No dia 13 de maio de 1950, numa antiga pista de aviação militar do Reino Unido, começava aquele que ficou para a história como o primeiro Grande Prémio do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, começando aí uma história que produziu sonhos, lendas e muitos heróis num desporto que ainda hoje não tem par no automobilismo.
Depois de uma época de grandes dificuldades devido à Segunda Guerra Mundial, a Fórmula 1 tinha o seu primeiro Grande Prémio oficial num dos países que mais sofreu com o confronto bélico que devastou a grande parte da Europa. O aeródromo de Silverstone foi convertido num circuito para albergar a primeira prova, na qual muitos nomes sonantes marcaram presença – dentro e fora da pista.
Nas bancadas, o mais relevante era o Rei Jorge VI de Inglaterra, mas no circuito reunia-se a ‘realeza’ do desporto, com figuras como Juan Manuel Fangio, Giuseppe Farina, Reg Parnell, Luigi Fagioli ou Louis Chiron prontas para as lutas em pista. Na prova em si, a Alfa Romeo dominou com quatro carros na frente à partida para a prova, acabando Farina por vencer na frente de Fagioli e de Parnell.
Mas esse foi apenas o princípio da história, que se desenrola há 70 anos sem interrupções, mesmo que na atualidade os motores estejam silenciados – a pandemia de Covid-19 assim o obrigou enquanto o mundo lida com um vírus até há uns meses desconhecido.
Os anos seguintes trouxeram consigo o primeiro grande campeão, Juan Manuel Fangio, que se impôs no campeonato de pilotos por cinco vezes. O argentino tornou-se a primeira lenda da Fórmula 1, alcançando um pecúlio que muitos chegaram a considerar intocável, com os seus cinco titulos. No entanto, se Alain Prost ficou perto, com quatro títulos mundiais, foi Michael Schumacher o primeiro piloto a não só igualar Fangio e os seus cinco títulos, mas também a superá-lo, alcançando os sete no total. O alemão, que não reuniu o consenso total na sua passagem pela Fórmula 1, tem hoje o estatuto de melhor piloto de sempre da modalidade, graças a um pecúlio que conta ainda com 91 triunfos em grandes prémios.
E se os sete títulos do alemão pareciam imbatíveis, os últimos anos mostraram que outro piloto pode, pelo menos, igualá-lo. Lewis Hamilton, britânico, conta já com seis títulos de campeão, provando a sua rapidez e talento ao volante da McLaren e da Mercedes-AMG. A temporada de 2020 irá confirmar se Hamilton estará no mesmo patamar que Schumacher.
Mas, na lista de campeões ficam ainda outros nomes que ganharam aura eterna, como os de Alberto Ascari, Jack Brabham, Jacki Stewart, Niki Lauda, Graham Hill, Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Mika Hakkinen, Fernando Alonso ou Sebastian Vettel, apenas para citar aqueles que venceram mais do que um título.
Destes nomes, uns transbordaram para lá daquilo que é o mero conceito de desporto, como foi o caso com Ayrton Senna. O piloto brasileiro, tricampeão, foi herói e paixão para muitos que viam nas façanhas do paulista um toque de magnificência. Dele se escreveu “Deus conduzia pelas suas mãos”, tal os dotes de Senna, que teve em Alain Prost o seu maior rival. Pertence-lhes a honra de terem protagonizado a rivalidade mais acirrada no desporto em geral, com dois acidentes a resolverem títulos mundiais e a causarem muitas polémicas.
Veloz e perfeccionista, Senna foi também um dos pilotos que batalhou bastante pela segurança nos circuitos de Fórmula 1, algo que dois outros pilotos antes de si haviam advogado com ‘unhas e dentes’ – Jackie Stewart e Niki Lauda nas décadas de 1960 e 1970, nas quais a perigosidade da Fórmula 1 fazia vitimas mortais com alguma regularidade.
O escocês foi um dos que mais forçou o desporto no caminho da segurança, aliando-se ao malogrado Sid Watkins na sua busca por melhores condições de segurança nos circuitos e nos centros de emergência médica dos mesmos. Essa mesma pesquisa por carros e pistas mais seguros foi depois continuada por Lauda, que por pouco não perdeu a vida num pavoroso acidente no circuito de Nürburgring Norsdchleife. Esse motivo levou a que o austríaco encetasse também uma campanha pela melhoria da segurança na Fórmula 1, algo que hoje se tornou central nas regulamentações da Federação Internacional do Automóvel (FIA) para o desporto automóvel.
Além dos muitos nomes lendários que ganharam mérito na Fórmula 1, muitos foram também os construtores que conquistaram a mente dos adeptos. O mais famoso de todos – Ferrari. O construtor italiano é o único a constar nas 70 temporadas do Mundial de Fórmula 1 (embora tenha falhado a primeira corrida), sendo hoje uma instituição em Itália, mas também incontornável para a própria saúde da modalidade
Pelos carros da marca de Maranello passaram nomes como os de Alberto Ascari, Fangio, Lauda, Gilles Villeneuve, Prost, Vettel ou Fernando Alonso, sendo que o mais sonante é o de Schumacher, que dos seus sete títulos registou cinco ao volante dos carros encarnados. O alemão tornou-se lenda na equipa, alcançando um espaço quase tão grande no coração dos adeptos como o próprio fundador da marca, Enzo Ferrari, o Comendador que via nos seus carros a sua razão de vida.
Mas, os adeptos da modalidade lembram também equipas como as britânicas Williams e McLaren, dominadoras da Fórmula 1 nas décadas de 1980 e 1990, a que se juntam outras equipas como a inovadora Lotus (que introduziu alguns monolugares revolucionários pela criatividade de Colin Chapman), a Brabham, a Tyrrell ou a Ligier, entre muitas outras que chegaram e, ou desapareceram, ou se converteram noutras formações. Um bom exemplo disso é a equipa dominadora dos últimos campeonatos do mundo de F1, a Mercedes-AMG, que remonta, historicamente, à Tyrrell – a formação criada por Ken Tyrrell viria a ser convertida em BAR Racing, depois em Honda, Brawn GP e, por fim, na própria porta-estandarte da marca de Estugarda.
A modalidade foi também representativa em termos de inovações técnicas, com muitas das suas abordagens a transitarem, depois, para o segmento dos carros de estrada – a aerodinâmica elaborada, a tecnologia de sobrealimentação (introduzida pela Renault em 1977 e que hoje dá cartas em toda a indústria), o efeito-solo, a construção em materiais como o alumínio ou a fibra de carbono (uma inovação da McLaren com recurso à tecnologia da gigante da aeronáutica, a Hercules), ou a suspensão ativa, hoje um atributo que praticamente todos os carros de estrada de segmento médio-alto podem contar.