Não era, seguramente, uma daquelas manhãs em que mal digerimos o pequeno-almoço ansiosos por aquele instante mágico em que recolhemos a capota do Aston Martin DB11 Volante para desfrutar do prazer de desfilar pela Promenade des Anglais, já repleta de vestidos esvoaçantes, empoleirados em stilettos periclitantes.
Os primeiros raios de sol refletidos na neve lá no alto da montanha faziam-nos questionar o porquê da opção por aquele que é um dos locais de maior glamour na Europa mas que, nesta altura do ano, comporta riscos de se tornar num dos mais dececionantes. Não era, ainda assim, o caso, apesar do frio intenso, não tardou muito até que tudo começasse a fazer mais sentido. Até mesmo a opção pelas estradas de montanha.
Não podíamos esquecer, afinal, que a Aston Martin possui uma enorme experiência no desenvolvimento de automóveis abertos, a qual está, aliás, bem expressa no novo DB11 Volante. Desde logo no estilo único, mas também, no reforço da estrutura em alumínio e na complexa construção da capota têxtil, com oito camadas de tecido, exemplar ao nível do isolamento térmico e acústico.
Disponível nas cores bordeaux, prata escuro e cinzento, este manto tão belo quanto tecnológico pode ser aberto (14 segundos) e fechado (16 segundos) mesmo em andamento (até 50 km/h) e o seu desenvolvimento foi objeto de cuidados inéditos, com testes levados a cabo na região do Ártico e no Vale da Morte (EUA), em que, durante um mês e sob condições extremas, a capota foi aberta e fechada 100 000 vezes, o equivalente a dez anos de utilização normal. Importante é, também, a utilização de um novo mecanismo hidráulico, mais silencioso e mais compacto, o que permite que a capacidade da bagageira apenas tenha sido reduzida de 206 litros no coupé para 168 litros, permitindo acomodar duas malas de fim-de-semana.
A supressão do tejadilho rígido determinou, também, alterações evidentes na secção posterior: para compensar a eliminação das duas fendas laterais nos pilares, que servem para canalizar o ar para a traseira, a tampa da bagageira tem um novo desenho, enquanto a forma da capota garante também a canalização do ar para o defletor traseiro retrátil. Este é acionado automaticamente a 90 km/h no modo GT, 70 km/h no modo Sport e 50 Km/h no modo Sport Splus, para garantir a indispensável carga aerodinâmica. Esta mantém-se em níveis muito semelhantes aos da versão Coupé, garante-nos Ian Hartley, responsável pelo desenvolvimento desta versão Volante, o que, sendo fundamental para o comportamento em curva, tem igualmente uma enorme relevância para o conforto acústico quando circulamos com a capota recolhida. A par da posição bastante baixa dos bancos, é esta a explicação para o facto de, mesmo a velocidades elevadas, os efeitos do vento no habitáculo serem praticamente nulos, permitindo-nos ouvir música ou manter uma conversa.Ainda no interior, de referir que o espaço nos lugares traseiros (de contingência) apenas foi reduzido em 2,2 cm para as pernas e cinco mm ao nível da cabeça, mas mais relevante é o facto de se manter intacto o nível de requinte e sofisticação. Alcançar os mais elevados níveis de conforto e assegurar um desempenho dinâmico de referência é um dos desafios mais difíceis de superar por um carro aberto.
E a verdade é que todas as expetativas foram cumpridas, disso sendo testemunho o facto de, mesmo nas situações mais exigentes (pisos degradados ou cargas elevadas do motor) nunca termos sentido vibrações ou torções do chassis, cuja rigidez se mantém praticamente inalterada face à versão fechada, resultado da introdução de diversos reforços, em pontos específicos da estrutura. Esta tarefa ditou um incremento do peso em 110 kg face ao Coupé mas mais importante é o facto de a rigidez estrutural, embora seja cerca de 30% inferior à do Coupé é mesmo melhor do que a do Vansquish aberto.
Mais do que os números, os méritos desta estrutura tornam-se especialmente evidentes quando exploramos as capacidades do motor V8 Twin Turbo de 4.0 litros com 510 cv, fornecido pela AMG mas objeto de bastante trabalho específico nos ateliers da Aston Martin, ao nível da gestão eletrónica e da admissão.
Um coupé…aberto
Além da potência elevada, este V8 bastante compacto destaca-se pelo binário: 675 Nm entre as 2000 e as 6000 rpm, permitindo uma velocidade máxima de 300 km/h e uma aceleração de 0 a 100 km/h em 4,1 segundos, ou seja, apenas duas décimas de segundo pior que o Coupé.
Importante, também, é o acerto adequado da direção eletromecânica, muito precisa, bem como o diferencial autoblocante eletrónico com vetorização do binário. Se é verdade que o DB11 Volante tem como vocação um passeio de final de dia de verão desde Nice até Monte Carlo com a capota recolhida, não é menos certo que a sua eficácia dinâmica é de tal forma convincente que, sem receio, afirmamos que é o melhor carro aberto alguma vez produzido pelo construtor britânico. O Aston Martin DB11 Volante chega a Portugal em maio, com um preço de entrada de 270 mil euros.
Júlio Santos
Veja também o nosso vídeo ao volante do Aston Martin DB11 coupé com motor V8
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