Peugeot e-2008: o SUV elétrico mais barato do mercado

04/02/2020

Depois de ensaiar o e-2008 em Sitges, aqui ficam as nossas impressões e uma reflexão ao posicionamento do Peugeot e-2008.

Então que tal estava Sitges? Boas condições para andar de elétrico?

Bastante boas. No início da semana tinha havido um temporal e ainda havia ruas cortadas para remover árvores tombadas. Mas quando chegámos estava sol e uma temperatura amena.

Que modelos estavam lá para ensaiar? O e-2008 era o principal?

Não. A Peugeot apresentou em força a sua gama eletricificada, com os 508 e 3008 plug-in, o e-208 e o e-2008. Tive que conduzir todos os outros antes de poder testar o e-2008. Até dei umas voltas de scooter elétrica e de e-bike também. A Peugeot tem uma oferta muito completa de veículos electrificados.

E que tal o e-2008?

Para enquadrar um pouco, na véspera fiz quase 100 km no e-208. Dei duas voltas ao percurso previsto, o que permitiu perceber melhor como funciona o primeiro elétrico moderno da Peugeot. E era importante para fazer a comparação com o e-2008. Eles partilham a mesma plataforma, mas na verdade são de segmentos diferentes.

Esteticamente, o e-2008 é muito bem conseguido, com linhas muito equilibradas. Tem uma imagem bastante agressiva, sobretudo na versão GT que estava à nossa disposição. Atualmente é a especificação de topo. Os faróis full LED são quase hipnóticos. É um exemplo de design interessante de todos os ângulos, o que considero raro nos SUV.

O interior pareceu-me espaçoso, à frente e atrás. O nível de equipamento é bastante completo. O GT tem praticamente tudo de série, incluíndo a navegação conectada 3D, o sistema ativo de vigilância de ângulo morto e o pack assist plus. Este último consiste, segundo a Peugeot, num sistema de condução semi-autónoma, com cruise control adaptativo e sistema de posicionamento na via.

O sistema de bateria e motor é o mesmo do e-208?

Sim. Partilham tudo, desde o pack de baterias de 50 kWh, que corresponde a 47,5 kWh úteis, ao motor de 100 kW (136 cv) e 260 Nm de binário.

Também têm ambos, de série, o carregador embarcado AC de 7,4 kW. Opcionalmente, pode ser substituído por um com uma potência de 11 kW.

Os carregamentos rápidos permitem até 100 kW em DC, o que pode ser considerado bastante satisfatório para esta gama de produto. E para a capacidade da bateria.

A PSA optou, em nosso entender, muito bem, por um pack de baterias com refrigeração líquida. Nos primeiros testes de carregamento rápido já efetuados, mostrou ser uma solução moderna e eficaz em termos de velocidade. Deverá também ter efeitos positivos na degradação das células. A Peugeot está confiante no sistema e oferece uma garantia de oito anos ou 160.000 km para 70% da capacidade inicial.

Estes 50 kWh são suficientes para o e-2008?

Essa é uma questão importante. O e-2008 é quase 100 kg mais pesado do que o e-208. Além disso, tem uma superfície de arrasto (SCx) de 0,72 face a 0,62 do modelo mais pequeno e baixo.

Estes fatores têm efeitos incontornáveis, sobretudo na eficiência energética, mas também nas acelerações e recuperações.

Na eficiência energética, falamos dos consumos e, consequentemente, do alcance máximo. A Peugeot avança com valores no ciclo WLTP de 320 quilómetros, para um consumo correspondente a 14,8 kWh/100 km. Mas a homologação dos consumos ainda está a decorrer e a diferença parece-nos pequena face ao e-208. Se o valor final de WLTP acabar por ser 300 ou 310, não ficaremos surpreendidos. Dentro de algumas semanas já deveremos saber.

E foi possível comparar o desempenho do e-2008 com o do e-208?

Sim, tive a sorte de conseguir fazer o mesmo percurso com ambos, em que pude testar até que ponto havia diferenças de consumo.

Na primeira volta com o e-208, fui ao lado do jornalista Carlos Flórido, que adotou um estilo de condução mais típico de um utilizador de automóvel com motor de combustão. O percurso era sinuoso, por estradas nacionais. Quase sempre o limite de velocidade era 70 km/h, ou menos. A primeira parte era bastante a subir, compensada no regresso. No final da volta de 40 km, registámos uma média de 48 km/h e um consumo de 19,6 kWh/100 km.

A seguir foi a minha vez. Andei um pouco mais devagar, já que fiz apenas média de 46 km. Mas, usando exclusivamente o modo Eco e também o modo B da transmissão, potenciando a eficiência energética sempre que possível, terminei com um consumo de 13 kWh.

Com o e-2008, utilizando os mesmos métodos de condução, em percurso idêntico, com uma média de 45 km/h, não consegui melhor do que 14,6 kWh/100 km.

Em ambos os casos, estes consumos são inferiores aos divulgados pelo construtor. Mas há que admitir que obrigam a uma condução bastante dedicada. Os utilizadores habituais de veículos elétricos sabem do que falo, mas quem passe de um modelo equivalente com motor de combustão terá que alterar o seu estilo de condução para obter resultados semelhantes.

Então o alcance do e-2008 será limitado?

Não me parece adequada essa conclusão. Mesmo que, em condições reais, o alcance fique abaixo dos 300 quilómetros. É precisa uma utilização diária muito intensa para que isso seja um problema. Para viagens, enquanto a rede de carregamentos for limitada, é necessária alguma planificação, mas para a grande maioria das utilizações, será mais do que suficiente.

Com o e-2008, a Peugeot conseguiu um produto equilibrado, com uma relação custo/benefício adequada. As opções tecnológicas parecem-me acertadas para a sua gama de preço.

Além disso, é um automóvel familiar, confortável e muito prático.

É um bom automóvel elétrico, o e-2008?

Neste contacto ficou sem dúvida uma boa impressão. Aqueles utilizadores que gostam de ter vários níveis de recuperação de energia, ou acesso direto ao State of Health da bateria talvez achem pouco aventureiro. Mas a Peugeot quis simplificar a experiência de utilização de um elétrico. Quando o produto é dirigido ao público em geral, esta abordagem faz todo o sentido. Para muitas pessoas, este será provavelmente o seu primeiro elétrico.

Esta nova vaga de modelos elétricos quer tornar-se mainstream. Tem que afastar-se da ideia de que é um automóvel para especialistas.

E o que há de menos positivo?

Há algumas escolhas do construtor que podiam ser mais ambiciosas. Nesses pequenos detalhes, os fabricantes tradicionais continuam um pouco presos ao “sistema”.

Não conseguem libertar-se das visitas ao concessionário, por exemplo, para realizar uma atualização de software que podia ser feita “sem fios”.

Do que não gostei mesmo foi da lentidão do sistema de navegação e do tempo de resposta também do ecrã tátil a algumas solicitações. Pode ser que uma futura atualização resolva…

E quanto a preços, que tal o posicionamento do e-2008?

Há uma diferença de cerca de €10.000 entre o 2008 com motor de combustão e equipamento equivalente e o e-2008.

Os valores começam nos €36.600 para a versão Active. O Allure começa nos €38.350, o GT Line, nos €40.550 e o GT, nos €43.450.

Sendo que os faróis Full Led só estão disponíveis a partir do GT Line. O Pack Assist Plus e o sistema de navegação 3D são opcionais a partir do nível Allure.

No momento em que escrevo, há uma campanha em vigor com desconto de €2500 para particulares com retoma, o que explica valores diferentes no configurador oficial.

Pode ver aqui as cores disponíveis e os respetivos preços, na versão GT.

O balanço final é?…

Um veículo elétrico bem concebido, com uma rede de apoio e pós-venda tradicionais. Com este tipo de carroçaria, é também o mais acessível do mercado.

Os pergaminhos do comportamento em estrada da marca parecem assegurados, ajudados também pelo centro de gravidade mais baixo.

A facilidade de utilização é um dos pontos a favor. Todas as vantagens de um elétrico sem complicações adicionais. É só lembrar de o ligar à ficha quando não estiver a ser usado.

Vai estar disponível a partir de abril em Portugal e parece para poder ter um papel importante na transição para a mobilidade elétrica. Tanto da Peugeot, como dos seus clientes, tradicionais ou recém-chegados.

Pode conferir os dados técnicos, as nossas estimativas de consumo real e alguns dos concorrentes na nossa secção de Mercado.

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