EV parados muito tempo: cuidados a ter para evitar danos

10/03/2021

Com a pandemia, não são apenas as pessoas a ficarem confinadas às suas casas. Também os veículos ficam estacionados durante largas semanas no mesmo sítio.

No caso concreto dos veículos elétricos há um tema incontornável que surge: as baterias. Descarregam? Que efeitos sofrem com uma longa paragem? Devo manter o EV ligado em permanência à corrente? Que cuidados há que ter para evitar danos na viatura?

Os veículos elétricos estão equipados com baterias de grande capacidade. No entanto, isso não os torna imunes a verem as suas baterias descarregadas. Ou seja, sim, podem descarregar numa situação de parqueamento de longa duração, ainda que essa descarga seja ténue.

Ritmo de perda de energia

Segundo alguns cálculos, um EV totalmente parado irá perder cerca de 3% a 5% de carga por mês, havendo situações em que essa perda pode ser de aproximadamente 1% por dia.

Naturalmente que quanto maior for o tempo de imobilização, mais serão as perdas. E quanto mais exposto um veículo estiver a diferenças térmicas significativas (muito frio e muito calor) mais as perdas se podem acentuar.

Os veículos elétricos também dispõem de uma bateria de 12v (idêntica à dos veículos com motores de combustão interna), a qual tem como função alimentar todos os acessórios elétricos de 12v da viatura (como luzes, limpa-vidros, sistema de assistência à travagem, entre outros) e acionar o sistema de alta voltagem.

Isto significa que é muito mais provável que tenha problemas com uma bateria descarregada de 12v do que com a bateria de iões de lítio principal.

E se a bateria de 12v claudicar, o arranque do EV, ao “dar à chave”, fica comprometido.

Todavia – e esta é outra vantagem que um EV tem face a um automóvel a gasolina ou a gasóleo – dado que esta bateria auxiliar de 12v é recarregada pela bateria de alta tensão através de um conversor DC/DC não é previsível que venha a ter problemas de energia após um longo período de imobilização, desde que, claro, tenha o cuidado de que o pack de baterias de iões de lítio esteja com energia.

Ainda assim, o problema de um EV ficar estacionado durante imenso tempo nem é, verdadeiramente, a descarga que pode ocorrer (embora deva verificar se mantém ativados alguns automatismos no veículo, como os horários de pré-aquecimento ou de pré-refrigeração, pois se se esquecer disso, a bateria ficará seca ao fim de alguns dias), mas sim o nível de carga com que a bateria está e é mantida. Vamos explicar.

Faixa de carga intermédia

À semelhança de qualquer aparelho eletrónico com uma bateria de iões de lítio – caso também de um telemóvel –, as baterias dos veículos elétricos devem ser mantidas numa faixa de carga intermédia. Tê-las com excesso de carga é prejudicial (acima de 80%), da mesma forma que é negativo deixar o nível de carga baixar em demasia (a menos de 20% ou 25% e mais ainda uma descarga completa das células de iões de lítio que acelera a degradação da bateria).

Quando os veículos permanecem estacionado durante mais de três meses com um nível de carga próximo do zero, o carregamento da bateria pode até ser impossível.

Posto isto, há 3 ideias a reter:

Bateria a 50%-60%

Quando, ao estacionar um EV e for previsível que ele vá ficar um longo tempo parado, procure que a bateria tenha meia carga – um nível a rondar os 50% ou 60%.

Essa quantidade dá margem para acomodar uma lenta diminuição da capacidade de energia que venha a surgir e permite que um pequeno carregamento seja suficiente para repor a bateria de novo num patamar confortável.

Verificar, por isso, o nível de carga durante os dias de imobilização do automóvel é uma atitude prudente para poder agir em conformidade, designadamente recarregar o suficiente quando tal for necessário.

Ligado em permanência à corrente?

Outro tema relevante prende-se com o facto do EV ser ligado em permanência à corrente.

Se for feito sem a gestão de carga programável ativada, esse procedimento não é aconselhável. Não estamos a falar de um carregamento pontual a 100%. Referimo-nos a quando esse gesto é repetido sucessivamente – aí, a bateria pode ir ficando viciada, perdendo capacidade.

Para evitar que isso ocorra e tendo garagem, deverá programar nas definições do automóvel um limite máximo de carga (até ao qual a energia é aceite pela bateria do automóvel – 80% é uma boa fasquia).

Ao fazer isso, ter a viatura ligada à tomada não é problemático: o sistema desperta e adormece em função dos níveis programados de carga. Aliás, há marcas até que recomendam que, com o sistema de programação ativo, possa deixar o veículo à carga sem que isso constitua problema.

O perigo do 0% e do 100%

A faixa de utilização que mais preserva a bateria situa-se entre 20%-80%. Procure utilizar o veículo dentro desta baliza. E tendo a viatura parqueada a lógica mantém-se.

Relativamente aos níveis máximos de carga, apenas desbloqueie o limite máximo da carga acima de 80% ou 90% quando precisar de uma autonomia extra para uma viagem maior.

Os 100% não são, assim, uma boa meta no caso das baterias dos EV. De resto, para preservar a vida da bateria de tração, os construtores aconselham que evite estacionar o seu veículo durante mais de um mês com um nível de carga elevado, sobretudo durante os períodos de calor forte.

