Pode haver golpes de teatro ao cair do pano do Mundial de F1?

25/11/2016

Último Grande Prémio da temporada da Fórmula 1 pode consagrar um inédito campeão, como Nico Rosberg, ou dar o quarto título a Lewis Hamilton. Na F1 normalmente há golpes de teatro ao cair do pano

Os novos princípios matemáticos utilizados na teoria das cordas permitem aos físicos afirmar muita coisa. Mas será que são capazes de ‘prever’ o próximo Campeão do Mundo de Fórmula 1? Olhando para a história da F1, não é garantido que acertem…

Não é a primeira, nem há-de ser a última vez que na história da Fórmula 1 um piloto é campeão fruto da má sorte do adversário, e se esse é um facto que só ficaremos a saber depois do GP de Abu Dhabi de F1, não há nada que garanta que Lewis Hamilton não vá ser campeão. É verdade que a lei das probabilidades aponta claramente para ser Nico Rosberg a conquistar o seu primeiro título de F1, mas… será que os números podem elucidar-nos? Por muitas voltas que se deem e muitas contas que se façam, os números nunca dizem tudo, e ainda bem que assim é, pois qualquer desporto precisa de imprevisibilidade, e apesar de a matemática poder explicar muita coisa, nunca explicará tudo.

De qualquer forma, os 20 Grandes Prémios já realizados este ano devolveram um grande conjunto de números, e o que vamos fazer é analisá-los, tentando perceber quem merece ser Campeão. Ponto prévio. A análise trará as suas conclusões, mas muito provavelmente o que estes números vão dizer não é o que irá acontecer. Ou será?

Se fizermos uma análise rápida, fica claro que o que está a fazer toda a diferença neste Mundial é a corrida da Malásia. Se repusermos a classificação lógica dessa corrida, e mantivermos os restantes números do campeonato desde aí, percebemos que Hamilton não teria um atraso de 12 pontos, mas sim um avanço de 16. Mas será que Rosberg faria a mesma gestão que tem feito? Hamilton venceu três de quatro corridas, mas seria assim caso Rosberg precisasse de vencer? Nunca saberemos e ninguém consegue responder a isto. Seja em que desporto for, um acontecimento num determinado momento do jogo/corrida pode fazer alterar por completo tudo o que daí para a frente se passa.

Mas antes de analisar os números, falemos um pouco de sorte. Hamilton sofreu este ano cinco momentos de fiabilidade debilitante, por assim dizer. Falha da ERS no começo da qualificação da China, facto que o relegou para 22º na grelha. Terminou em sétimo. Falha da ERS na Q3 da Rússia, foi 10º na grelha, terminou em segundo. Problema de motor no GP da Europa. Arrancou em 10º, terminou em 5º. Em Singapura, problema hidráulico, no segundo treino livre, foi crítico para nova derrota face a Rosberg. Terminou a corrida em terceiro. Sem ‘forçar’ muito os números, facilmente teria mais 40 pontos, assim de repente, na China, em Sepang e na Bélgica. Há uma frase ‘brutal’ de Hamilton: “A Mercedes ‘fez’ 43 motores, e só os meus foram à vida…”. É claro que este ano Hamilton teve bem mais problemas mecânicos que Rosberg, mas o alemão também teve a sua ‘dose’ em 2014 e 2015.

Os números de 2016
Os números são muito engraçados. Vamos olhar para eles e Hamilton vai ser o mais forte em quase tudo. E no ‘quase’ é que está o problema. Senão vejamos. Ambos têm o mesmo número de vitórias (9), mas Hamilton tem mais um pódio. A primeira grande diferença são os abandonos. Um para Rosberg, dois para Hamilton. E é ‘este’ segundo que lhe estragou quase tudo. Hamilton obteve 11 poles, contra nove de Rosberg. Isto diz-nos que Hamilton é mais rápido. Mas isso é novidade para alguém? Só não é… sempre. Na luta face a face na qualificação 11-9, apesar de estar atrás no campeonato, Hamilton liderou mais 37 voltas que Rosberg, o que não significa que tenha liderado mais quilómetros…

E há um dado que para nós é muito importante. Hamilton recuperou, face ao seu lugar na grelha, 45 posições, enquanto Rosberg perdeu nove. A diferença justifica-se pela maior valia como piloto de Hamilton e muito, também, porque partiu várias vezes atrás na grelha. É mais fácil ultrapassar “lá atrás”. E Rosberg, se andou quase sempre na frente, é natural que não tenha gente para ultrapassar. Portanto este é mais um ‘daqueles’ números enganadores.

Depois, Hamilton só por quatro vezes terminou pior do que começou. Rosberg fê-lo mais duas vezes. Sete vezes Hamilton chegou mais à frente do que partiu, enquanto Rosberg só o fez quatro vezes. Só há um número importante em que Rosberg está melhor, e é precisamente esse o único que lhes interessa. Tem mais pontos. Doze para ser exato. ‘Basta-lhe’ ser terceiro se Hamilton ganhar para Rosberg ser Campeão.

Quanto a 2016, estamos ‘conversados’, Hamilton domina quase todos os números, menos o que queria. E nas outras temporadas que correram juntos, o britânico tem mais vitórias (6), pódios (5), poles (2) e muitos mais pontos. Mais importante que tudo, o tricampeão venceu os dois campeonatos de 2014 e 2015. É por tudo isto que a F1 é fantástica. Há um piloto que é claramente melhor, prova-o nos números, mas é bem provável ser o ‘outro’ que vai ser campeão. Não merece, se for? Se acontecer, estava lá para aproveitar a oportunidade, e também trabalhou muito para isso. Como muita gente pensa, se Rosberg não ganha agora, nunca mais ganha…

Rematando, espera-se que este seja um fim de semana emotivo, e se pudéssemos pedir alguma coisa, pedíamos qualquer coisa do estilo: Hamilton e Rosberg partem da primeira linha da grelha, mas no arranque, o ‘tal’ gremlin da Mercedes ressurge e ambos caem para o final do top 10. Segue-se uma espantosa recuperação de ambos, e a dez voltas do fim, os dois Mercedes estão em cima dos dois Red Bull que realizaram toda a corrida juntos.

O resto deixamos à sua imaginação…