Vendas de elétricos só descolam nos países mais ricos

13/05/2019

É normal que o poder económico tenha forte influência na adopção de novas tecnologias, e os dados da ACEA demonstram que isso também acontece no mercado de veículos elétricos na Europa. No entanto, Portugal contraria esta realidade…

As novas tecnologias custam dinheiro. Isso é uma realidade transversal a quase todos os tipos de negócios, e no caso do automóvel, mais concretamente dos veículos elétricos, isso também se confirma. Os dados revelados pela Associação de Fabricantes Automóveis na Europa (ACEA) demonstram que existe uma correlação bastante forte entre as quotas de vendas destes veículos ecológicos e o poder de compra dos condutores. Quando mais alto o Produto Interno Bruto per capita, mais viaturas de emissões 0 são comercializadas.

A ACEA recorda que apenas 2% dos automóveis comercializados na Europa em 2018 eram de “ligar à corrente”, ou seja, elétricos puros ou híbridos de Plug-In com baterias de capacidade mais generosa que os híbridos em série. Mas o mapa apresentado demonstra que existem discrepâncias na adoção destas novas motorizações.

São dados como exemplo países como a Letónia, onde apenas 93 veículos elétricos foram vendidos, e a Polónia, com a quota de mercado mais baixa a nível europeu (0,2%). Em contraste, países com maior poder de compra, como a Suécia, Holanda e Finlândia, conseguem superar largamente os resultados médios a nível continental e apresentar quotas de mercado para estes modelos superiores a 3,5%.

Apesar desta análise global, referência para a realidade distinta que se observa em Portugal. Apesar de ser ter sido em 2018 o 21º país europeu no ranking de PIB per capita, com 20.400€ por cidadão (statisticstimes), a verdade é que a taxa de adoção de veículos eletrificados está acima dos 2%, entre 100% elétricos e híbridos de Plug-In. Dados que o mapa apresentado pela ACEA mostram e que revelam uma realidade bem distinta dos outros países do sul da Europa.

Sabendo-se dos ambiciosos objetivos de redução de emissões poluentes no sector automóvel para a próxima década, o Secretário-Geral da ACEA, Erik Jonnaert, analisou esta situação. Ele afirma que “as pessoas de toda a Europa devem ter possibilidade de comprar um carro elétrico – não importa em que país vivam – norte, sul, este ou oeste. A acessibilidade às mais recentes tecnologias de zero emissões e baixas emissões deve ser atendida pelos governos como uma questão prioritária”.

Estas declarações entroncam numa análise recente feita pelo CEO da Jaguar Land Rover ao mercado dos veículos elétricos, durante uma entrevista à Automotive News Europe. Nessa conversa, e apesar da Jaguar contar com o I-Pace elétrico como Carro Europeu do Ano, Ralf Speth afirmou que estes modelos “ainda são demasiado caros. Por outro lado, as infraestruturas ainda são insuficientes e pouco fiáveis, por isso os carros elétricos tendem a ser para pessoas com os bolsos mais recheados”.

Existem, no entanto, algumas indicações de que esta realidade pode mudar a breve prazo. A maior delas é, porventura, a crescente e forte aposta dos fabricantes de maior volume nestas motorizações, como o demonstram a introdução do Peugeot e-208, do Volkswagen ID3 e o anunciado Opel Corsa elétrico. Com preços mais acessíveis (embora ainda superiores às alternativas com motor de combustão), o custo de fabrico deverá progressivamente descer devido às poupanças geradas por uma produção em maior escala. Algo que, consequentemente, trará os preços destes modelos para patamares mais baixos.

Esta questão dos custos, enfatizada pela ACEA, até fica bem visível pela evolução da marca que é referência nos elétricos, a Tesla. O Model 3 consegue vender bastantes mais unidades na Europa que os Model S e Model X juntos, demonstrando que a introdução de modelos com preços mais acessíveis dá a mais pessoas a possibilidade de se renderem à mobilidade elétrica.

Nuno Fatela / Turbo