Mobilidade elétrica em Portugal: especialistas dizem o que falta ainda fazer

22/10/2020

No passado dia 15 de outubro, a BMW Portugal promoveu um debate, com o contributo de diferentes entidades, com o mote “Mobilidade do Futuro”, ao qual o Watts On assistiu online. O objetivo era analisar o que está e o que pode ainda vir a ser feito nesta área.

A sessão BMW e-Drive TALK | Mobilidade do Futuro contou com a participação de Massimo Senatore (Diretor Geral da BMW Portugal), Pedro Silva, (CTO da Critical TechWorks), Nicolas Keutgen (Chief Innovation Officer da Schréder & criador da Schréder-Hyperion), Henrique Sánchez (Presidente do Conselho Diretivo da UVE) e Luís Natal Marques (Presidente do Conselho de Administração da EMEL – Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa).

Na troca de ideias, que durou cerca de uma hora, Massimo Senatore, Diretor Geral da BMW Portugal, os portugueses estão já a mudar os seus hábitos e as suas mentalidades, vendo a “mobilidade elétrica como uma realidade”, já que, atualmente um em cada dez carros novos vendidos em Portugal já é eletrificado. No caso da BMW, esse rácio é de 1 BMW eletrificados por cada 4 veículos vendidos, ao passo que na Mini essa relação é de quase 30%.

Massimo Senatore, Diretor Geral da BMW Portugal

O responsável da BMW em Portugal refere, todavia, que a infraestrutura pública de postos de carregamento ainda é insuficiente, tendo de ser melhorada de modo a incentivar a população a aderir aos veículos elétricos. “Para que seja possível um uso mais intenso, é necessário alargar a rede de postos, incentivando mais players para massificar a oferta”, destacou.

Massimo Senatore ressalva, ainda, a importância dos incentivos para a aquisição e uso de EV que o Estado dá atualmente às frotas empresariais também serem alargados “aos clientes particulares, que estão atentos e disponíveis para esta mudança de paradigma e para a compra de veículos eletrificados”.

“O TARGET PARTICULAR TEM DE SER UM FOCO” SUBLINHA O Nº1 DA BMW EM PORTUGAL.

O Presidente do Conselho Diretivo da UVE, Henrique Sánchez, defendeu nesta painel de debate que “para a sociedade ter um ‘mindset’ mais sustentável, é necessário haver uma maior diversificação das marcas na oferta de modelos 100% elétricos, em diferentes segmentos”, concordando com Massimo Senatore na necessidade da melhoria da rede de carregamento.
Henrique Sánchez, Presidente da UVE

Apesar da evolução que tem havido, o presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos entende que “a rede pública de carregamento ainda é fraca”. Henrique Sánchez recordou quando, em 2011, começou a usar um elétrico, um Nissan Leaf, havia apenas cinco postos de carregamento rápido no país. “Hoje, é diferente e temos cerca de 400 postos rápidos em todo o território”, assinala a UVE.

Os utilizadores de veículos elétricos pedem, por isso, “um reforço da rede pública de carregamento e o alargamento dos incentivos do Estado, como aconteceu, por exemplo, na Noruega, que registou um aumento da procura graças a um conjunto de incentivos generalizados”.

Insistindo no exemplo da Noruega, Henrique Sánchez afirma que esta nação nórdica “só deu o salto porque teve um pacote generoso de incentivos do Estado, inclusivamente para particulares e ao nível da redução do IVA”.

MAIS INCENTIVOS E MELHORIA DA REDE DE CARREGAMENTO É INDISPENSÁVEL, INSISTEM UTILIZADORES

Em Portugal, “é necessário mais do que os benefícios que existem atualmente na ordem dos três mil euros”, diz a UVE.

Outro ponto enfatizado por Henrique Sánchez foi no sentido de que a informação é crucial para as pessoas e empresas aderirem a um pensamento mais sustentável, acreditando que existe ainda algum preconceito em relação aos veículos 100% elétricos.

Aproveitando a presença no debate de um responsável de um construtor automóvel, o responsável da UVE lançou o desafio às marcas de passarem a poder disponibilizar test drives de maior duração aos seus potenciais clientes e interessados: “Os test-drive devem ter um período mais alargado, de dois ou três dias, para que os consumidores possam integrar o veículo na sua rotina diária, levando-o para casa e ver como ele funciona, na prática. Há muito falatório nas redes sociais, mas é importante que os portugueses façam efetivamente um test-drive para desmistificarem alguns preconceitos”.

Pedro Silva, da Critical TechWorks, considera que “o mercado português está a reagir”, começando “a existir uma alteração de comportamentos e mentalidades, com uma maior oferta da gama de veículos 100% elétricos e uma maior penetração dos mesmos na sociedade”.

