O porte esguio, baixo e agressivo não engana: estamos na presença de um predador, mas em formato automóvel, com carácter intenso que a cor negra da carroçaria acentua. O Audi TT prossegue a sua ‘caça’ na floresta dos desportivos compactos Premium, recebendo uma ligeira atualização estética e técnica que o deixa de… ‘presas’ prontas a morder. E não é para menos – motor 2.0 TFSI de 245 CV e tração integral quattro são atributos de ‘guerra’.
Regressando ligeiramente ao passado, é fácil encontrar uma tríade de desportivos compactos de origem alemã, ora coupé, ora roadster, que ajudaram a mostrar uma outra forma de se viver no nicho Premium: o TT da Audi, o Z3 da BMW e o SLK da Mercedes-Benz. Apesar do crescimento dos SUV e do decréscimo de popularidade dos roadsters/coupés, os três resistem (o Z3 transformou-se em Z4 e o SLK em SLC), muito embora o modelo da Mercedes-Benz já tenha ‘extinção’ planeada. Uma vítima dos tempos.
R8, és tu?
Com ares de R8 em versão mais diminuta, o renovado TT é, mesmo, um chamariz para diversos olhares, que são atraídos pelos faróis de Matriz LED, pela grelha Singleframe hexagonal desportiva e ampla, ladeada por entradas de ar agressivas, mas também pelas jantes de 19 polegadas (conjunto por 1610€), pelas saias laterais e, na traseira pelas duas saídas de escape redondas, pelo difusor e pelo spoiler retrátil situado na tampa da bagageira. A este propósito, irritante detalhe o de nunca termos conseguido abrir o porta-bagagens por fora ou com o botão da chave com a ignição ligada. Apenas com o motor desligado se abriu…
A unidade ensaiada contava com elementos inferiores da carroçaria pintados em cinzento num contraste que fica bem com o pack S Line também montado.
No interior, volante desportivo com base plana e revestimento em pele, posição de condução baixa (com bacquets ótimas) e painel de instrumentos digital que é fundamental porque não existe ecrã central, numa ideia que hoje em dia nem parece concebível. Mas, o TT tem tudo o que é preciso no ecrã digital personalizável Audi virtual cockpit, mesmo em frente dos olhos do condutor. Não se recomenda, porém, que se aventure a investigar os diversos menus, modos e definições do veículo enquanto conduz. O sistema MMI Plus Navegação (2960€) é controlado, de resto, como habitual, pelo comando rotativo na consola central, situado pouco atrás da alavanca da caixa S tronic de sete velocidades. No demais, qualidade exemplar em desenho simplista que cumpre na perfeição a ambiência desportiva.
Se procura um desportivo com capacidades familiares, pense duas vezes. Mesmo sendo um 2+2, os lugares traseiros só servem para um ato de ‘desenrasque’, já que nem o acesso é brilhante, nem o espaço para as pernas e a altura. Tudo isso pode ser mitigado se for uma criança a ocupar aqueles lugares, mas para adultos, aliás, há no portão traseiro um autocolante que diz tudo: ‘cuidado com a cabeça ao fechar’… Mas, isso são circunstâncias do próprio desenho exterior e de uma distância entre eixos ‘curtinha’ – apenas 2505 mm de comprimento.
Conduzir é o melhor remédio
O melhor lugar é, pois, o do condutor, uma vez que o TT tem dinâmica extremamente afilada, com um chassis muito eficaz que reage de maneira ágil e precisa aos ‘golpes’ de volante. A estrutura bastante leve com recurso compulsivo a alumínio (uma recordação da passada Audi space frame) no capot, tejadilho, portas e partes do chassis ajuda nesta estabilidade direcional que cola o TT ao asfalto sem que se sintam nervosismos nos dois eixos. Para esse efeito, também não se pode desconsiderar a tração integral (quattro), que mantém a trajetória precisa, mas que, também se torna demasiado linear, caso tenha a ousadia de provocar a ‘mamba’ TT.
Depois, a ajuda maior está no pulmão do motor de dois litros de injeção direta e turbo, que mostra potência e impetuosidade em praticamente todos os momentos (quando escolhido o modo ‘Dynamic’ do Audi drive select), sendo bem coadjuvado pela caixa de dupla embraiagem, ainda uma fonte de satisfação, sobretudo quando se aposta no comando sequencial/manual pelas patilhas atrás do volante. Este motor tem uma faixa de aproveitamento dos 370 Nm de binário bastante lata, o que quer dizer que é ótimo nas recuperações, ajudando também quando a toada é feita com parcimónia, ajudando a poupar nos consumos uma vez que a caixa pode optar por uma relação mais alta do que uma baixa para aceleração fugaz. O modo ‘Efficiency’ dá aqui uma grande ajuda para manter a média controlada, a variar entre os oito e os nove litros por cada 100 quilómetros, dando até para modo de ‘roda livre’.
O amortecimento é naturalmente firme, até pela escolha de equipamento S Line que deixa o chassis 10 mm mais perto do solo, mas não chega a ser demasiado desconfortável, permitindo ajudar nas transferências de massa com diversão e também viajar com comodidade tolerável em mau piso. Recorde que este é um compromisso sempre orientado para o dinamismo.
Por fim, o custo acima dos 55 mil euros mantém-no num patamar a que nem todos podem aceder, mas que prevalece como ajustado para tudo aquilo que o TT é enquanto obra de engenharia à medida que se caminha para um futuro de sanitização da emotividade ao volante do automóvel. Ainda assim, vale a pena ponderar bem os custos dos opcionais, que são vastos e sempre a somar euros fartos à fatura final (a unidade das imagens estava já nos 74.600€). Mas, como sempre se ouviu dizer aos mais antigos, é preciso cuidado com o encanto da serpente.
VEREDICTO
Os anos passam e o TT é um honrado membro do clube dos desportivos Premium que fazem sonhar sem serem ridiculamente caros, mesmo que a fiscalidade nacional seja bem mais castradora para o seu sucesso do que noutros mercados. Extremamente divertido e arrojado de conduzir, com um motor intenso produtor de adrenalina quando se pretende desportividade, o TT 45 TFSI de 245 CV dá ao condutor aquilo que promete – prestações emocionantes, agilidade sem reparos e visual arrebatador a preço moderadamente contido.
Para as emoções mais fortes é preciso ir um pouco mais longe para chegar ao TT RS de 400 CV, que se situa como expoente máximo. Mas, enquanto aposta intermédia, este TT na configuração 45 é um automóvel desportivo de capacidade impressionante.
| Características | Audi TT 45 TFSI quattro S tronic |
|---|---|
| Motor | Gasolina, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler, 1984 cc |
| