Ensaio do Hyundai Kauai Electric, o ponto de viragem

25/07/2018

Com o Kauai Electric, a Hyundai revelou um automóvel 100% elétrico que se torna, de imediato, a referência, num segmento médio.

Após alguns anos em que os automóveis eléctricos eram dirigidos a uma tribo de pioneiros, chegou o EV que pode ser para todos.

Anunciando 482 km de autonomia já de acordo com o ciclo WLTP na sua versão Long Range, fica apenas atrás dos bem mais dispendiosos Tesla a Jaguar i-Pace.

Neste primeiro ensaio, vamos ficar a conhecer como é, no mundo real, este SUV compacto, que apresentámos aqui.

O que é inovador no Kauai Electric?

O Kauai existe com motor de combustão, mas a plataforma foi pensada para receber, de início, todos os componentes de um EV.

Isso significa, por exemplo, que foi reservado maior espaço para as baterias, nomeadamente no piso, entre os eixos e por baixo dos bancos dos passageiros.

Esta solução permite equilibrar mais a distribuição de peso e também ter packs de baterias maiores. No caso do Kauai, a versão Long Range conta com 64 kWh.

E porque é isso tão importante?

Porque até agora só os VE mais dispendiosos, como os Tesla e o novo Jaguar i-Pace, cujos preços começam nos 80 000 euros, é que tinham capacidade para armazenar mais energia.

Como termo de comparação, o Nissan Leaf e o Renaut Zoe conseguem guardar nos seus packs de baterias cerca de 40 kWh.

Além disso, o consumo médio indicado do Kauai é relativamente baixo, rondando os 14 kWh por cada 100 km.

Mas quantos quilómetros conseguimos fazer sem precisar de carregar?

Bom, isso continua a depender do tipo de condução, mas no ensaio que fiz na Noruega, as contas batiam certo com as do fabricante, com mais de 450 km numa condução normal.

Compara de forma sensacional com os 250 km reais que se conseguem num Nissan Leaf ou nos pouco mais de 300 km que se conseguem com o Renault Zoe 4.0.

Além disso, as baterias são refrigeradas a líquido, ao contrário das do Nissan Leaf e podem ser carregadas com velocidades de até 100 kWh.

Qual é o lado negativo?

Na verdade, ainda não o encontrei. É certo que com o preço em Portugal a começar nos 43 500 euros, o Kauai Electric não é barato. (A Hyundai Portugal oferece ao proprietário a instalação simples de uma wallbox, incluída no preço).

Mas as vantagens de utilização que a sua enorme autonomia oferece parecem justificá-lo.

O equipamento e, sobretudo, os dispositivos de apoio à condução, como o cruise control inteligente com Stop & Go, o sistema de manutenção na faixa e outros funcionam muito bem.

Tem três modos de condução, entre o Eco, o Standard e o Sport. Neste último, percebe-se toda a potência do motor, permitindo acelerações e recuperações impressionantes.

Então o Kauai é divertido de conduzir?

Bom, não diria tanto. Há alguns detalhes que impedem essa classificação.

Antes de mais, a direção. É demasiado leve e muito filtrada. O chassis também revela dificuldades em gerir a descarga brutal de binário de que o motor é capaz. Sempre são 395 Nm de binário instantâneo.

Se desligarmos o controlo de tração e de estabilidade, pressionando um botão do lado esquerdo do volante durante alguns segundos, tiramos a teima. Aceleramos a fundo e as rodas da frente patinam até aos 70 km/h.

O pedal do travão também não tem grande modularidade, mas não é tão dramático. E há umas patilhas no volante que permitem regular a intensidade de regeneração em quatro níveis, de zero a três. Sendo que, neste último, só precisamos de usar um pedal, como no sistema e-pedal do Nissan Leaf.

O comportamento em curva é razoável. Nunca esquecemos que este SUV compacto é pesado, mas é sempre composto e equilibrado.

E há mais defeitos?

Nem por isso. E mesmo estes são aparentes numa utilização pouco relevante num EV. O Kauai não é divertido de conduzir, mas é divertido de utilizar.

Vamos acompanhando o funcionamento de todos os seus sistemas, como a regeneração de energia, a gestão da autonomia e acabamos por estar entretidos com outras qualidades do automóvel.

A estética é sempre discutível, mas é inegável a imagem dinâmica deste SUV, embora as jantes em liga pareçam feitas de plástico. Já o interior, achei-o com um design um pouco antiquado.

Acho que há outros pequenos detalhes a melhorar, para além daqueles que referi. Um a que fui mais sensível e que não deve ser difícil está relacionado com os três modos de condução.

Temos um botão na consola em que passamos do modo Eco ao Standard e Sport, de forma sequencial sequencial.

Ora, sempre que trocamos de modo, este entra de imediato em funcionamento, o que provoca uma reação do automóvel. Mais agressivo quando entra o Sport, menos quando entra o Eco. Mas há sempre uma agitação.

Quando estamos a rodar entre os vários modo, à procura do mais adequado, tipo zapping, este processo é desagradável. Devíamos poder visualizar o modo e ter um par de segundos antes que ele ficasse ativo. Desse modo, poupávamos a todos os ocupantes estas alterações de humor.

Enfim, como eu disse, é apenas um pormenor. Se os técnicos da Hyundai o quiserem resolver, deve ser precisa apenas uma linha de código.

Então qual é o balanço final?

O Kauai Electric é um veículo elétrico competente, despachado e, sobretudo, de utilização muito económica. Um carga completa, feita em casa, custa cerca de 8 euros e dá para percorrer mais de 450 km, o que é formidável.

A tecnologia embarcada é de muito bom nível também e a sua utilização é acessível. Um condutor sem experiência neste tipo de veículos facilmente retira partido de todos os dispositivos.

O espaço no habitáculo e na bagageira mantém-se inalterado face às versões com motor de combustão. E a qualidade dos materiais e da montagem é de bom nível para o segmento.

Mas o melhor é que o Kauai é o primeiro EV com uma autonomia comparável à dos modelos de combustão. E sem um preço exclusivo.

Estabelece um novo padrão pelo qual todos os próximos modelos serão apreciados e coloca a Hyundai numa posição invejável de liderança no segmento médio dos EV.

Com a comercialização em Portugal agendada para Agosto e várias unidades já vendidas, não é difícil prever que vai ser um sucesso de vendas, não só por cá, mas em toda a Europa.

Adelino Dinis

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