Assim, partilhamos as 10 estradas que, na nossa perspetiva, se tornam imperdíveis pela sua beleza singular e nas diferentes épocas do ano. Facilmente nos fazem querer ir mais devagar, parar para tirar algumas fotografias ou até, quem sabe, aproveitar algumas curvas de forma mais empenhada. Aproveite e faça a viagem, seja de moto, carro, bicicleta, autocaravana, a pé… ou mesmo só virtual!
O levantamento começa de Norte para Sul e restringe-se a Portugal a Continental, embora em termos paisagísticos os arquipélagos dos Açores e Madeira sejam praticamente imbatíveis e mereçam uma crónica só para si. Esta listagem reflete uma perspetiva mais pessoal, alicerçada nos gostos pessoais e na preferência por encantos paisagísticos em que a presença humana não se faz notar tanto, o que leva a reduzir o leque de escolhas, evitando áreas mais urbanizadas.
Em alguns casos, como a Nacional 2 que rasga Portugal de Norte a Sul pelo Interior, são estradas muito extensas pelo que se optou por destacar dois ou três troços em particular. Por opção, lógica, fugimos sempre que possível às vias rápidas ou autoestradas.
Venha de aí fazer esta viagem connosco e veja se já conhece todas estas estradas ou parte delas. Não nos preocupámos com a classificação da mesma ou até se já foi desclassificada. O mais importante é o que a estrada e o que a circunda têm para nos oferecer. Poderão existir alguns troços que se confundem com estradas municipais, de gestão camarária, sendo algo que não relevamos aqui, embora haja muitas que o mereçam, caso da M 1109, que aproxima São Torpes de Porto Covo e é magnífica.
Nacional 221: Une Miranda do Douro à Guarda
A EN 221 tem cerca de 184 Km de extensão. Percorre e atravessa os municípios de Miranda do Douro, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e termina na Guarda, a cidade mais alta de Portugal, a tal dos 5 Fs: Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa.
Toda a estrada é uma maravilha da natureza e que o homem soube aproveitar, sendo que tem ao longo do trajeto vários miradouros fantásticos (mais de uma dezena). Se tiver tempo, é obrigatório ir visitar a Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo.
Torna-se difícil apontar um ou mais troços favoritos, mas o troço que antecede e sucede à passagem do Rio Douro em Barca de Alva, aparte a beleza esmagadora, tem umas curvas maravilhosas e que são uma tentação, sobretudo para deleite em duas rodas.
Também a zona “Excomungada” (como é conhecida) que une Figueira de Castelo Rodrigo e Pinhel é de um encanto que nos deixa facilmente sem fôlego, mas por outro motivo. Afinal de contas são mais de 100 curvas em pouco mais de 20 quilómetros. Haja estômago!

N 2: Liga Chaves a Faro
Garantidamente é a mais popular e badalada das estradas nacionais. Tem cerca de 638 km’s e atravessa 35 concelhos. Muitos já a percorreram mais que uma vez, mesmo que não na totalidade, acabando sempre por descobrir coisas novas não apenas no trajeto em si, mas também na gastronomia, na história ou tradições.
Mais complexo é eleger um troço que se destaque por ser verdadeiramente fotogénico ou que tenha algo realmente singular. Além de que dar destaque a uns implica não dar a outros.
Apesar disso, na nossa perspetiva, há vários a realçar. Todo o troço que abrange o Douro Vinhateiro é de uma beleza ímpar, mas há mais. É o caso do percurso que percorre a Serra do Açor, nomeadamente entre Góis e Pedrógão. Também a Serra do Caldeirão, já no Algarve é magnífica, sendo que boa parte do destaque vai para as suas inúmeras curvas, perfeitas para “arredondar” os pneus à moto.
A destacar ainda mais um pequeno troço, fica a sugestão entre Sardoal e Vila de Rei, mas pelo traçado original de cerca de 20 km’s e não pela Variante que é muito mais rápido, mas não tem graça nenhuma. Paragem obrigatória no Penedo Furado, com visita ao miradouro, cascata, os passadiços e, porque não, um mergulho. Se houver tempo, um desvio para visitar a aldeia de xisto da Água Formosa pode constituir uma bela surpresa.

Nacional 222: Junta Vila Nova de Foz Côa a Vila Nova de Gaia
Todo o seu trajeto é moldado pelo Rio Douro, sempre na margem sul e segue todas as suas irregularidades, fazendo inúmeros “S”, ora mais perto da margem, ora mais longe, consoante o relevo do terreno.
Fazendo a viagem a partir de Gaia ficamos mais afastados do rio que no sentido oposto e pode implicar ir para o lado da faixa contrária para aceder aos vários miradouros. Em contrapartida a perspetiva é, em vários troços, ainda mais gratificante e arrebatadora.
Naturalmente que o troço mais popular é o que liga o Peso da Régua e o Pinhão e há boas razões para isso, mas não se deixe enganar porque toda a estrada é encantadora, mesmo naqueles troços em que se afasta um pouco mais do rio. Ótima para ser visitada em qualquer altura do ano (as tonalidades e cores alteram-se bastante) pode haver, nomeadamente no Inverno, alturas em que o nevoeiro e a neblina lhe retiram alguma magnificência porque o que a nossa vista alcança acaba por ser menor, mas continua a ser um espetáculo de beleza delirante.
Nacional 301: Aproxima S. Gregório (na fronteira com Espanha) a Caminha
É conhecida, muitas vezes, por ser a “estrada do rock” ou a “estrada dos festivaleiros” e não é para menos. No irregular percurso passa por Vilar de Mouros e Paredes de Coura, locais de culto para os amantes do rock e da música em geral, sendo local de passagem obrigatória há mais de 50 anos. Aliás, a primeira Edição do Vilar de Mouros foi em 1971 e era cabeça de cartaz um jovem de nome Elton John!
Toda a estrada é de um verde sublime e a destacar um troço, é logo o que une Caminha até Ribeirinho, sempre com o Rio Coura por perto. A beleza natural é de tal forma intensa que quase somos esmagados.
A destacar mais um troço, é inevitável apontar para toda a região da Peneda-Gerês, um parque da biosfera que continua a ser motivo de orgulho para todos nós e mostrar que, apesar de tudo, ainda somos capazes de respeitar a natureza e de a preservar num estado quase puro. Para os amantes da natureza em todo o seu esplendor esta região é verdadeiramente imperdível, tanto ou mais que a estrada para lá chegar.
Estrada Nacional 230: Liga Covilhã (Tortosendo) a Aveiro
Uma nota prévia, de acordo com a informação recolhida, esta estrada sofreu alterações em termos de regionalização e, na atualidade, considera-se que apenas une a Covilhã a Oliveira do Hospital.
É, nesta perspetiva, uma matéria pouco relevante até porque começar ou terminar a viagem na “Veneza de Portugal” é sempre uma excelente opção, embora os troços mais idílicos da N230 sejam mais para o Interior, já dentro da magnífica área que compõe o Parque Natural da Serra da Estrela.
Começando a partir de Tortosendo, bem no concelho da Covilhã, o troço até Unhais da Serra é esplendoroso, no mínimo. São menos de 20 km, mas é perfeitamente natural que se sinta tentado a parar mais que uma vez, tal a beleza da paisagem e as vistas… a perder de vista, sobretudo se não existir nevoeiro!
Daqui em direção a Oliveira do Hospital, tendo sempre o maciço da Serra da Estrela por companhia, há um troço muito interessante para percorrer, sendo que a Ponte das Três Entradas é paragem obrigatória. Se for com algum tempo, um desvio para ir a Piódão justifica cada metro percorrido, mas atenção às curvas que vai encontrar no trajeto.
