Desde o quatro cilindros mais potente de um compacto, o mítico motor de 2.0L com 381CV que se encontra no A45 AMG, passando pelos diversos V6 e V8 e culminando com os poderosos V12, Affalterbach é a origem de alguns dos mais incríveis e potentes motores do planeta. A divisão de performance da Mercedes está agora a assinalar os seus 50 anos e, como tal, trazemos até si mais detalhes sobre uma parte fulcral das suas criações, pois os motores onde surge o símbolo com uma válvula e duas árvores (uma de cames e outra com folhas à esquerda) são o coração de alguns dos mais entusiasmantes modelos de sempre do mundo automóvel. Ao todo são 200 os “mestres” que têm autorização para colocar as famosas placas com o seu nome no topo dos motores AMG, um atestado de qualidade que qualquer um gostaria de ver ao abrir o capot…
O local onde são produzidos os propulsores da AMG é uma unidade pequena, mas apetrechada com o que de melhor se pode encontrar nesta área, permitindo a estes magos terminar cada motor, em média, num tempo de 3,5 horas. Mas até chegar a esta fase em que se tornam representantes da filosofia “um homem, um motor”, os funcionários passam por um processo de aprendizagem rigoroso. Primeiro é preciso obter um curso de mecatrónica num instituto superior germânico com duração de três anos e meio, a que se juntam mais quatro meses para a especialização e aprendizagem na própria fábrica da AMG. Ou seja, são quase quatro anos para aprender a arte…
Mesmo dotando os seus funcionários de todos os conhecimentos exigidos, a AMG continua a efetuar um intenso controlo de qualidade que começa desde logo com o scan de todos os componentes. Além disso, ao longo de toda a fase de conceção os 200 “homens da placa” são apoiados por monitores onde surgem informações sobre cada passo a completar e as progressivas fases do fabrico. Assim, existe a garantia de que nada fica esquecido, com este professor informático a indicar, inclusive, quais as ferramentas a utilizar e a força a imprimir em cada momento. Estes dados são, além disso, registados pela própria AMG, e é possível décadas mais tarde voltar a saber qual a força que foi exercida especificamente em cada parafuso na “casa dos sonhos” de Affalterbach.
O conceito de “um homem, um motor” é algo que a AMG leva muito a sério, e se o turno de um funcionário terminar e o bloco em que trabalha não estiver concluído, é colocada uma capa protetora sobre esta peça. Mais incrível é o facto de que, se esse especialista for de férias ou entrar de baixa, o seu motor é sagrado e nenhum colega irá tocar nele até ao seu regresso. Esta é mais uma razão pela qual cada propulsor AMG tem uma orgulhosa placa assinada no topo, confirmando quem foi especificamente o responsável por dar som e potência aos sonhos de condutores em todo o mundo.
Após estar terminada a fase de montagem, o coração dos desportivos da Mercedes passa à fase de testes, onde é submetido a uma análise com o gás Hélio, escolhido pois as suas moléculas são mais pequenas que as do ar. Esta minuciosa monitorização é aliada a uma sessão fotográfica com mais de 100 imagens, onde é confirmado o cumprimento das tolerâncias exigidas a um motor levado ao limite e são ainda procurados pontos fracos no material. Após estar confirmado que tudo está a 100%, é feito um último teste com o bloco da AMG a ser conetado a um motor elétrico, trabalhando cerca de um minuto nas 3000RPM. Caso se confirme que tudo está perfeito, é então colocada a famosa placa com a assinatura do funcionário responsável pela conceção.
Em todas as profissões existem aqueles que sabem, aqueles que sabem muito e depois a pessoa que pode ser considerada a melhor de todas. Recorrendo à moda iniciada pelo Ministro das Finanças da Alemanha ao referir-se a Mário Centeno, também podemos dizer que existe um Cristiano Ronaldo dos motores da AMG. Trata-se de Michael Kubler, que está capacitado para produzir tanto os V12 fornecidos à Pagani como os V8 naturalmente aspirados dos carros de competição GT3. A demonstração da sua mestria reside no facto de até existirem outros colegas que são capazes de fazer um ou outro destes motores, mas o “Cristiano Ronaldo da AMG” é o único que tem autorização/conhecimento para montar os dois propulsores.
Com uma imensa legião de fãs nas redes sociais, Michael Kubler demora 3 dias a fabricar os motores de competição que a Mercedes utiliza nos GT3. Apesar de ter mais cilindros, para os blocos da Pagani são apenas precisos dois dias, embora neste caso o propulsor tenha parafusos de titânio na admissão. Nunca serão vistos por ninguém (a não ser caso aconteça alguma tremenda tragédia com um dos poderosos desportivos) mas a verdade é que estão lá. Para se perceber a importância deste verdadeiro cinturão negro na arte de fabricar motores, quando ele foi de férias no último mês de agosto… a fábrica da Pagani também fechou portas!
Fonte: Road and Track
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