O que vale o novo Citroen C3

28/07/2017

Mantendo plataforma e mecânicas, a Citroën preocupou-se, antes de mais, com o “embrulho” ao avançar com uma geração totalmente nova do C3. Sinal dos tempos que vivemos, em que só os olhos parecem contar, a marca francesa apostou em seduzir-nos pela emoção das linhas. E isso é algo em que a Citroën sempre foi exímia, está no seu ADN.

Para o novo C3 inspirou-se nalguns dos mais recentes “concepts” e em modelos como o C4 Picasso ou o C4 Cactus. Adoptou aquela frente “altiva” que parece tornar o carro maior que os 3,99 m de comprimento que efetivamente tem, num efeito ajudado pelo jogo de “cascata” de faróis por ali abaixo. Uma assinatura inconfundível deste C3, mas que pode ter o seu revés para condutores mais baixos que, mesmo com o banco na elevação máxima, continuarão a achar a linha de “capot” demasiado intrusiva no campo de visão para manobras em espaços apertados… À frente a habitabilidade é boa, em especial em largura e altura, dando uma sensação de desafogo. Mas é atrás que está a principal evolução.

O aumento da distância entre eixos em 7 cm refletiu-se bem no aumento do espaço para pernas dos passageiros do banco traseiro, o que, juntamente com uma posição mais vertical das costas do banco – a altura do habitáculo ainda deixa muito espaço livre para a cabeça – permite que se viaje confortavelmente. Há melhor neste segmento, mas o C3 não está nada mal servido! Já a bagageira manteve os 300 litros que estão entre os melhores valores dos utilitários, mas é bastante funda, o que pode complicar a carga/descarga de objetos mais pesados.

Uma vez mais, o «design» tomou as rédeas do projecto também no interior, sendo nesse aspeto que se notam as maiores evoluções, com um visual limpo e funcional mas, ao mesmo tempo, muito estilizado. Detalhes como as saídas da ventilação, os manípulos que parecem “saltar” das portas para ficar mais à mão, o volante com teclas grandes, a instrumentação bem legível ou os espaços para pequenos objetos mostram como o interior do C3 foi pensado para ser agradável e funcional. A que se junta uma qualidade de construção em alta, embora os plásticos duros continuem a imperar. O ecrã central tátil concentra várias funções, o que nem sempre é prático, mas este, ao menos, é de utilização fácil, com grafismos simples e óbvios.

Esta versão 1.2 PureTech conta com o mesmo motor tricilíndrico de 1,2 litros e 82 CV que equipava o anterior C3, mas a Citroën introduziu-lhe… um pecadilho. Procurando controlar consumos e emissões, tornou as relações da caixa um pouco mais longas e acabou por complicar a dinâmica do novo C3. Não que se note no trânsito citadino, em que esta versão se mexe bem, quando andamos ali entre a 2.ª e a 3.ª, apenas com aquela “cantilena tricilíndrica” a perturbar ligeiramente. O problema é quando se chega a “estrada aberta” ou a uma auto-estrada e as subidas o começam a fazer perder o embalo… A 5.ª é demasiado longa, um exagero, e a tendência instintiva é carregar mais no acelerador e lá se vão os consumos. A alternativa é reduzir para 4.ª, mas o resultado final nos gastos não é muito melhor. Daí que não seja fácil acompanhar o trânsito nessas condições e manter os consumos controlados, muito menos andar sequer perto dos valores anunciados.

Valha-nos o nível de conforto, elevado pelo bom amortecimento que filtra bem as irregularidades do piso. Amortecedores bem afinados para isso, embora com o “senão” de tornar o carro mais vulnerável às forças laterais nas curvas em estrada, com maior inclinação da carroçaria. O que nos leva aos bancos, macios e fofos na sua espuma de dupla densidade… mas com pouco apoio lateral.

Atendendo ao nível já bastante elevado de equipamento desta versão Shine (a única com os já populares “airbumps”), o preço acaba por estar alinhado com a concorrência. Mas a Citroën propõe ainda mais alguns extras, nomeadamente o “gadget” que poderá vir a fazer furor – ou a causar polémica… –, a câmara que fotografa e filma para a frente (ConnectedCAM, 250 €), permitindo a partilha imediata das imagens nas redes sociais.

VEREDITO

Esta versão do Citroën C3 é pensada para utilização urbana. Tem genica para se mexer na “selva” do trânsito, sentindo-se aí bastante melhor que nas grandes vias, onde o seu motor fica sem fôlego… Além disso, neste nível de acabamento, tem aquele fator “olhem para mim” de que só na cidade se desfruta.

Texto: Sérgio Veiga

Fotos: José Bispo

Ensaio publicado na Revista Turbo 424, de janeiro de 2017

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