Nacional 230, 338 e 339: aproxima Seia da Covilhã
O Parque natural da Serra da Estrela é demasiado bonito e espetacular para referir apenas uma só estrada pelo que a N 230 não era suficiente, tal como a N 338 também não chega e se socorre da N 339 para abarcar mais do maciço central que é toda esta magnífica região.
Tomando como ponto de partida o ponto mais alto de Portugal Continental (conhecido simplesmente pela “Torre”) existem três trajetos que servem para mostrar a natureza em todo o seu esplendor e em qualquer estação do ano, exceto se as estradas estiverem cortadas devido à neve.
O troço que liga a Torre a Seia é de uma beleza sobrenatural. Se o percorrer, não se esqueça de aproveitar os vários miradouros e de uma paragem mais que obrigatória na Aldeia Mais Alta de Portugal, ou seja, no Sabugueiro.
Da Torre em direção a Manteigas a beleza não é inferior, nem as curvas que vai encontrar. A ter de destacar um ponto de paragem pelo caminho, a sugestão é mesmo no local onde se situa a nascente do Rio Zêzere. Deixe o seu veículo e faça uma caminhada, talvez até um picnic e não se esqueça de deixar tudo tão limpo como encontrou.
Por último, vá da Torre em direção à Covilhã. Também neste trajeto as vistas são sublimes, mas muita atenção à estrada e aos travões do seu veículo, mesmo que esteja bom tempo vão ser muito solicitados e usar o motor para ajudar na travagem é uma decisão sensata, tal como fazer uma paragem, por exemplo, no Miradouro da Varanda dos Carquejais.
Estrada Nacional 247: aproxima Peniche a Cascais
Apesar de ser uma via no litoral, com vários troços próximo do mar e de a natureza ter sofrido muito com a ação do homem, a verdade é que continua a guardar muitas das belezas que a caraterizam e fazem dela uma escolha incontornável. Se possível, evite os meses de julho e agosto.
Logo em Peniche pode sempre aproveitar para dar uma escapadinha às Berlengas, mas vamos rumar a Sul, sendo que vai fazer parte do trajeto próximo da costa e percorrer os caminhos usados por surfistas do mundo inteiro para chegar a praias como Supertubos, Areia Branca ou Pescadores.
Paragem obrigatória na Ericeira e daqui volte a seguir junto à Costa rumo à Serra de Sintra, apesar da estrada, durante parte do trajeto, fazer um longo desvio para o Interior, afastando-se muito do mar. Em Sintra há tanto para ver e fazer que se torna difícil deixar só uma sugestão. O melhor mesmo é partir à descoberta, mas a Serra é magnífica.
Vamos agora para o terceiro troço da N 247 e, possivelmente, o mais badalado, nomeadamente na zona do Cabo da Roca e, um pouco depois, a beleza sem igual do Guincho que, tantas vezes é aproveitado para sessões fotográficas, tal como o troço que une Malveira da Serra e Linhó (o tal da Lagoa Negra). Do Guincho até Cascais há ainda muito para ver, com destaque para a Boca do Inferno, mas atenção que é um troço muito concorrido, sobretudo aos fins de semana.
Estrada 379 (1 e 2): Liga o Cabo Espichel a Palmela
Esta estrada é um claro exemplo do processo de reorganização e (des)classificação que a nossa rede viária foi sofrendo ao longo dos anos, mas o mais importante é que este trajeto de menos de 50 km tem alguns dos troços mais encantadores que podemos conhecer e vamos proceder à sua divisão em duas partes distintas:
A primeira parte, tomando como ponto de partida o Cabo Espichel, é curtinha e vai apenas até Santana, sendo que o grande destaque vai obviamente para o Cabo e a região circundante, seja para Norte ou para Sul. Com tempo favorável a vista é quase infinita e Lisboa parece que fica quase ao lado, tal como o Litoral Alentejano.
