Telemóveis antigos ajudam a parar deflorestação da Amazónia

30/04/2018

Podem os telemóveis antigos ajudar a parar a deflorestação? Sim, isso é possível. A tribo Tembé da Amazónia Central está a utilizá-los, num projeto que conta com o apoio da Google. Saiba como.

Os telemóveis e smartphones antigos e a TensorFlow, biblioteca de Machine Learning de open source desenvolvida pela Google, podem vir a ajuda a impedir a deflorestação da Amazónia e contribuir, dessa forma, para a proteção do planeta. A tribo Tembé da Amazónia Central deposita, pelo menos, esperança nisso. Tudo graças a um projeto que envolve a Rainforest Connection, uma entidade ambiental sem fins lucrativos, e a Google. Como? Os Tembé estão a utilizar smartphones e telemóveis antigos escondidos em árvores e o TensorFlow, o código aberto do Google.

20% da Amazónia já foi destruída

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e lar de um quarto da biodiversidade do mundo. Todavia, desde 1970, 20% da Amazónia foi destruída pelo desmatamento.

Os índios pertencentes à etnia Tembé vivem na Terra Indígena Alto Rio Guamá, no nordeste do estado do Pará, Brasil.

A própria tribo Tembé é vítima deste processo: vive em 2800 km2 de floresta tropical no norte do Brasil e mais de 30% do seu território foi desmatado por pecuária, incêndios e extração ilegal de madeira.

Apesar das denúncias, os madeireiros ilegais entram na terra dos Tembé sob a cobertura da noite e podem, com relativa facilidade, dizimar centenas de hectares de floresta sem serem detectados. Os sons sempre presentes da floresta tropical abafam o barulho das motosserras e dos camiões dos madeireiros. A monitorização de milhares de quilómetros quadrados de floresta tropical é, assim, uma missão quase impossível.

Algoritmos no “pulmão do planeta”

O TensorFlow é uma biblioteca de software de código aberto (open source) para computação numérica usando gráficos de fluxo de dados. É, por assim, dizer uma biblioteca para a aprendizagem de máquina. Através da programação e do uso de algoritmos, o computador aprende padrões e em função disso reage e sabe interpretar dados. Usa inteligência artificial. O TensorFlow é desenvolvido pela Google, mas está disponivel para várias linguagens de programação para que os próprios utilizadores, partindo da base cedida pela Google, possa criar os seus próprios programas adaptados às suas necessidades. Neste vídeo, pode ficar com uma ideia do que é esta aprendizagem das máquinas.

 

Para tentar cobro a isto e tentar detetar novas atividades ilegais de extração de madeira, o chefe da tribo Naldo Tembé entrou em 2014 em contato com Topher White, fundador da organização ambientalista sem fins lucrativos Rainforest Connection, e juntos embarcaram num projeto ambicioso que passa pela utilização de telemóveis Android reciclados e do TensorFlow, o modelo de computação numérica de código aberto do Google, para rastrear os sons da exploração florestal ilegal em tempo real.

Assim, dispositivos com base em sistema operativo Android são afixados a um adaptador de energia solar e a um microfone externo. Esses dispositivos, apelidados de “Guardiões”, ouvem todos os sons da floresta 24 horas por dia, não lhe faltando a alimentação por via do carregamento ser fotovoltaico. E ao estarem à escuta em permanência, podem também ouvir os sons da extração ilegal de madeira a até 1 km de distância.

CADA DISPOSITIVO MONITORIZA O SOM CONTÍNUO DA FLORESTA

Ao estarem escondidos no alto das árvores, os dispositivos passam despercebidos e conseguem uma melhor cobertura de rede para comunicarem. O tempo todo.

Padrões de sons identificados

Os dispositivos são feitos por estudantes de Los Angeles ao abrigo do programa de educação STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics).

O modelo TensorFlow da Rainforest Connection utiliza a aprendizagem computacional para analisar constantemente o áudio gravado pelos “Guardiões” e aprende a identificar os sons de motosserras e o dos camiões de madeira.

Poucos minutos após algo estranho ser identificado (sons associados a intrusão humana, como correntes, camiões ou armas, entre outros), um alerta em tempo real é enviado aos “batedores” Tembé, uma espécie de força de segurança selecionada entre os residentes na tribo, que podem intervir ou relatar a atividade madeireira às autoridades.

A Rainforest Connection está a disponibilizar este mesmo sistema de monitorização acústico noutros parceiros que combatem a deflorestação noutros países, como Peru, Equador e Roménia.

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