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Agora como equipa oficial, a BMW reforça a sua ligação à Fórmula E e pretende lutar pelos lugares cimeiros do campeonato. Aos comandos do BMW iFE18 vão estar o português António Félix da Costa e o britânico Alexander Sims.

Desde o início da Fórmula E que a BMW tem vindo a demonstrar a sua confiança neste novo campeonato de monolugares elétricos, já que os seus modelos eletrificados têm vindo a desempenhar as funções de veículos de apoio à prova. O híbrido desportivo BMW i8 tem liderado o pelotão sempre que necessário como Safety Car, enquanto o modelo de emissões 0 BMW i3 tem sido o Medical Car e o carro do diretor de prova. Mas agora será ainda mais entusiasmante para os fãs do fabricante bávaro ver as provas desta competição da FIA, já que haverá um BMW na grelha de partida. Ou, melhor dizendo, dois BMW iFE 18, os novos monolugares para o campeonato que foram revelados pela marca e que serão conduzidos por António Félix da Costa e por Alexander Sims.

Foi no BMW Welt, um dos mais famosos espaços da cidade de Munique e bem na frente do Museu da BMW, onde se podem ver alguns dos mais famosos exemplares de competição do fabricante alemão, que foi revelado o carro responsável por acrescentar mais um capítulo ao seu extenso legado nas pistas. Neste caso, em traçados citadinos, pois um dos motivos para a BMW entrar para a Fórmula E foi precisamente o facto de as corridas serem realizadas em cidade, ajudando a aproximar a marca dos seus fãs e demonstrar a estes como é forte a sua aposta na eletrificação.

MOTOR E MECÂNICA DO BMW IFE 18 – A PARTILHA ENTRE ESTRADA E PISTAS

A apresentação do novo concorrente na Fórmula E teve início com um curto vídeo de somente 2,8 segundos. E isso explica-se pelo facto deste ser o tempo que demora o BMW iFE 18 a atingir os 100km/h. A sua velocidade máxima está limitada a 240km/h, mas Jean Marquardt, líder da BMW Motorsport, confidenciou que se poderiam atingir os 280 km/h. Isto é obtido através de um motor com potência máxima de 250 kW (335 cv), sendo referidos ainda 200kW (270 cv) para o ‘Race Mode’ e capacidade de regeneração de 250kW. Ele foi desenvolvido por uma equipa de engenheiros que também trabalha nos modelos elétricos de produção da marca, algo que tem extrema importância para os bávaros.

“Nunca vi um formato com tanta proximidade entre a competição e o desenvolvimento dos carros”, refere Klaus Frolich, um dos membros do Conselho de Administração da BMW que esteve na revelação do carro.E um dos motivos da entrada é precisamente o reforço obtido na implementação da mobilidade elétrica, pela ligação entre competição e a massificação dos veículos de emissões 0. As vantagens já se podem antever pelos dados apresentados pela marca, porque, em comparação com a motorização do i3, a marca conseguiu um motor com o dobro da potência mas que, ao mesmo tempo, tem dimensões e volume inferiores, respetivamente, em 50% e 60%. Claramente, uma demonstração de que menos é mais…

E neste caso não se trata apenas da passagem de tecnologias da competição para as estradas, já que os dez anos de experiência da marca veículos elétricos revelaram-se fulcrais para acelerar o desenvolvimento do monolugar. Foi revelado que, quando a equipa recebeu dos engenheiros o pack motor+inversor do BMW iFE18 pela primeira vez, ele estava pronto e logo a funcionar sem problemas.

Mas esta partilha estende-se também a outros campos, como na investigação de novos materiais e tecnologias. Um dos exemplos é o recurso ao carbureto de silício (Silicon Carbide, ou carborundum, em inglês) nos inversores, já que este material reduz as perdas de energia. E, tratando-se de um carro que tem de aproveitar toda a eletricidade de que dispõe e que consegue regenerar, este é claramente um ponto fulcral. Outro exemplo da pesquisa de materiais está nos braços da suspensão numa nova combinação entre fibra de carbono e aço.

Também a impressão 3D foi utilizada, no balancim da suspensão, sendo desenvolvido um novo processo de produção que conjuga o baixo peso com grande resistência. Como explicou Rudolf Dittrich, Responsável pelo Desenvolvimento de veículos da BMW, primeiro a marca indica qual o volume que este componente deve ter, e depois é o PC, através de softwares específicos, a ajudar a desenhar a peça perfeita para as funções que serão necessárias. E terminou explicando que, mesmo que desejasse indicar qual a percentagem de redução de peso obtida, não seria capaz de o fazer, pois foi utilizado um processo totalmente novo e, por esse motivo, não existe qualquer termo de comparação que possa ser utilizado.

A gestão de energia, como já referido, revela-se fulcral para os modelos de competição, e a BMW teve também grande preocupação com os softwares que desempenham estas funções. Por exemplo, o seu funcionamento é essencial para gerir a combinação entre a travagem do motor e a travagem mecânica, para que exista o máximo de energia possível para regenerar. Obviamente, foram retirados todos os elementos habitualmente responsáveis pelo controlo dos sistemas de motores de combustão da ECU, pois aqui o foco estará colocado na gestão da energia a cada volta. Para o trabalho mais estratégico da gestão da energia para toda a corrida (até pelos fan boost que existem na Fórmula E, entre outras alterações ao formato que vão surgir na nova temporada), os pilotos vão contar com o apoio da equipa nas boxes.

Se porventura está a pensar nos dados sobre qual a transmissão do BMW iFE 18, aqui lhe deixamos as informações reveladas pela marca. Ela será, efetivamente uma transmissão com apenas uma velocidade, mas com alguns segredos. Quais são, a BMW não quis desvendar… afinal, alguns dos adversários podem já estar a desenvolver a sua próxima geração de monolugares para a Fórmula E e a marca não quer ajudar os rivais nessa tarefa.

Design BMW iFE18 – Um estilo dinâmico

Quando a Fórmula E teve pela primeira vez contacto com o BMW iFE 18 eles ficaram “espantados com o peso”, revelaram os responsáveis da marca, mas a imagem também terá certamente causado impacto. Para tal, a marca começou por desenvolver o visual da parte superior, recordando que pelo posicionamento das bancadas esta é a primeira zona do carro que os fãs vão ver. A opção foi para uma combinação assimétrica entre o branco e o azul com linhas que se orientam da dianteira e no sentido da zona do motor. Há que referir que, além destas serem precisamente as cores do símbolo da marca, o azul também é muito associado à mobilidade elétrica e da BMWi. Existem, além disso, alguns traços estilísticos que se destacam.

O primeiro é a zona do cockpit pintada a preto, algo que vem reforçar a ligação com ao passado e presente da marca no mundo da competição, onde sempre surge o tom escuro nesta área como forma de enfatizar o máximo foco no piloto. A forma como as cores se vão esbatendo ao longo da carroçaria serve para dar uma maior sensação de movimento e velocidade, enfatizando a velocidade a que os BMW iFE 18 passam pelas pistas citadinas da Fórmula E.

A terminar, há que dar destaque a uma zona especial, a colorida “rede” nas laterais da cobertura do motor. Aqui, o azul e o roxo formam “as veias do carro”, num grafismo que contempla pontos de ligação, comparados a sinapses, para mostrar como a motorização e software do carro é um sistema vivo e em constante adaptação na busca pelas máximas performances. A escolha do roxo é também simbólica, pois esta é também a cor que sinaliza os tempos mais rápidos por volta ou por secção numa corrida. E, termina Jens Marquardt, “não queremos colocar pressão nos nossos pilotos, mas [a rapidez] está no carro”.

ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA COM O NÚMERO 28 NO BMW IFE18

Embora o colega de equipa Alex Sims tenha o 27, na verdade existe um grande simbolismo e importância na escolha do 28 para o piloto nacional. Afinal, o BMW iFE18 foi criado em parceria com a Andretti e, para esta equipa americana, este é normalmente o número do primeiro piloto da equipa. Pela muita experiência acumulada ao longo das temporadas anteriores na Fórmula E, algo em que estará bem à frente do colega, isto mostra como o português que desde 2014 é piloto oficial BMW é uma das grandes apostas da equipa.

E António Félix da Costa não esconde que, porque já tinha conhecimento deste projeto da BMW, “desde que saí do DTM em 2016 este era o meu principal objetivo” em combinação com a presença no Mundial de Resistência com a marca bávara. Agora, o foco está “em sermos competitivos e conseguirmos lutar por vitórias”, até porque depois dos primeiros testes ficou muito agradado com o que encontrou.

“Este carro encaixa como uma luva, perfeito. Está tudo bem montado, tudo bem encaixado, não faz barulhos, silencioso, eficiente. Bom de guiar. E nunca tive essa sensação na Fórmula E. Estou muito contente”. Referiu, no entanto, que ainda existem algumas áreas onde será necessário evoluir, como “na área do software há algumas coisas que ainda temos de melhorar, sei que há equipas que estão um pouco mais avançadas do que nós. Como a Audi e a Porsche, que vieram dos LMP1 e que já tinham softwares desenvolvidos que os ajudavam em toda a fase de regeneração, na parte de poupar energia”.

O piloto nacional espera que tudo mude em comparação aos últimos dois anos na Fórmula E, em que diz que “parecia que andava com um triciclo onde tudo estava mal montado, agora estou num BMW, tudo perfeito, tudo encaixa, sentes que tudo está bem montado. Com o outro carro eu pisava um corretor e parecia que aquilo se ia partir ao meio, este aqui dá-te outra confiança“.

E recorda que essas temporadas anteriores “foram muito duras. Chegares ao fim de semana e saberes que não tens armas para lutar na frente e se fizeres um ou dois pontos já é um bom dia, e isso nunca foi a minha mentalidade”. Algo que acredita que vai mudar agora com o BMW iFE18, que já teve oportunidade de testar. “Não te sei dizer se somos o melhor carro, mas tenho a certeza que não vamos estar mal“. E, comparando o carro do ano passado, diz mesmo que acabou de passar “de burro para cavalo”.

Para essa diferença destaca a importância da BMW surgir com uma equipa oficial na Fórmula E, ao contrário do que acontecia no ano passado, quando a Magneti-Marelli aparecia quase como uma fornecedora da Andretti. “Aqui, tu estás dentro da casa BMW, com todas estas infraestruturas para nós, engenheiros a trabalhar para o carro andar para a frente, e isso faz toda a diferença”.

A que se junta o facto do BMW iFE18 contar com “100 engenheiros a trabalhar para dar aquilo que precisas enquanto piloto. A diferença é enorme, hoje em dia vamos testar com 50 engenheiros em pista, antigamente íamos com 10 ou 15. Quando entrei no primeiro teste com este carro não queria acreditar, parecia uma equipa de Fórmula 1 que ia testar“.

Quando aos objetivos para o campeonato, António Félix da Costa diz que “tenho de os por lá em cima. Se tivermos um carro para ganhar, eu tenho que ir para ganhar. Não sei dizer se temos isso ou não agora, se quisermos ter uma abordagem um pouco mais cautelosa acho que podemos acabar nos cinco primeiros. Não vejo porque não, mas quem sabe até lutar por vitórias e por pódios”.

Em que patamar se encontra o BMW iFE18 é agora a grande questão, mas não será necessário esperar muito tempo para se saber a respota. As primeiras indicações em concreto vão surgir a partir de 16 de outubro, nos testes de Valência, dois meses antes do arranque da temporada 18-19 da Fórmula E, com a nova geração (Gen2) dos monolugares. A estreia em competição do BMW iFE18 está marcada para Riade, onde a primeira prova da época está agendada para 15 de dezembro.