Isto significa que quando a energia disponível estiver já na casa dos 20%, coloque o veículo à carga (a longevidade das baterias fica ferida quando a carga alcança níveis baixos). E se inadvertidamente tiver colocado a bateria com um nível acima de 80% ligue, por exemplo, as luzes, o ar condicionado e o rádio para queimarem a energia suficiente para fazer baixar a carga para um nível mais intermédio.

Relativamente às baterias, é importante passar a mensagem de que mesmo que o computador de bordo do veículo exiba a indicação de que a bateria está com 100%, na realidade isso não corresponde à verdade.

Os fabricantes fazem sair as baterias de fábrica com uma capacidade disponível (um valor líquido) menor do que a capacidade total (valor bruto).

A diferença entre ambos os valores é uma espécie de reserva de segurança. Não é possível afirmar com rigor qual a percentagem que o valor líquido da bateria retira ao valor bruto, pois isso depende das marcas de automóveis, dos modelos e dos fabricantes de baterias. Contudo, é factual que a capacidade real da bateria não coincide com os 100% que surgem no monitor do veículo.

Aliás, recordemos que quando os EUA foram afetados pelos furacões Irma (setembro de 2017) e Florence (setembro de 2018), a Tesla ativou medidas de emergência dos seus elétricos – de um modo remoto, programou as baterias para receber a capacidade máxima de carga de 75 kWh dos modelos S e X, conferindo-lhes temporariamente uma autonomia de mais cerca de 50 km.

Do mesmo modo, os 0% de carga que a bateria de um EV acusa não é real. Também aqui, é deixada uma reserva energética de segurança (igualmente variável) para evitar a morte da bateria.

No entanto e apesar de existir esta tolerância (nos 100% e nos 0%), os extremos apresentados pelo computador de bordo ao condutor não devem ser atingidos, a bem da saúde da bateria.

Entre uma situação extrema (0%) e outra (100% de carga) é preferível mesmo assim a carga máxima do que a carga nula, pois com 0% outros componentes podem ficar danificados e exigir substituição, incluindo a bateria de 12v.

Outros cuidados para além das baterias

Extra bateria, um longo período de imobilização também levanta outras preocupações num automóvel. São cuidados transversais a qualquer viatura, independentemente da sua motorização, isto é, sejam eles elétricos ou não.

Risco de pneus ficarem deformados

Os pneus são um dos aspetos aos quais deverá também prestar atenção. Quando imobilizados, os veículos podem causar deformações à borracha dos pneus por estarem muito tempo na mesma posição. No fundo, podem ficar ligeiramente “achatados”, sendo essa situação mais flagrante se a pressão for baixa.

Para evitar esse problema e considerando que os pneus tendem a perder ar (os pneus mais velhos mais do que os pneus mais novos), deve preocupar-se em verificar regularmente se os pneumáticos têm a pressão recomendada.

Se necessário, saia com o veículo e percorra a distância estritamente necessária para repor a pressão dos pneus numa estação de serviço ou oficina. Sempre com máscara e mantendo as distâncias de segurança.

Regresse a casa e estacione de novo o veículo, sem esquecer a higienização das mãos.

Se for previsível que a viatura estará imobilizada durante um mês ou mesmo mais, encha o ar dos pneus com a pressão máxima indicada. Assim, estará a contribuir para dar mais saúde aos pneus.

Sujidade danifica pintura

Com o veículo imobilizado dias fio e se estiver parqueado na rua, vá passando ocasionalmente para ver, igualmente, o seu estado de sujidade. Dejetos de pássaro deverão ser removidos, pois a pintura pode ficar estragada.

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Borracha das escovas

Zele ainda pelo estado da borracha das escovas limpa para-brisas, levantando as armações (para evitar que a borracha se cole ao vidro) ou envolvendo as escovas num pano.

Para proteger o tablier se a viatura estiver estacionada na rua utilize um tapa sol.

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Habitáculo limpo

Para além do exterior, também o interior deve merecer atenção, sendo recomendável que limpe o habitáculo antes de estacionar o veículo. As pessoas tendem a deixar lixo nos veículos, incluindo embalagens de comida, (como bolachas ou biscoitos, com migalhas dentro), jornais velhos e garrafas de água.

Tudo isso pode apodrecer ou mesmo, quando a imobilização se arrastar no tempo, atrair insetos ou mesmo roedores que podem danificar os tapetes ou as capas dos assentos. Portanto, limpe bem o interior.

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Seguro: obrigatório e em dia

Outro aspeto relevante ao qual deve prestar atenção e não negligenciar passa por garantir que o seguro do automóvel se manterá válido. Para os condutores que não têm a apólice automóvel a ser paga por débito direto, um longo período de imobilização da viatura poderá levar a que se esqueça de renovar o prémio do seguro.

Se o seu veículo estiver na via pública tem de ter seguro de responsabilidade civil, mesmo que não circule. Por isso, não deixe passar a data limite de pagamento do recibo do seu seguro automóvel, sob pena da seguradora lhe anular a apólice.

Nada de facilitar!

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