O Desafio

Já tinha lido sobre a X-ADV, sobre o conceito SUV com que a Honda a intitula, já tinha escrito algumas linhas sobre a mesma, sem a conhecer e apenas por aquilo que a moto me despertava e pelas características que a marca disponibilizava.

A ideia inicial da Honda Itália, ao fim de 3 anos de investigação e desenvolvimento, tinha ganho forma e tinha-se tornado realidade. Uma Scooter com a qual se pudesse fazer quase tudo, ir por quase todo lado, aventurando-nos por caminhos nunca antes percorridos por uma moto com estas características. Parecia que tinham inventado a moto perfeita, um verdadeiro SUV citadino de 2 rodas com vontade de morder o pó de vez em quando e com capacidade para viajar comodamente.

A ideia e o conceito pareciam ganhadores, um motor com potência QB, uma electrónica em consonância com as características de utilização da moto, roda da frente de 17”, o que numa scooter é garantia de maior estabilidade, volante alto e largo tipo trail, banco confortável para piloto e passageiro, um porta bagagens debaixo do banco de dimensão considerável e uma estética moderna, diferente, contemporânea mas vanguardista, com aquele look “Guerra das Estrelas”, a deixar-nos a pensar que existe também um botão para recolher as rodas e voar pelo espaço.

Posso dizer-vos que a minha curiosidade era imensa, queria saber exactamente se na prática todas as características e atributos reivindicados pela Honda fariam sentido e tornavam a X-ADV numa moto especial, única no género.

Já tinha sido a apresentação oficial na Sardenha, na qual não pude estar, e aguardava ansioso as impressões dos meus congéneres, dos media internacionais do sector, para perceber qual era realmente o potencial deste novo SUV de 2 rodas. Eis se não quando, num telefonema da Honda Europe Portugal, me vêm colocar o desafio de ir a Espanha fazer um teste de 2 dias à famosa X-ADV, com um grupo de jornalistas da especialidade, portugueses e espanhóis… É para já.

Passados uns dias, e de equipamento às costas, vôo direito a Barcelona para participar nesta fantástica iniciativa onde obviamente, durante 2 dias, iria colocar à prova todos os atributos da “mota do futuro”… tal como eu a imaginei e a comecei a chamar.

Prognóstico metereológico era algo reservado, com temperaturas entre os 9 e 14 graus e possibilidade de chuvas e trovoadas. Bom, nada de mais, pensei eu, para quem já fez Portalegres de 500Kms com chuva torrencial e lama pelos joelhos, isto vai ser “peaners”, como dizia o outro.

Test Drive

Depois de uma noite bem dormida num hotel de Barcelona e em estado “full equiped” para o que desse e viesse, blusão e calças impermeáveis da Macna, e botas Falco de soft TT, lá nos dirigimos, 11 jornalistas, 9 espanhóis e 2 portugueses, às fantásticas instalações da Honda, situadas num polígono industrial ali perto.

Chegámos e as X-ADV estavam todas alinhadas, nas 3 cores disponíveis, cinza metal, vermelho com riscas pretas brancas, e uma branca tricolor, exactamente as mesmas cores das Africa Twin. Existe também uma quarta cor em cinza mate.

Primeira impressão a de uma moto grande, que não parecia uma scooter, nem qualquer outra mota… talvez uma mota de água com 2 rodas, ou uma moto anfíbia que se transformava em Jet, pensei eu… mal sabia que a água seria mesmo um dos elementos mais presentes nesta experiência.

Bom, após um briefing sobre as suas funcionalidades, como arrancar a mota, com Smart Key no bolso e apenas rodando um botão para a posição on, caixa manual ou automática com transmissão DCT ( Dual Clutch Transmission ), caixa de 6 velocidades, a mesma que incorpora a Africa Twin, mas adaptada à X-ADV e com 4 possibilidades distintas, uma D normal mais longa e para uma condução mais descontraída e 3 modos S de Sport para uma condução mais desportiva ou agressiva.

Como a aventura se iria desenrolar em dois dias pediram-nos para levar apenas uma muda de roupa e o mínimo indispensável, na própria mota, e que só voltaríamos às instalações da Honda no final do dia seguinte. E assim foi, tinha preparado uma mochila e um saco com acessórios para a mota, um par de luvas mais quentes, uma aranha para o caso de a mochila não caber debaixo do banco e um fato de chuva, não fosse o diabo tecê-las. Primeira surpresa, coube tudo debaixo do banco !!!

Alinho os retrovisores, subo o vidro dianteiro, função que propositadamente só é possível fazer com as duas mãos para evitar fazê-lo em andamento ( está desaconselhado…mas pode-se fazer ), coloco em modo automático em D para começar e aí vamos nós. Segunda impressão acelerador de tacto sensível mas depressa nos habituamos.

Uma fila de 12 motos com uma Africa Twin na frente, pilotada pelo nosso guia, que nos iria levar pelos primeiros 350 Kms… É pá, não me tinham dito que eram tantos, logo assim de rajada e numa Scooter ou num SUV com 2 rodas… Vamos lá então.

