Muito acarinhado na hora do regresso, com a assistência que lotava por completo a vasta sala, a aplaudi-lo de pé, Tiago Monteiro confessou ao MOTOR 24 que «foi emocionante», e sublinhou que «toda a gente envolvida neste campeonato percebeu o que passei. Muitas duvidavam, eu próprio cheguei a ter dúvidas, quanto a regressar um dia. Mas, há outros que nunca duvidaram e que me apoiaram a todos os níveis, desde membros da organização, media e pilotos. Apoiaram-me sempre, mantiveram a esperança e isso ajudou-me muito», confessou o piloto, que regressa, 18 meses depois, ao circuito onde sofreu o grave acidente.
Para cumprir dois dias de testes oficiais, antes do arranque da temporada, em Marraquexe (Marrocos), dias 5 a 7 de abril.
As semanas que ficaram para trás foram, aliás, de intenso trabalho. Desde janeiro, o piloto da Honda já deu a volta ao mundo, — «fomos a todas as pistas do campeonato, exceto as citadinas, o que equivaleu a trinta e oito viagens a dois ou três dias de testes por semana. O que é muito bom», sublinhou.
Quanto ao novo Honda Civic, Tiago Monteiro adiantou que «o carro é bom, não tem defeitos grandes e funciona bem em todas as pistas», mas ressalvou o facto de o BOP (Balance of Performance) poder alterar tudo.
Motivado e bastante determinado, Tiago Monteiro revelou que «em termos físicos, estou a 150 por cento. Sinto-me bem». Para trás ficou ano e meio de sofrimento, angústia e dúvidas.«Ao acidente parece que foi há quinze anos e talvez tenha sido uma forma de proteção do cérebro, pois só tenho factos positivos, para além das dores e das preocupações quanto ao regresso e de ter perdido o campeonato».
«Vou voltar mais forte»
Convicto, Tiago adiantou que «vou voltar mais forte e com mais vontade, depois deste resert importante. Tenho a motivação de um miúdo de 18 anos coma experiência de alguém que tem 40 anos de idade e mais de vinte de corridas. Voltei a ter prazer nas corridas, graças a esta oportunidade para renascer», confessou.
Ao longo do período de recuperação, houve dias negros, em que «estive várias vezes perto de abandonar. A situação não melhorava, e percebi como se pode entrar em depressão. Dei duas vezes a volta ao mundo, fui a 14 médicos diferentes, mas o apoio da minha família mexeu muito comigo. Ia parar porquê?».
No fecho de um ciclo – regressa no circuito onde sofreu o acidente em setembro de 2017 – Tiago Monteiro está integrado na KCMG, cuja estrutura transita, em grande parte a JAS Motorsport. «O engenheiro é o responsável pelo desenvolvimento do Honda há seis anos, os três mecânicos principais trabalham comigo há cinco».
Quanto à temporada que está já no horizonte, Tiago Monteiro adiantou:
«Se tivermos um BOP razoável, justo, temos capacidade para lutar pelo campeonato. Vamos ter pilotos super fortes, muito rápidos. Vai ser uma luta muito renhida, mas acredito que posso lutar pelo título».
Final na Malásia em coexistência com o Moto GP
No decorrer da apresentação, que contou com uma mensagem vídeo de Jean Todt, presidente da FIA, foi revelado o final inédito da temporada. No circuito de Sepang (Malásia), a WTCR e o Moto GP vão ocupar o mesmo fim-de-semana (14 e 15 de dezembro), ou seja, o Grande Prémio das motos é no sábado e no domingo realizam-se as três corridas do programa da WTCR.
«Era preciso fazer algo de diferente e arriscar», justificou François Ribeiro, responsável máximo do Europsort Events, promotor do campeonato, em relação ao final inédito da temporada.
«O título deixa de ser discutido na lotaria de Macau», acrescentou.
Ainda neste capítulo, a pontuação será idêntica para uma das três corridas do programa de cada fim-de-semana.
A época adivinha-se empolgante, tal o nível dos 26 pilotos em pista, com uma mescla de campeões, veteranos e de juventude, sendo de sublinhar o regresso de Tiago Monteiro, Andy Priualx, Yvan Müller e Augusto Farfus, e a estreia do campeão do mundo de ralicrosse, o sueco Johan Kristoffersson.
Com oito marcas, a chinesa Lynk & C.o é a novidade e inscreve quatro carros, juntando-se à Audi, Hyundai, Cupra (Seat), Honda e Alfa Romeo –Aos 57 anos, Gabriele Tarquini defende o título, mas terá de contar com forte oposição. Ted Björk, Jean Karl Vernay, Robert Huff, Esteban Guerrieri, Mehdi Benani, Norbert Michelisz, Nick Catsburg e Tom Coronel, bem como os regressados atrás citados, são adversários a ter em conta nesta temporada que promete espetáculo e emoção nas 10 jornadas do calendário deste campeonato com mais portugueses em ação: Bruno Correia continua a ser o piloto do safety car, com Pedro Couceiro a ocupar o lugar em duas ou três jornadas; Rui Marques mantém-se como diretor de corrida adjunto e Carlos Barros passa a desempenhar as funções de comissário técnico permanente.
A presença portuguesa no WTCR estende-se à Sebastien Loeb Racing: os mecânicos José Azevedo e Rui Cabeda, ambos da VW Motorsport e com larga experiência no WRC e WRX, integram a estrutura da equipa.