Web Summit: Carros voadores, novas formas de mobilidade e serviço digitais

A indústria automóvel está a acompanhar a evolução digital e durante o Web Summit, que decorreu de 6 a 9 de novembro em Lisboa, foram várias as empresas que apresentaram inovações no campo tecnológico. Entre as principais tendências que passaram pelos palcos AutoTech/Talk Robot e Center Stage, destaque para as soluções de mobilidade e os serviços digitais.

A Daimler veio ao evento falar do seu processo de digitalização e apresentou o primeiro assistente digital da indústria, o Ask Mercedes. Sabine Scheunert, Chief Digital Officer da empresa, revelou que o chatbot cognitivo com Inteligência Artificial (IA), que será lançado dentro de alguns dias, tem como objetivo levar o Customer Care a outro nível, permitindo que os clientes e potenciais clientes interajam com os serviços da fabricante de automóveis 24 horas por dia, usando comandos ativados por voz ou chat.

A solução terá versões em diversas línguas e para todos os clientes, mesmo os que não possuam carros com conectividade. O Ask Mercedes será disponibilizado nos veículos mais recentes, mas, também, estará acessível através de app para smartphone ou do sistema ativado por voz, Google Assistant. A aplicação terá ainda Realidade Aumentada mas não foram dados mais detalhes sobre esta funcionalidade.

A CDO da Daimler anunciou ainda uma nova plataforma para desenvolvedores que disponibiliza as APIs da empresa para que possam ser aproveitadas por terceiros e o “The Digital Twin.” Este serviço vai criar um fac-símile digital de cada configuração e de cada carro Mercedes-Benz construído e oferecer ao cliente a possibilidade upgrades tecnológicos ao veículo over the air, manutenção preditiva e proporcionar as melhores soluções personalizadas baseadas nos gostos no seu gosto.

A transformação digital da companhia alemã acontece porque para ser um fabricante de automóveis de sucesso não chega só construir carros, é preciso oferecer aos clientes uma experiência única. Aliás esta é também a visão da BMW, apresentada pelo seu SVP de Digital Products and Services, Digitalization & Customer Interface, Dieter May.

O responsável da fabricante da Baviera revelou que, segundo um estudo realizado pela BMW, a experiência digital já é um critério de compra quando se escolhe um carro. Desta forma, a nova estratégia do grupo alemão está assente em 4 pilares: veículos autónomos, elétricos, conectados e partilhados. A ideia é oferecer aos clientes experiências digitais novas mensal ou bimensalmente num rápido ciclo de inovação e com personalização das ofertas, criando maior engajamento.

Dieter May anunciou que, em dezembro, os veículos do grupo terão integração com o Google Assistant e Google Home e que, no início do ano, esta chegará à assistente da Amazon, a Alexa. A BMW tem uma abordagem horizontal no que diz à conectividade dos seus carros com aplicações que funcionem uniformemente entre smartphones, wearables, a web e assistentes virtuais, sendo este o aspecto diferenciador da fabricante de automóveis. O SVP finalizou dizendo que a mobilidade como serviço (mobility-as-a-service) está a chegar e que a marca esta atenta e oferecerá a solução certa no tempo certo.

Das corridas para as estradas

Mike O’Driscoll, CEO da Williams Grand Prix Holdings, começou por fazer uma breve introdução da equipa, referindo que a Formula 1 é o desporto motorizado mais avançado a nível tecnológico que existe e que todas inovações e experiência desenvolvidas nas corridas são, mais tarde, transpostas para outros veículos e produtos através da Williams Advanced Engineering: “A Williams tornou-se sinónimo de engenharia de excelência e inovação. Somos uma empresa de engenharia que aconteceu ir para a Fórmula 1 e isso está no centro de tudo o que fazemos”, disse o executivo. “Os F1 são carros conectados há 30 anos” o que demonstra bem a inovação tecnológica que existe neste desporto. Dando um exemplo de quão rápida é a evolução na Fórmula 1, o CEO explicou que o ciclo de vida da asa dianteira de um carro é de 7 semanas e que assim que um produto esta pronto a ser usado, outro melhor já esta a ser desenvolvido para o substituir.

Craig Wilson, Managing Director da Williams Advanced Engineering subiu ao palco para falar do outro lado da companhia, aplicado aos mais diversos mercados. Uma das referências dadas foi a construção do Jaguar C-X75, um veiculo híbrido com motor elétrico desenvolvido em parceria entre a equipa britânica e a fabricante de automóveis e que foi usado no último filme de James Bond.

Mas não é só indústria automóvel em que as soluções da Williams são usadas. A empresa desenvolve produtos para outras áreas, entre elas a saúde. O responsável mostrou ao público imagens de uma cápsula feita com base no monocoque dos carros de F1, para recém-nascidos em estado crítico que requerem transporte urgente.

O responsável da Williams mostrou ao público imagens de uma cápsula feita com base no monocoque dos carros de F1, para recém-nascidos em estado crítico que requerem transporte urgente

Outra das inovações apresentadas refere-se às baterias dos veículos elétricos, a companhia está a trabalhar numa solução que fornece uma segunda vida às mesmas quando são removidas. Através de um interface e software, as baterias “pensam” que ainda estão ligadas aos carros e transformam-se em fontes de energia dinâmica em casas e fábricas.“A mobilidade elétrica está a chegar rapidamente” e a Williams desenvolveu uma plataforma EV, a FW-EVX, para ajudar a criar veículos elétricos mais leves, mais seguros, menos poluentes e com melhor performance. Craig Wilson afirmou que esta inovação é uma plataforma para a mobilidade do futuro.

O futuro da mobilidade

A mobilidade é um assunto que afeta especialmente as cidades onde vive metade da população mundial e durante os três dias da conferência muito se falou de carros e sistemas de condução autónomos, um mercado que, segundo as projeções da Goldman Sachs, deve atingir, em 2025, os 96 mil milhões de dólares.

Mas as soluções de mobilidade estão a mudar e se num futuro próximo os veículos sem condutor serão uma realidade, os chamados carros voadores da Uber não estão tão longe quanto isso. Jeff Holden, CPO da maior startup do mundo, anunciou na quarta-feira (8/11) que o serviço UberAIR, que consiste em veículos elétricos voadores com capacidade para 4 passageiros, vai chegar a Los Angeles em 2020.

O CPO da Uber começou por dizer que “os transportes nas cidades não são eficientes” e que o facto de estas estarem em rápido crescimento origina inúmeros problemas de tráfego mas também de estacionamento. Foi com a intenção de ajudar a resolver estas dificuldades que a empresa de mobilidade decidiu apostar em carros autónomos, mas dado que os mesmos ainda não são suficientemente eficientes, continuaram a investigar. Assim, chegaram aos veículos com DEP (Distributed Electric Propulsion), ou seja, voadores e não poluentes com diversos sistemas de propulsão. Esta solução é “muito segura porque mesmo que falhe um dos motores, o aparelho continua a conseguir voar”, explicou.

O carregamento destes carros-drone é feito através da solução da Chargepoint que permite abastecer de energia durante o pouso, enquanto os passageiros entram. Para termos uma ideia dos consumos, Jeff Holden indicou que uma viagem de Lisboa a Cascais irá consumir 1/3 da bateria.

O CPO referiu que o objetivo é que o “serviço tenha o mesmo preço do Uber X”. Esta será uma verdadeira revolução nos meios de transporte e uma tendência que está a ser seguida por outras companhias como a Volocopter, a Airbus e, em Portugal, pelo Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), que apresentou, esta semana, o seu projeto de carro voador Flow.me.

Mafalda Freire