De Santana rumamos a Azeitão, mas cortamos em direção à Serra da Arrábida e entramos numa estrada quase encantada, tantas vezes usada para filmagens, reportagens ou testes de motos e carros. Por falar em automóveis, nomeadamente no período do verão é natural que existam restrições nos trajetos mais próximos das praias.
Para chegar às praias do Portinho da Arrábida, Galapinhos ou Figueirinha o melhor mesmo é usar os transportes públicos ou, por enquanto, circular de moto, já que estes veículos ainda não conhecem restrições no acesso, algo que pode mudar a qualquer instante. As vistas são soberbas, nomeadamente no miradouro do Portinho da Arrábida (bem perto do Convento) e as águas destas praias muito convidativas. Se tiver tempo pode sempre apanhar um ferry em Setúbal e rumar a Tróia e depois seguir para Sul. Vai valer a pena.
EN 118: Liga Alcochete a Alpalhão
Esta estrada é relativamente extensa, são cerca de 200 km, e carateriza-se por uma grande diversidade no seu percurso, sendo que corre sempre pela margem Sul do Tejo. Não tem, em termos de curvas, o encanto de muitas das outras estradas enunciadas (tirando talvez o troço que une o Tramagal ao Rossio ao Sul do Tejo), mas sua ligação umbilical ao rio, outrora ponto fundamental para abastecimento da capital, faz dela uma visita obrigatória.
Começa logo em Alcochete, que agora está na berlinda por causa do seu projeto para o futuro aeroporto, e vai depois rasgando o Ribatejo entre campos agrícolas, aldeias avieiras, lezírias, vinhos, cavalos, touros e muito mais.
Sobretudo nas alturas de maior atividade agrícola implica cuidados redobrados na condução, tal a quantidade de máquinas agrícolas de todos os tamanhos e feitios, mas os pontos de interesse que tem e os encantos que oferece, caso do miradouro para o Castelo de Almourol, valem cada quilómetro.
Ao abandonar o concelho de Abrantes, começa Gavião, no Alto Alentejo, que nos leva até Alpalhão, já no concelho de Nisa. Tão perto já da estrada que liga Castelo de Vide (N246-1) em direção a Portagem e daí, com um pequeno desvio a Marvão, sem antes deixar de passar pela conhecida e magnífica Alameda dos Freixos, mas essa estrada já fica para outra vez e pode servir de desculpa para continuar a sua “Road-Trip”, a partir de Alpalhão.
EN 124: Une Portimão a Alcoutim
Chegámos ao algarve. A EN 124 é mais um exemplo de uma estrada que foi sofrendo alterações, foi desclassificada e perdeu relevância, mas vamos considerar o traçado original que ligava Portimão a Alcoutim, ou seja o Barlavento ao Sotavento, numa lógica de alternativa à N 125, bastante mais pelo interior serrano, com curvas e paisagens de postal, nos seus cerca de 140 km.
Os destaques desta estrada, que apresenta um Algarve rural, profundo e desertificado são vários e é preciso tempo e vontade para a explorar, mas deixamos dois troços que valem bem a pena, não querendo desmerecer todos os outros.
Passando por Silves e S. Bartolomeu de Messines eis que chegamos a Alte e começa o parque de diversões que são as curvas da serra. A beleza da paisagem é magnífica, mas o serpentear das curvas é sublime, tal como os locais para petiscar, parar e tirar umas fotos ou, simplesmente, sorver o ar da serra em grandes golfadas.
Continue por esta estrada, sempre em direção a Alcoutim e ao Rio Guadiana, e aproveite o Barrocal Algarvio. Aproveite, talvez, para fazer uma paragem na localidade de Cachopo ou de Martinlongo, mas com a certeza de que está a percorrer um Algarve bastante diferente daquele que a maioria das pessoas conhece. Em bom rigor a “extinta” EN 124 não chegava mesmo a Alcoutim, mas isso não é problema porque a viagem vale tanto a pena que isso são pequenos detalhes.