
Quem entra nas instalações da FPAK em Matosinhos não se apercebe da revolução silenciosa. Criada em 1994 por Alfredo César Torres, para substituir a antiga Comissão Desportiva Nacional, a entidade que regula o desporto automóvel em Portugal prepara-se para cumprir 25 anos imersa num esforço de modernização. Essa foi a estratégia traçada por Ni Amorim quando, em 2017, tomou posse como o quinto presidente da história da FPAK, sucedendo a Manuel Mello Breyner. E a aposta não podia ser outra, sob pena do desporto automóvel continuar agarrado a um passado em que só era superado pelo futebol em termos de popularidade e visibilidade em Portugal. Os tempos mudam e no país há vários exemplos de federações que conseguiram catapultar os seus desportos para as agendas dos media e para a atenção do público generalista.
Atualmente, a FPAK divide a sua atividade por dois locais: a sede, em Lisboa, que foi alvo de obras de remodelação e que alberga a parte de marketing institucional e a área financeira; e a delegação de Matosinhos, também ela ampliada, onde está a coordenação técnica e desportiva. É entre estes dois polos que Ni Amorim divide a sua semana trabalho, com viagens constantes entre Porto e Lisboa, além de deslocações ao estrangeiro para compromissos da FIA. Quando o entrevistámos preparava-se para viajar até França para uma reunião da Comissão de Pilotos da FIA, presidida por Tom Kristensen e onde também estão outros ‘velhos’ conhecidos do ex-piloto português, como o belga Marc Duez ou o francês Yannick Dalmas, seu antigo companheiro de equipa. Não foi por acaso que Jean Todt gravou uma mensagem de vídeo personalizada para a recente Gala dos Campeões da FPAK, onde o presidente da FIA elogiava o trabalho que tem sido feito em Portugal.
A carreira de quase duas décadas no estrangeiro – como piloto pago para correr, por patrocinadores ou equipas – também deu a Ni Amorim a sensibilidade para dominar o lado político da função, sem perder o espírito prático e a proximidade com os intervenientes (pilotos, equipas, marcas, organizadores, imprensa, etc.). No ano passado, realizaram-se cerca de 330 provas de desporto automóvel e karting em Portugal, um número louco que o próprio presidente da FPAK gostaria de reduzir mas que não o impediu, por exemplo, de estar presente nas diversas galas de entrega de prémios no continente, na Madeira e nos Açores.
em 2018, realizaram-se cerca de 330 provas de desporto automóvel e karting em Portugal
“O número de provas só vai subir em 2019 porque teremos duas novas modalidades na FPAK: o Campeonato de Portugal de Arranques e o Campeonato de Portugal de Perícias. O ano passado tivemos o Trial 4×4 e o Drift a entrar, dois casos de sucesso e modalidades que atraem muito público. Mas em termos de volume total era preferível termos menos provas e com mais qualidade”, defende Ni Amorim.

Uma realidade que também contribuiu para o esforço de modernização tecnológica e qualificação de recursos humanos na FPAK. “O verdadeiro motor disto tudo é a equipa que me acompanha. Ao longo destes 19 meses fizemos um esforço para dotar a FPAK de novas tecnologias que agilizem os processos internos e que contribuam para a verdade desportiva. Este ano, pela primeira vez, vamos ter um circuito próprio de câmaras de vídeo para cobrir as pistas de Karting e de Offroad. Foi um investimento significativo mas é um ativo da FPAK, que vai ajudar a atuação dos colégios de comissários em duas modalidades onde tinham existido problemas.”
“O sistema de licenças online também está a funcionar em pleno, introduzimos um portal online onde os associados podem inscrever as suas provas e campeonatos, e também criámos um cartão com o passaporte técnico das viaturas, semelhante a um cartão multibanco, com um código eletrónico (QR Code) que permite aos comissários técnicos acederem em tempo real aos dados daquela viatura. No primeiro semestre deste ano vamos ter um novo site e uma nova APP para smartphones. O novo site vai, por exemplo, ter classificações atualizadas no próprio dia do final da prova e depois a app vai ter concentrar toda a comunicação com os concorrentes durante uma prova e ter todas as informações para o público. Tudo isto tem sido coordenado por uma equipa onde entrou gente nova e qualificada. É um trabalho para o presente e para o futuro da FPAK”, referiu Ni Amorim, que também reconhece a necessidade de continuar a apostar na divulgação de um desporto que, segundo dados da empresa Cision, gerou entre janeiro e outubro de 2018 mais de 42 milhões de euros de retorno mediático.
“Temos que fazer chegar a informação e os conteúdos às pessoas, principalmente nesta realidade dos media digitais.”
De entre os principais campeonatos sob a égide da FPAK, a Velocidade foi o que teve uma conjuntura mais difícil nos últimos anos. A empresa Full Eventos deixou de ser promotora da competição e em 2019 não existirá qualquer Campeonato de Portugal de Turismos, com os campeonatos nacionais de Clássicos e Legends a terem a companhia do novo Open de Portugal de Velocidade, com diferentes tipos de viaturas.
“A Velocidade é um problema crítico em Portugal há 10 anos, lembro-me que o último campeonato realmente forte que tivemos foi o PTCC. Em 2018 acabámos o ano com seis TCR e isso é inaceitável, por isso decidimos parar para pensar. Esta época há um novo promotor na Velocidade, a ANPAC (Associação Nacional de Pilotos de Automóveis Clássicos), que traz novas ideias e que será responsável pelos Clássicos, Legends e Open, que tem um regulamento como o do CER (Campeonato Espanhol de Resistência), que foi um sucesso. Durante o mês de fevereiro também deveremos saber se há quórum suficiente para um campeonato TCR Ibérico, até porque a fórmula dos TCR tem resultado um pouco por toda a Europa. Por outro lado, o troféu KIA Picanto deverá ter mais de 20 carros este ano e foi uma aposta muito válida na Velocidade em Portugal. Como se sabe, haverá um carro apoiado pela FPAK para um jovem piloto vindo do Karting e que passará por um teste de seleção.”
Mas é nos ralis que está o verdadeiro ex-líbris dos campeonatos nacionais de automobilismo, pelo menos ao nível da quantidade e qualidade do plantel. “Temos um dos melhores campeonatos nacionais de ralis da Europa e a vinda do Bruno Magalhães só reforça o leque de candidatos ao título. Acho que vamos voltar a ter um excelente campeonato e lembro que no ano passado o título foi discutido no último rali no Algarve por três pilotos. Por outro lado, a Montanha e o Offroad estão estáveis e o Todo-Terreno tem este ano um promotor, a Movielike, do grupo Movielight. E a Regularidade Histórica também tem um promotor com o qual, me parece, vamos dar um salto qualitativo.”
“PORTUGAL TEM um dos melhores campeonatos nacionais de ralis da Europa”

Assente na enorme popularidade de que goza em Portugal, o nível atual do Campeonato de Portugal de Ralis também se deve à presença de marcas como a Hyundai, Citroën e Skoda, algo que Ni Amorim identifica como crucial para a afirmação do automobilismo. “Há pouco tempo reunimos com seis marcas de automóveis porque quisemos ouvir o que eles esperam de nós. A presença das marcas aumenta o nível de profissionalismo e notoriedade do desporto e isso ficou visível com a Hyundai, Citroën, KIA e a Peugeot. Queremos continuar a crescer nesse sentido”, aponta o líder da FPAK. Como é habitual, a nova temporada do automobilismo nacional começa com o Rali Serras de Fafe, nos dias 22 e 23 de fevereiro.