Pedro Silva, CTO da Critical TechWorks

O CTO da Critical TechWorks, joint-venture entre o BMW Group e a Critical Software, destaca ainda o trabalho desenvolvido em conjunto com a BMW para a criação de “um programa de fidelização” virado para os utilizadores elétricoa, a aplicação BMW Points, “que em breve irá ser lançado em Portugal”.

Segundo Pedro Silva, este novo programa, pretende analisar o “comportamento elétrico” da população, já que por cada quilómetro percorrido em modo elétrico, o condutor ganhará um ponto, “que depois pode usar como crédito para fazer carregamentos gratuitos nos postos, de forma a criar uma motivação adicional”, salienta o responsável da tecnológica.

“TEMOS DE REFORÇAR A REDE PÚBLICA DE CARREGAMENTO”, AFIRMA O CTO DA CRITICAL TECHWORKS

No debate, Pedro Silva também considera que “temos de reforçar a rede pública de carregamento. Serão esses os pontos nevrálgicos da mobilidade elétrica”.

Luís Natal Marques, Presidente da EMEL, destaca que o objetivo da empresa que dirige “é transformar Lisboa numa smart city” e que, por isso, têm sido criadas “ações concretas”, nomeadamente, com “cada vez mais restrições à circulação dos automóveis e com a existência de transportes mais limpos e partilhados”.

Luís Natal Marques, Presidente da EMEL

Na visão da EMEL, é também necessário fazer um apelo aos cidadãos, para serem eles os protagonistas da mudança, ao desafiarem os governos a adotarem medidas concretas neste setor.

Luís Natal Marques salienta o papel que as entidades podem ter na contribuição para a mobilidade através da criação de infraestruturas, dando o exemplo da EMEL que está “a trabalhar na sensorização de todo o eixo central da cidade de Lisboa para analisar a taxa ocupação do estacionamento, uma vez que muito do trânsito que existe é o chamado ‘parasita’, isto é, com os condutores à procura de lugar para estacionar o seu veículo”.

Para o nº1 da EMEL, este género de medidas confirma que a EMEL pretende “ser parte ativa da solução para que a cidade de Lisboa evolua”.

Ainda sobre as vantagens da sensorização nos centros urbanos, Nicolas Keutgen (Schréder-Hyperion) realça que no contexto das cidades inteligentes a mobilidade é apenas uma parte, sendo que os projetos que a Schréder tem implementado permitem já estabelecer uma rede que gera dados que podem ser empregues na condução autónoma.

Nicolas Keutgen, Chief Innovation Officer da Schréder & criador da Schréder-Hyperion

Keutgen nomeou alguns projetos que a Schréder desenvolveu na promoção da mobilidade mais sustentável, como a utilização de postos de iluminação para carregar os veículos. Outro projeto feito em conjunto com a BMW passou por acrescentar uma câmara para aumentar a segurança do veículo onde ele ficou estacionado ou até para medir o tempo que o veículo fica em determinado lugar do estacionamento.

Keutgen mostra ainda as vantagens de uma smart city na construção de metrópoles mais agradáveis de viver: “Em média, 30% do tráfego no centro de uma cidade é gasto a tentar encontrar um lugar de estacionamento. Isso gera também uma poluição adicional. Com uma cidade sensorizada e uma smart city, conseguimos ajudar os automobilistas de maneira mais fácil e rápida a encontrar um lugar para estacionar e, assim, reduz-se esse movimento de veículos e essa poluição”.

“COM UMA CIDADE SENSORIZADA, CONSEGUIMOS AJUDAR OS AUTOMOBILISTAS A ENCONTRAR MAIS FACILMENTE UM LUGAR PARA ESTACIONAR”, APONTA NICOLAS KEUTGEN

Este género de projetos – considera Keutgen – podem ser uma mais-valia para o planeamento das cidades e, no caso da cidade de Lisboa, para o trabalho que a EMEL está a desenvolver. Além disso, o criador da Schréder-Hyperion destaca alguns aspetos que podem contribuir para Portugal se posicionar na vanguarda do setor, nomeadamente, por ser um país pequeno, com cidades mais pequenas, onde as políticas públicas utilizadasmais fáceis de integrar do que, por exemplo, na Bélgica de onde a Schréder Hyperion é originária.

Este responsável destaca, ainda, que Portugal tem “a vantagem de ters instituições públicas mais sensíveis à inovação, a base para conseguirmos planear e imaginar a cidade inteligente do futuro”, conclui Nicolas Keutgen.

Conclusão do debate

“Dez anos passados desde a entrada da mobilidade elétrica no país, a conclusão é unânime: Portugal tem ainda um grande caminho a percorrer, sendo essencial continuar a criar medidas que promovam esse crescimento e evolução e, sempre que possível, num esforço conjunto. Foi esse o propósito deste colóquio ao reunir representantes de instituições e entidades de setores diferentes, que já são uma parte ativa dessa vontade comum de mudança de paradigma para Portugal, e recorrendo a tecnologia e talento português”, destacam os promotores do debate BMW e-Drive TALK | Mobilidade do Futuro.