Fórmula E: Chegada de Porsche e Mercedes-Benz dá ‘faísca’ ao campeonato

21/10/2019

Créditos: Jamie Sheldrick

Nunca uma temporada de Fórmula E despertou tanta curiosidade. A razão é fácil de perceber: a competição de monolugares elétricos reúne no seu plantel um total de nove construtores automóveis que procuram validar neste desporto os seus próprios desenvolvimentos tecnológicos na área da eletrificação.

Cada vez mais evoluída, a Fórmula E assume-se como o palco ideal para esta visão, à qual não falta também um candidato português aos triunfos, com António Félix da Costa a juntar-se este ano a uma das equipas mais fortes do plantel, a DS Techeetah.

A temporada de 2019-2020 da Fórmula E está a reunir grandes atenções à sua volta, em especial com a chegada de mais duas marcas, a Mercedes-Benz e a Porsche, com os dois pesos pesados do automobilismo a juntarem-se a uma modalidade que junta jovens aspirantes ao trono da mobilidade elétrica às ‘velhas glórias’ que centram agora as atenções na eletrificação, como aquelas duas companhias germânicas.

À sua espera estarão Audi, BMW, DS, Nissan, Mahindra, NIO e Jaguar num leque já abastado de forças apostadas na eletrificação e na demonstração das suas capacidades nesse mesmo ramo em matéria de desporto. Uma proposta que tornará a temporada número seis (2019-2020), com arranque marcado para 22 de novembro na Arábia Saudita, muito mais ‘quente’, sobretudo quando se olha para o que tem vindo a ser feito pelos organizadores do campeonato para incrementar a competitividade em pista.

Numa abordagem única, a Fórmula E continua a ter a sua ‘casa’ nos palcos urbanos, decorrendo inteiramente nos grandes centros das cidades, chamando a atenção para a causa ambiental e da sustentabilidade, mas ao mesmo tempo proporcionando uma noção de proximidade para com pilotos e equipas.

Com os testes limitados ao longo da época de corridas, acaba por ser no circuito de Valência, em Espanha, que as 12 equipas ensaiam os seus sistemas e afinações antes do arranque oficial na Arábia Saudita.

Para a temporada deste ano, algumas alterações regulamentes visam incrementar o nível de trabalho na eficiência dos carros em pista, com a principal mudança a passar pela dedução de 1 kWh da carga da bateria por cada minuto em que a corrida estiver numa fase de bandeiras amarelas ou safety car. O que quer dizer que se a corrida estiver neutralizada durante dez minutos, serão retirados 10 kWh ao veículo, pelo que as equipas terão de continuar a fazer contas para que as suas estratégias de energia funcionem nda melhor forma.

No passado, uma situação de neutralização da corrida não obrigava a que os pilotos fizessem grande gestão energética levando àquele que foi conhecido como o ‘caos’ do México, com diversos pilotos a ficarem sem energia nos seus carros a escassos metros da meta. Por outro lado, para ajudar nas ultrapassagens, a organização decretou o aumento do ‘Attack Mode’ para 235 kW.

Equilíbrio dominante

O Motor24 deslocou-se a Valência para acompanhar o derradeiro dia de testes da Fórmula E antes do embarque da ‘comitiva’ para a primeira corrida da temporada e os primeiros sinais apontam para uma das temporadas mais equilibradas de sempre: 22 dos 24 pilotos que participaram no ensaio de três dias no circuito Ricardo Tormo ficaram a menos de um segundo.

Na frente ficou o BMW i Andretti Motorsport de Maximilian Günther, com uma volta em 1.15,087s, batendo Pascal Wehrlein, da Mahindra, por 0,103s, enquanto Nico Müller (GEOX Dragon) ficou com a terceira melhor marca, a 0,206s. Dando bons indicadores, o português António Félix da Costa, agora na DS Techeetah, ficou com a quarta melhor marca, a 0,219s do melhor tempo, ao passo que Mitch Evans foi o quinto, com um Jaguar, e Sébastien Buemi, da Nissan e-Dams, foi o sexto.

A Nissan é uma das equipas com maiores expectativas para a temporada de 2019-2020, depois de ter terminado a época passada como uma das melhores formações. No centro nevrálgico da formação, Buemi confessou-nos que está bastante otimista para a nova época, considerando que os progressos são bons, mesmo que a proibição do motor duplo, solução desenvolvida pela Nissan no ano passado, tenha obrigado a uma mudança de estratégia para 2019-2020.

Sebastien Buemi durante os ensaios de Valência.

“As expectativas são boas, melhores do que esperava, porque quando soubemos que os regulamentos iriam mudar, já estávamos muito tarde da época passada e foi muito tarde para nós. Por isso não foi fácil ter tudo pronto a tempo, já tínhamos desenvolvido muitas peças relativas ao motor duplo, por isso estou muito contente com o trabalho da equipa pois eles foram fantásticos”, aponta o suíço, que detém um profundo conhecimento da Fórmula E.

“Terem conseguido ter tudo pronto para o começo destes testes foi muito bom, temos ficado muito perto da frente nos testes, portanto tudo parece bem, agora resta-nos assegurar que não cometemos erros nas qualificações e nas corridas temos que encontrar as melhores afinações e logo veremos do que somos capazes. Mas parecemos estar melhor preparados que o ano passado por esta altura, em que a falta de fiabilidade foi um problema, este ano não parece ser esse o caso”, acrescentou.

Quanto ao tema do momento – a chegada das duas marcas alemãs -, Buemi está ciente de que acrescentam um outro patamar de notoriedade e de emotividade, mas não receia o confronto.

“Quanto vês marcas como a Mercedes e a Porsche a chegar a um campeonato não podes subestimá-los. Serão fortes em determinado ponto. O que é bom neste campeonato é que os regulamentos não beneficiam quem tem maiores orçamentos, porque não há muito que se possa fazer no carro e nós temos uma base forte com a Nissan e.Dams. Não temo os outros, mas é claro que em determinado ponto serão competitivos. Isso é certo”, afiançou.

*Em Valência