Agora que o mundo já conhece o novo M8, decidi pegar num belo exemplar de 1991, num novíssimo m850i e em 20de gasolina e perceber que história é esta do “série 8”

Não demorei muito a perceber à medida que esta elegante besta dos anos noventa rolava devagar até mim, minutos antes do dono me entregar a chave. Aí estava ele, o e31 850i. O carro que já tinha feito parte dos meus posters do quarto nos anos noventa, ao lado do Bugatti B110 e do Ferrari F40.

É um sonho. É um homem de blazer e calça vincada mas com penteado para trás e óculos da moda. Um gentleman de alma jovem, um poço de experiência sem querer ser nunca chamado de “cota”.

Esta beldade faz-nos questionar porque é que hoje em dia os carros parecem desenhados por alguém com parkinson, quando basta fazer quatro ou cinco traços com régua e esquadro para se atingir a perfeição.

Sim, a perfeição, ou algo perto disso, sempre esteve na simplicidade e assertividade. Nós é que nos esquecemos disso. Ou pelo menos esquecemo-nos até sermos brindados com a oportunidade de ver um destes V12 passar por nós.

É elegante e simples. Funcional, com tudo o que é preciso sem ter que chamar a atenção, mas chamando. Um carro em equilíbrio em qualquer canto. Tanto nos dá um design simples e elegante, como nos brinda com a excentricidade da tecnologia que nem existia bem na altura. Um homem maduro que ainda é jovem irreverente e na moda.

Pop-up lights, gps, computador de bordo, controlo de tracção e um v12 de 300cv.

Isto não é um carro. É o cartão de visita dos anos 90.

Entretanto os meus 20€ de gasolina acabaram. Não esperava outra coisa, os 90s já passaram e já não vivemos na época em que quatro contos dava para ir almoçar ao Guincho, voltar e ainda comprar umas chiclas Hollywood.

Não me importei, pois o que aí vinha prometia dar-me a mesma pica que o David Hasselhoff tinha com o KITT.

O novo série 8 é sem dúvida o BMW mais belo e apetecível. Desenhado por anjos certamente, este grand tourer apesar de comprido e de grelhas largas, faz sentir que tem claramente DNA partilhado com o antigo e31, e não um filho adoptado.

Não é um série 6 mais carote. O Série 6 era descaradamente um série 5 com menos duas portas. Este não. Este é um série 8 com coisas do série 5. É bem diferente.

Continua a fazer rodar pescoços por onde passa, continua a ter um design arrojado e fora de série para a sua altura, continua a ser uma loja de produtos tecnológicos com rodas. Exactamente tudo igual ao seu carro-avô.

Comprido, diferente, poderoso na sua era, um grande motor e presença. A receita do série 8 está toda aqui. E tal como e31 fez na sua altura, esta perfeição de 525cv é o cartão de visita da BMW de hoje.

Não nos deixa ser crianças e lançar a traseira em todas as curvas, devido ao seu sistema XDrive, e até isso faz sentido. Se o 850i era um gentleman, este m850i, com tanto cavalo a puxá-lo para a frente, tem que manter as quatro rodas no chão para manter a sua elegância, o seu charme e maturidade. É um senhor de fato e gravata e não um garoto de calções e havaianas.

Este vai ser certamente o último série 8 como sempre o conhecemos:: Um adulto maduro de alma jovem com imensa energia num fato elegante e charmoso.

O próximo sofrerá certamente da doença eléctrica, por isso é aproveitar enquanto ele ainda assim o é. Puro.

Joel Rodrigues/Petrolheart