Os desprezados mas imprescindíveis veículos de serviço

29/09/2022

Maltratados pelo uso intensivo, desprezados pela maioria dos petrolheads, abandonados em ferros-velhos quando já não dão mais conta do trabalho pesado, os veículos de serviço compõem uma categoria automotiva imprescindível à vida moderna – mas ainda pouca valorizada pelos colecionadores brasileiros.

Essa frota heterogênea, que encara qualquer missão com valentia, é composta principalmente por furgões, picapes, jipes e vans. Eles transportam as rosas da floricultura, os cães e gatos da pet shop, as entregas do supermercado, os jornais, os policiais, os escolares, os operários e os mortos à sua última morada. Executam um sem-número de tarefas. No entanto, não gozam do prestigio das viaturas militares ou dos caminhões (para não falar dos mais óbvios sedans e esportivos) entre colecionadores e museus.

Na verdade, são raríssimas as coleções de carros de serviço. Nos encontros de clássicos, quando um desses exemplares aparece, logo chama a atenção do público – às vezes, até mais do que a Ferrari ou o Porsche de centenas de milhares de dólares. Mesmo assim, poucos antigomobilistas se dedicam a salvá-los do desmanche. Há exceções, é verdade. Soube de um empresário que colecionava carros funerários.

Sempre tive um carinho particular por esses veículos humildes, despojados de luxos, que dão duro na vida para sustentar seus donos. Eles são as mulas de carga do mundo automotivo, vistos tão somente como ferramentas de trabalho. Contudo, ao contrário dos automóveis de passeio, que só dão despesas aos seus proprietários, os carros de serviço retribuem cada centavo investido neles com dividendos equivalentes a várias vezes o seu valor de aquisição.

Minha lista de furgões antigos prediletos inclui o Citroën H “Nez de Chochon” (nariz de porco), alguns Ford, Plymouth e Crevrolet dos anos 40 e 50, o Ford Econoline, o Fiat Fiorino e a indefectível Kombi. Mesmo pintados em cores berrantes, e com marcas comerciais estampadas na portas, os furgões de serviço passam quase despercebidos na paisagem urbana. Começam a trabalhar muito cedo e só lhes permitem estacionar às portas dos fundos de restaurantes e hotéis chiques. Veículos de segunda classe? Talvez. Mas imagine a vida nas grandes cidades sem eles.

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Fotografias: Eduardo Scaravaglione

Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.