Como bom português e sem feitio para rolar na cauda dos “nuestros hermanos”, decidi colocar-me logo de início atrás da Africa Twin do guia…assim não me “perco”, pensei eu. Os primeiros kms foram de auto-estrada. Comportamento excelente, cómoda, sem vibrações, boa proteção ao vento, espaço amplo para os pés e um pequeno pormenor que faz muita diferença, seja para conduzir fora de estrada, seja para esticar e descomprimir as costas colocando-nos em pé na mota…. São umas peseiras opcionais, fabricadas pela Rizoma, disseram, que se montam atrás das plataformas para os pés, numa posição que nos permite recuar o corpo e retirar peso da roda frente, típicamente de enduro, em que os joelhos encostam ao banco precisamente no ponto onde é mais estreito. E de vez em quando, ao atravessar os “pueblos”, a velocidade mais reduzida, depois de 100 ou 150 kms seguidos, esticar o corpo era mesmo uma benção.

Mais à frente estava um fotógrafo à nossa espera, num local belíssimo, como aliás retratam as fotografias, e onde decorreu a sessão. Na estrada e fora dela, já que um estradão de terra que dali saía para o interior nos permitiu ter o primeiro contacto de todo terreno com a X-ADV. Aqui as peseiras de enduro da Rizoma mostraram porque são um acessório indispensável. A X-ADV não é uma mota de enduro, nem pretende ser, e apesar das suspensões terem um curso superior ao normal, de cerca de 150 mm, acusam o peso da mota de 236 kg ( e a somar o do piloto também ), os limites revelam-se rapidamente, como pude comprovar. No entanto com a X-ADV podemos facilmente circular por estradões e corta fogos e fazer algumas habilidades em TT impensáveis com qualquer outra scooter, ou mesmo outras motos de estrada.

Os pneus revelaram um bom grip em terra seca e firme, foram especialmente desenhados pela Bridgestone para a X-ADV e são de desenho praticamente idêntico aos da Africa Twin. Mas foi no alcatrão e em estrada onde estes afirmaram todo o seu potencial.

Logo a seguir à sessão fotográfica arrancámos para percorrer os próximos 150 Kms que seriam de serra, por entre penhascos e arvoredo, em piso bastante bom, com aderência a facilitar o regime ao limite em que passámos a rodar. Aí decidi dar passo a dois espanhóis que à minha frente curvavam a raspar peseiras e quase de joelho no chão… Pouco a pouco fui sentindo segurança, sobretudo dada pelo excelente desempenho da mota em curva e pelo comportamento excepcional dos Bridgestone que, apesar do perfil misto, se revelaram de uma aderência e comportamento ímpar.

O ritmo era já estonteante, com alguns a abrandar e a deixarem-se ficar lá para trás, até que chegámos à surpresa do dia, anunciada mas apenas revelada quando chegámos à margem do Rio Ebro. Havia uma antiga barca jangada que nos aguardava para podermos cruzar o rio com as motas. De seis em seis atravessámos com as X-ADV mais parecendo que estávamos em plena aventura na selva Amazónia. Uma experiência bem engraçada que nos permitiu descomprimir depois do ritmo competitivo que trazíamos e que obrigava a uma concentração e empenho extras.

Durante a travessia começou a chover e rapidamente vestimos os fatos de chuva preparando-nos para o pior. Faltavam ainda perto de 100 Kms para o nosso destino e o céu estava a ficar de um azul escuro quase negro, anunciando que aí vinha borrasca.

Mal arrancámos a chuva começou a cair e a aumentar de intensidade a cada km, o fato de chuva que levava da Macna portou-se impecavelmente e cheguei sequinho ao nosso destino.

Choveu copiosamente durante a próxima hora, com trovões e relâmpagos no horizonte que compunham um cenário de tempestade quase perfeita. Reduzimos andamento mas a X-ADV continuava a desafiar tudo e todos, impondo a sua própria natureza de aventureira sem limites. O facto de ser “scooter” aumentava a nossa proteção e diminuía a exposição à chuva e ao rasto de água levantado pelos carros e camiões que circulavam à nossa frente… nada que pudéssemos recear enfrentar tal era a sensação de confiança e à vontade que nos transmitia a nossa montada.

Chegámos ao nosso destino, com a chuva a dar-nos descanso e com um pôr de sol sem nuvens no horizonte que iluminava com uma luz quente um vale de prados verdejantes. Este foi o cenário que nos brindou o Hostal construído numa antiga casa rural, recuperada de antigas construções que datam do Séc.XV, onde pernoitámos e recuperámos forças para o dia seguinte.

O Motor

 O motor da Honda X-ADV é o mesmo que já montava a Scooter Honda Integra, de 2 cilindros em linha e de 745 cc com 55 CV de potência, talvez algo curto se considerarmos todo o potencial e comportamento dinâmico da mota, mas que garante um consumo de menos de 4 litros aos 100 Km. Considerando que o depósito leva cerca de 13 litros temos uma autonomia de cerca de 350 Kms. O roncar do escape da X-ADV é possante, apesar de a moto já estar de acordo com as limitações do Euro4.

