percebeu ter ali uma excelente saída de futuro para o seu filho, mas quer, muito naturalmente que os passos não sejam apressados, ao fim ao cabo já se está a falar de WRC, do ‘novo’ WRC.

De qualquer modo, já poucos duvidam que está aqui o novo prodígio dos ralis, imagine-se se continuar a dar os passos certos, o que pode fazer quando chegar aos 18. Como curiosidade, quando o jovem Kalle nasceu, a 1 de outubro de 2000, Sébastien Loeb estava na Córsega a realizar o seu primeiro rali do WRC…num World Rally Car. Desde esse dia, os franceses começaram a ‘roubar’ aos finlandeses a primazia nos ralis, primeiro com Loeb, depois com Sébastien Ogier, mas em Jyvaskyla nasceu uma estrela que acabou de completar 16 anos. Será que nasceu a nova geração de finlandeses voadores? O tempo o dirá….

Martin Holmes c/ José Luis Abreu (Autosport)

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