Os instantes seguintes ao do acidente de Romain Grosjean (Haas) pouco depois do arranque para o GP do Bahrein foram de grande ansiedade relativamente ao estado de saúde do piloto francês. Há escassas duas décadas aquele acidente teria resultado em lesões graves, mas no ano de 2020, Grosjean saiu pelo seu próprio pé dos destroços do seu monolugar. Milagre ou eficácia dos métodos de segurança que a modalidade adotou nos últimos anos?

O impacto em direto foi particularmente difícil de assistir: o Haas de Grosjean dirigiu-se de forma rápida e violenta contra os rails de proteção no início da reta após a segunda curva, uma direita feita a fundo que dá caminho a um dos pontos de ultrapassagem do circuito de Sakhir. Ao impacto seguiu-se uma explosão quase imediata e foi preciso esperar alguns minutos até se perceber que Romain Grosjean estava praticamente ileso, já sentado no carro médico da Fórmula 1, conduzido por Alan van der Merwe.

Posted by F1 on Sunday, November 29, 2020

A equipa de comissários desportivos foi rápida a extinguir o incêndio e a proporcionar os primeiros socorros a Grosjean, que escapou da amálgama de destroços pelo seu próprio pé, apesar de algumas queimaduras nas mãos. Extinto o fogo, percebeu-se a gravidade do acidente: o monolugar da Haas partiu-se em dois com o impacto, com a parte traseira que monta a unidade V6 híbrida no lado interno da pista e a secção dianteira praticamente destruída presa entre os rails. A célula de sobrevivência, como é chamada, cumpriu a sua função primordial, que foi a de proteger o piloto, mas há aqui um outro elemento em destaque na estrutura do carro.

Introduzido apenas há dois anos nas principais categorias da Federação Internacional do Automobilismo (FIA), o ‘halo’ tem por objetivo proteger a cabeça dos pilotos de eventuais embates com elementos exteriores, sejam pneus projetados em acidentes (apesar de terem cabos de ligação ao chassis), sejam potenciais impactos com estruturas fixas ou móveis. A sua colocação no carro tornou-se evidente assim que Jules Bianchi sofreu o seu acidente no GP do Japão de 2014. O francês embateu com o seu carro num veículo de resgaste quando este estava na escapatória a recolher um outro carro acidentado, sofrendo um forte embate com a cabeça que o deixou em coma por bastante tempo, acabando por sucumbir aos ferimentos.

Acidente semelhante sofrido por Maria de Villota também demonstrou que a cabeça dos pilotos permanecia como o ‘elo mais fraco’ no caso de um acidente do género, pelo que a FIA acelerou a sua investigação. Ao mesmo tempo, os progressos na resistência do chassis continuaram, tornando-se os monolugares mais fortes a acidentes.

Acabou por ser o ‘halo’ o elemento essencial para salvar a vida a Grosjean, com o próprio piloto a admitir que, embora tivesse sido contra a sua aplicação em 2018, hoje tem de lhe agradecer a sua vida “pois não estaria aqui se não fosse ele”. Imagens posteriores revelaram como a estrutura do ‘halo’, concebida em titânio, aguentou o impacto, apresentando ligeiros danos mas não deformações. A parte dianteira do ‘halo’ sofreu a violência do impacto na passagem pelos rails, impedindo dessa forma que fosse a cabeça do piloto a sofrer os danos, como no passado já havia sucedido a muitos outros pilotos, quase sempre com péssimos resultados.

Assim, Grosjean contou apenas com queimaduras nas costas das mãos, uma mera lembrança da perigosidade dos desportos motorizados. O impacto teve uma violência de 53 G, o que atesta por outro lado a segurança das estruturas dos chassis.

Ross Brawn, antigo diretor técnico em equipas como a Benetton, Ferrari e Brawn GP e atual responsável pela área técnica e desportiva da Fórmula 1, também concedeu o papel de ‘salvador’ ao ‘halo’, enquando enalteceu agora a necessidade de avaliar e analisar o acidente de todos os prismas para melhorar a segurança ainda mais.

“Não há qualquer dúvida de que o ‘halo’ foi o fator que salvou o dia e que salvou o Romain”, referiu Brawn posteriormente ao site da Fórmula 1.

Mas houve mais um elemento a salvar o piloto francês – as camadas de roupa à prova de fogo. Fruto das evoluções nos tecidos que protegem das chamas, Grosjean sofreu apenas as queimaduras nas mãos e nos tornozelos que estão longe de ameaçar a sua vida, ao contrário do que sucedeu no passado, por exemplo, a Niki Lauda, que é um dos maiores exemplos de queimaduras em pilotos.

Apesar disso e das perspetivas de alta já nesta terça-feira, Grosjean não irá pilotar o Haas na repetição da Fórmula 1 no Bahrein já no próximo fim de semana, embora num traçado diferente e bastante mais veloz. Pietro Fittipaldi vai estrear-se a nível oficial na equipa americana, tendo sido já confirmado pela Haas F1.

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