O regresso (in)esperado de Robert Kubica à Fórmula 1 recordou-nos de que houve outros pilotos na história da modalidade que conseguiram voltar ao desporto quando ninguém apostaria neles. É certo que a situação do polaco é distinta porque o acidente no Rali de Monte-Carlo de 2011 afetou dois membros importantes (a mão e braço esquerdos) para a mobilidade a bordo do cockpit de um Fórmula 1. Mas nenhum dos figurantes desta lista se pode gabar de ter tido a vida facilitada.

Mika Hakkinen

Um furo na sessão de qualificação do GP da Austrália de 1995, quando a prova ainda tinha lugar em Adelaide, enviou o McLaren tripulado por Mika Hakinen rumo ao muro de proteção a mais de 200 km/h. O finlandês ficou inconsciente com o impacto depois de sofrer fraturas no crânio e danos no cérebro. Uma traqueotomia de emergência, operada no circuito, foi determinante para salvar a sua vida. Depois de uma longa recuperação e nova cirurgia, Hakinen conseguiu regressar ao volante do McLaren numa sessão de testes antes da temporada de 1996, provando que a velocidade que lhe era atribuída se mantinha intacta. Dois anos depois tornar-se-ia campeão do mundo de forma consecutiva, entre 1998 e 1999.

Juan Manuel Fangio

O segundo piloto mais titulado da história da Fórmula 1 viu-se impedido de defender o campeonato inaugural conquistado em 1951 quando, com a mudança do regulamento, a Alfa Romeo saiu da modalidade, deixando o argentino Juan Manuel Fangio sem lugar no pelotão. A antiga glória dos italianos e da Mercedes ainda participou em algumas provas não-campeonato e foi numa delas, em Monza, que sofreu um grave acidente que o deixou com o pescoço partido e fora de jogo até ao final do ano. Recuperou a tempo da temporada seguinte e de conquistar mais um título (e outros três), provando que seria preciso mais do que um acidente para impedir o seu domínio no desporto.

Johnny Herbert

 

Johnny Herbert era apontado como o próximo talento da Fórmula 1 quando um acidente na Fórmula 3000, em 1988, quase fez com que os seus dois pés fossem amputados. Os médicos chegaram a dizer ao inglês que ele nunca mais voltaria a andar sozinho na vida, muito menos sentar-se novamente para pilotar um carro de corridas. Mas depois de várias operações, o britânico lá conseguiu uma oportunidade na Fórmula 1 com a Benetton, ainda com parafusos a ligarem as ‘juntas’. Teve de ser ajudado para entrar no carro, mas conseguiu terminar num incrível quarto posto, apesar das dores enormes que sentiu ao longo do GP de . A forma caiu durante o ano como um resultado dessas mesmas lesões, com a equipa a deixá-lo cair no final do ano. Mas Herbert viria a recompor-se e a registar três triunfos numa carreira de relativo sucesso, dois com a Benetton, em 1995, e um com a Stewart Grand Prix, em 1999. Igualmente famosa foi a sua vitória nas 24 Horas de Le Mans de 1991, ao serviço da Mazda. Resta imaginar como poderia ter sido a sua carreira não fosse aquele acidente, já que as lesões mantiveram sempre um impacto nas suas capacidades.

Graham Hill

A carreira de Graham Hill na Fórmula 1 deveria ter chegado ao fim quando o britânico ficou com as pernas em pedaços durante o GP dos EUA de 1969. O pai de Damon Hill ainda ficou durante alguns meses remetido a uma cadeira de rodas, mas fez de tudo para regressar na temporada seguinte para a primeira prova do campeonato, o GP da África do Sul. Terminou a corrida de Kyalami no sexto lugar, resultado que festejou enquanto era ajudado para sair do carro. Mas nunca mais voltaria a ser o mesmo: voltaria a vencer apenas mais uma vez, numa corrida não-campeonato em Silverstone, corria o ano de 1971.

Niki Lauda

O rei das recuperações desta lista, Niki Lauda esteve para morrer em chamas à conta do seu terrível acidente no Nürburgring, em 1976. Mas apenas seis semanas depois, o austríaco estava de regresso ao seu Ferrari para retomar com o McLaren de James Hunt a luta pelo título desse ano.

Logo na prova de regresso ficou à frente dos dois colegas da Ferraria na qualificação, terminando a prova num incrível quarto lugar, apesar das ligaduras que ainda trazia do acidente. Continuava na liderança do campeonato na última corrida, que teve lugar em Fuji, no Japão, mas acabaria por desistir da prova em protesto com as condições do traçado, totalmente alagado à conta da chuva intensa que teimava em não parar de cair. Regressou no ano seguinte para vencer o seu segundo título com a Ferrari e não se retirou em definitivo sem conquistar o terceiro, agora pela McLaren. Nada mal para alguém a quem chegou a ser lida a extrema-unção…

Felipe Massa

É incrível como ainda hoje Felipe Massa continua a sentar-se ao volante de um Fórmula 1. Na qualificação para o GP da Hungria de 2009, uma mola do amortecedor do Brawn de Rubens Barrichello embateu no capacete do piloto, deixando-o imediatamente inconsciente, o que fez com que embatesse no muro de proteção totalmente desamparado. Além de inicialmente desfigurado (a operação corrigiu o resultado desse encontro com a mola do carro de Barrichello, não sem antes lhe ser introduzida uma placa de metal na cabeça), chegou a pensar-se o pior para Massa, a braços com um coma induzido, um crânio fraturado e a forte ameaça de ficar cego de pelo menos um olho. Mas Massa lá regressou ao desporto no ano seguinte, em 2010, embora sem nunca evidenciar a forma que até aí tinha demonstrado (não vence desde a última corrida de 2008, o famoso GP do Brasil que deu o primeiro título da carreira a Lewis Hamilton. Ter tido o rápido Fernando Alonso como colega de equipa na Ferrari não terá ajudado…

Martin Brundle

O grande rival de Ayrton Senna na F3 britânica, Martin Brundle estreou-se na F1 no mesmo ano do brasileiro, 1984, apesar de não ter vencido o campeonato (perdeu-o precisamente para ‘Beco’). Ao volante de um pouco competitivo Tyrrel, o inglês obteve um excelente segundo lugar em Detroit. Mas a corrida seguinte em Dallas traria muita agruras: um acidente na qualificação deixou-o com os pés e as pernas partidas, o que em última análise impediu-o também de chegar sequer próximo ao sucesso obtido por Ayrton Senna nos 10 anos em que o paulista esteve na Fórmula 1. De fora durante o remanescente da temporada de 1984 e de regresso à Tyrrel no ano seguinte, as lesões de Brundle impediriam-no para sempre de travar com o pé esquerdo, algo que acabou por ser sempre um grande contratempo na carreira de uma promessa que acabou por nunca saborear o champanhe do lugar mais alto do pódio.

André Bettencourt Rodrigues

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.