Osaka: Os portugueses chegam ao Japão, de moto

09/10/2017

Nunca tinha vindo ao Japão mas os japoneses que conheci abriram-me a curiosidade. Eram pessoas calmas, simpáticas, civilizadas, preocupadas com o bem comum. E depois assisti aquela cena que deixou os brasileiros incrédulos, quando, no Mundial de Futebol os adeptos japoneses ficavam a limpar as bancadas depois da sua equipa ter jogado. Extraordinário.

Aterrei ontem em Osaka. A primeira coisa que constatamos é que realmente a altura média dos japoneses é inferior à europeia. E vimos isso logo quando pegamos num dos carrinhos das malas no aeroporto que têm a pega uns bons dez centímetros mais baixa que os europeus.

O país é relativamente pequeno, cerca de quatro vezes e meia o tamanho de Portugal. Mas tem uma população doze vezes superior.

É pouco espaço para tanta gente, mas organizam-se. Saem e entram nos metros e comboios ordenadamente e quando não estão a brincar com os telemóveis e falam uns com os outros é baixinho, quase em mímica. Com a chegada dos híbridos em força também o trânsito está mais silencioso e, nos sinais luminosos, vêm-se por vezes blocos de carros a arrancarem ao suave zumbido dos motores eléctricos.

Para despachar esta multidão de um lado para o outro até os comboios regionais atravessam os arredores das cidades, por entre prédios e casas, a velocidades que rondam os 200 Km/h. Tinham-me avisado que a vida por estes lados era cara e reservei quarto num hostal só para o primeiro dia, como costumo fazer quando chego de avião a algum país. Quarto tipo japonês, avisaram no mail. Não fazia ideia o que quereria dizer mas achei que “em Roma, sê romano”.

Era um pequeno quarto sem um único móvel ou quadro na parede, uma janela, um candeeiro no teto e um colchão no chão. Lençóis lavados e engomados. Aliás tudo tinha um ar limpíssimo e o wifi funcionava, assim como o imprescindível ar condicionado que normalmente desligo mas aqui em agosto, com as temperaturas a ultrapassarem os 35º dia e noite, mantive a funcionar.

Na manhã seguinte tinha encontro marcado no porto de Kobe, a cerca de 30 Km, para desalfandegamento da moto. Felizmente, na terra deles, foi a Honda a tratar do assunto, com a antecedência e eficiência japonesas, e não passei mais de meia hora na fronteira. Instalei-me num Hotel em Kobe, este já ocidentalizado e, com tarde livre, fui visitar o museu da cidade.

O museu de Kobe tinha uma interessante exposição temporária. Tratava-se de pinturas com atores de teatro da primeira metade do século dezanove. Na altura em que ainda não havia fotografia e muito menos cinema os ídolos da população eram atores de teatro famosos. Alguns artistas pintavam cenas dos mais conhecidos atores, não só em palco mas também na sua vida do dia-a-dia como a ida a um restaurante ou cenas de camarins. Esses retratos eram depois disputados pelos “fans” dos atores. Japoneses em ordeiras filas observavam cada uma das imagens reproduzindo a devoção que os seus antepassados terão tido por aqueles artistas de palco.

Menos de 48 horas depois de aterrar estava montado na minha “CrossTourer” para mais uma etapa desta volta ao mundo, depois de dois mecânicos do concessionário local terem libertado a moto da palete metálica a que estava presa e de lhe terem montado roda, guiador e vidro de carenagem e colocado óleo no motor e gasolina no depósito, que o transporte por barco obriga a que venha sem líquidos inflamáveis.

O primeiro dia em que circulei no Japão foi uma desilusão. Um céu cinzento da cor de casas e prédios tristes e feios e um transito inacreditável de lento.

O mecânico da Honda tinha-me dito que demoraria três horas para percorrer os pouco mais de 50 Km até à cidade seguinte se não apanhasse a autoestrada, mas como nesta viagem decidi evitar o mais possível autoestradas, enfrentei aquele inferno.

Não demorei três mas duas horas a percorrer os cinquenta e poucos quilómetros. As estradas secundárias aqui têm só uma faixa para cada lado com um traço contínuo permanente e semáforos a cada 300 metros.

A maioria dos carros que por aqui circulam nestas estradas secundárias, são pequenos monovolumes de quatro portas mas pouco maiores que um smart. Andam ordenadamente, sem nunca ultrapassarem os 50 Km/h. Parece uma espécie de comboio a andar em câmara lenta, com as carruagens separadas uns dez metros umas das outras. Lá os vou ultrapassando e nunca pisei tanto traço continuo na minha vida, mas com as paragens contínuas nos semáforos acabo por me arrastar penosamente.

Temi que aquele fosse o meu destino durante as três semanas que passaria no Japão.

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*Francisco Sande e Castro está a dar a volta ao mundo de moto e M24 publica o seu diário de bordo. Acompanhe-o nesta grande aventura

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