Sébastien Buemi: “Fórmula E vai ter corridas melhores este ano”

23/11/2019

| Driver: Sebastien Buemi| Team: Nissan e.dams| Number: 23| Car: IM02| | Photographer: Shivraj Gohil| Event: Collective preseason testing| Circuit: Circuit Ricardo Tormo| Location: Valencia| Series: FIA Formula E| Season: 2019-2020| Country: Spain || Session: Day 4|
Com um currículo impressionante, Sébastien Buémi é um dos principais nomes da Fórmula E, campeonato que arranca este fim de semana na Arábia Saudita. Uma vez mais ao serviço da e.Dams Nissan, o piloto parte para a temporada de 2019/2020 com a ambição de lutar pelo título de pilotos, mesmo reconhecendo que a competição será muito dura este ano.

Em entrevista ao Motor24, Buemi recorda os desafios do ano passado, faz a antevisão da nova época e olha para o futuro a médio prazo da Fórmula E.

“As expectativas para este ano são boas, melhores do que esperava, porque quando soubemos que os regulamentos iriam mudar, já estávamos muito avançados na época passada e foi muito tarde para nós. Por isso, não foi fácil ter tudo pronto a tempo, já tínhamos desenvolvido muitas peças relativas ao [sistema] de motor duplo, por isso estou muito feliz e contente com o trabalho da equipas pois eles foram fantásticos”.

Buemi recorda que nos testes ficaram sempre perto da frente, “portanto tudo parece bem, agora resta-nos assegurar que não cometemos erros nas qualificações e nas corridas temos que encontrar as melhores afinações e logo veremos do que somos capazes, mas parecemos estar melhor preparados que o ano passado por esta altura, em que a falta de fiabilidade foi um problema, este ano não parece ser esse o caso”.

Falando sobre uma das principais mudanças deste ano, a subtração de 1 kW por cada minuto em situação de bandeira amarela ou Safety Car, o piloto explica que “é uma grande mudança. As corridas serão um bocado diferentes, face ao ano passado. Aí, a qualificação era muito importante, porque quando alguém tinha um acidente ou havia algum incidente em pista, havia logo bandeiras amarelas ou Safety Car e ao guiarmos devagar poupávamos muita energia, e como eram 45 minutos de corrida mais uma volta, sempre que isso sucedia, depois disso as corridas eram sempre a fundo, e agora eles tiram 1 kW por cada minuto atrás do Safety Car. Portanto, o que sucede a partir daqui é que vamos ter que poupar energia do princípio aos fim das corridas e eu acredito firmemente que iremos ter melhores corridas dessa forma, porque o que sucedia o ano passado era que as corridas foram quase todas ‘flat out’, e dessa forma era muito difícil ultrapassar. Penso que agora vai ser melhor e isso aliado ao facto da FIA ter pedido alterações nos circuitos e das chicanes muito apertadas. Não vai ser possível em todo o lado, mas a maioria vai desaparecer e teoricamente vai haver menos bandeiras vermelhas”.

Interrogado se essa gestão não é algo contraditória com a génese da competição automóvel, Buemi aponta que “é um pouco o ADN da Fórmula E, o facto de teres que ser eficiente e poupar energia. Pelo menos, temos a qualificação onde podemos andar a fundo, mas nas corridas e querendo ser realista, se pudéssemos fazer as corridas sempre a fundo, não havia ultrapassagens, e para ser honestos não queremos isso, não queremos ter corridas aborrecidas. Por isso penso que temos que pensar no espetáculo e no que podemos fazer para melhorar a tecnologia. Claramente queremos ser mais eficientes, e se o formos, vamos mais depressa e mais longe. Portanto estou feliz pelo facto dos regulamentos terem mudado e passado a obrigar mais eficiência e poupança de energia”.

Novos rivais valorizam

A chegada de duas grandes marcas ao campeonato, a Porsche e a Mercedes-AMG, vão apimentar o campeonato deste ano da Fórmula E e Buemi acredita que isso vai valorizar a modalidade.

“Quando tens a chegar a um campeonato marcas como a Mercedes e a Porsche não podes subestimá-los. Serão fortes a determinado ponto. O que é bom neste campeonato é que os regulamentos não beneficiam quem tem maiores orçamentos, porque não há muito que se possa fazer no carro e nós temos uma base forte com a Nissan e.Dams. Não temo os outros, mas é claro que em determinado ponto serão competitivos. Isso é certo”.

Com a chegada de novos construtores, há também o risco de a Fórmula E ficar mais cara, mas Buemi lembra que os regulamentos ‘protegem’ a modalidade.

“Queremos manter os custos sob controlo, mas é difícil. De qualquer forma, comparando com a Fórmula 1, lá o dinheiro significa um carro mais rápido, mas aqui na Fórmula E é mais difícil. Não é por teres mais dinheiro que podes fazer o carro muito mais rápido. Só há 25% do carro em que podemos trabalhar, e eu acho que isso é bom, porque se tudo se resumisse ao dinheiro não seria bom”.

Quanto aos pilotos candidatos ao título, o homem da Nissan advoga que “é sempre difícil dizer, mas para ser realista e se olhar para as cinco temporadas, tem sido sempre mais ou menos os mesmo no final. O [Jean-Eric] Vergne e o [Lucas] di Grassi estão sempre lá, penso que vão estar na luta, já o fazem há cinco anos, porque não este ano também? Mas, por outro lado, há outros pilotos que podem fazer um bom trabalho, o Sam Bird, o (Félix) da Costa, (Alex) Sims, (Robin) Frijns, (Mitch) Evans, sei que eles podem ser muito rápidos e ter uma boa temporada. O que faz a diferença é a consistência. O ano passado, um piloto que tivesse terminado em quarto em todas as corridas teria sido campeão, não precisaria de vencer uma corrida. Pode não ser assim, mas também pode voltar a ser. Portanto, a consistência é muito importante.

Evolução impressionante

Buemi é um dos pilotos com maior longevidade na Fórmula E, sentindo-se impressionado com o progresso tecnológico dos monolugares elétricos.

“Eu não conhecia muito de carros elétricos antes, mas a evolução que temos vistos ao longo dos anos é muito grande. No início precisávamos de dois carros para fazer a corrida, tínhamos 150 kW em cada carro, e agora fazemos a corrida com um carro e com 200 kW. A autonomia é muito melhor, a potência é muito maior, somos muito mais rápidos do que já fomos, tudo melhora claramente anos após ano, só podemos esperar continuar assim porque como pilotos gostamos de ter carros mais rápidos. Gosto da forma como a Fórmula E tem melhorado, o próximo grande passo será quando mudarmos para os GEN3, carros da terceira geração da Fórmula E, até lá as evoluções serão mais pequenas porque as baterias serão mais ou menos as mesmas”, explicou, acrescentando que “estamos mais rápidos a cada ano que passa”.

“Mas os regulamentos são muito apertados, não há muita coisa que se possa fazer nos carros. Podemos fazer muito na gestão de energia, muito no software e na suspensão traseira, mas não se pode mexer na aerodinâmica nem nos pneus, não é fácil encontrar muito tempo por volta”.

Por último, sobre a curiosidade de ser um piloto a correr por duas marcas japonesas em dois campeonatos diferentes, a Toyota no Mundial de Endurance e a Nissan na Fórmula E, Buemi destaca as diferenças.

“O WEC é completamente diferente da Fórmula E. São dois campeonatos completamente diferentes e eu estou contente que resulte, pois isso dá-me oportunidade para fazer mais corridas”.