Apesar de algo contido na sua potência, o desempenho dos seus 55cv está muito bem conseguido e optimizado graças a uma caixa de 6 velocidades, ao sistema de embraiagem dupla DCT e a uma diferente configuração da sua entrega de potência em relação à Integra.

Adaptação e condução

A X-ADV apesar de ser uma mota pesada é extremamente ágil de conduzir e uma vez em andamento mais parece uma 400 que uma sete e meio. Graças também ao seu guiador largo, que provém da CrossTourer, a facilidade com que se conduz o SUV da Honda é realmente de elogiar.

No primeiro dia tive alguma dificuldade em me adaptar aos modos Sport da caixa pois em percursos sinuosos de serra e com muitas curvas e contra curvas, descidas e subidas, acelerações e reduções, a caixa DCT parecia ter vontade própria e mudava constantemente de mudança de forma inesperada, razão pela qual optei por rodar mais solto em modo normal “D” e sempre que necessário utilizar os shifters manuais para subir ou descer, conforme as situações requeriam, modo que se revelou extremamente eficaz e ao qual me adaptei com muita facilidade, permitindo inclusivamente uma condução mais agressiva e solta durante os percursos de serra.

Gostei muito da polivalência da X-ADV e do conceito SUV manifesto no seu desempenho. Gostei do conforto que a mesma proporciona e do resultado em termos de desgaste físico, de após 350 Kms percorridos, não sentir qualquer desconforto no corpo.

Apreciei também o desempenho dos travões, progressivos e eficazes, com pinças Nissin de 4 pistons e ABS, os mesmos que monta a Africa Twin.

Gostei também da gestão inteligente que a caixa DCT faz e que considera a posição da moto, se está a descer ou a subir, e compensa o esforço do motor com a mudança de velocidade, sempre que necessário, seja para funcionar como travão de motor seja para recuperar rotação à saída das curvas, tudo isto com a possibilidade claro está de sobrepormos a nossa vontade e actuarmos directamente no comando manual sem ter que sair do modo automático.

Um pormenor que não posso deixar de apontar são as belíssimas jantes raiadas, tubeless, que a X-ADV monta, realmente de efeito estético de elogiar e a contribuir de sobre maneira para o look Off Road do SUV da Honda.

Também o mostrador digital reforça o look Off Road da X-ADV, com design inspirado no das motos de Rally do Dakar, como o da CRF450 Rally que, em conjunto com o vidro frontal, fazem parecer que os desertos e as dunas são a “sua praia”.

Qualidade

No dia seguinte tínhamos agendada uma passagem pelo circuito de Aragón onde decorriam as provas do campeonato do Mundo de Superbikes e onde a Honda tinha previsto realizar uma apresentação da X-ADV na zona VIP a uma série de convidados. As motos estavam todas a acusar os vestígios da intempérie e dos “maus tratos” que o mau tempo e os diferentes percursos lhes tinham infligido no dia anterior.

Era preciso recuperar uma para a apresentação e passá-la no “Elefante Azul” lá do sítio… Foi eleita a minha pois era a única que tinha os sacos todos metidos debaixo do banco, compartimento que se revelou totalmente estanque, já que todo o meu equipamento chegou totalmente seco ao Hotel no dia anterior.

Encarreguei-me de ser eu a recuperar o brilho da minha X-ADV e com apenas 2 euros a moto ficou como nova. Plásticos sem um arranhão, alumínios e restantes componentes metálicos da moto imaculados, parecia saída do stand, não fossem uns raspões nas peseiras devido à intensidade com que percorremos os percursos de serra no dia anterior.

17YM X-ADV

Equipamento e Opções

Neste capítulo há a destacar de imediato os pisa-pés “enduro style” produzidos pela Rizoma e que são um must para a X-ADV. A Honda tem também uma lista de outras opções que incluem faróis adicionais, proteções laterais, suporte e malas traseiras e estou certo que muitas outras opções irão aparecer sejam da marca sejam dos fabricantes de acessórios do sector.

17YM X-ADV

17YM X-ADV

 Honda X-ADV PESEIRA_ENDURO

Cores

17YM X-ADV

Digital Metallic Silver

17YM X-ADV

Matt Bullet Silver

17YM X-ADV

Pearl Glare White – a Tricolor image reminiscent of the Africa Twin

17YM X-ADV

Victory Red – reminiscent of the CRF off-road family look

Características da Honda X-ADV

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HONDA X-ADV        PVP 11.500,- euros

 Honda X-ADV –  Para  nós uma Triple X, que  significa ADVenture, ADVanced e ADVantage

Equipamento utilizado :

– Blusão, Calças e Fato de Chuva da marca MACNA

– Botas modelo Mixto2 ADV da marca FALCO

– Capacete modelo Dual XD.1 da marca NEXX

 

Pedro Rocha/MotoSport

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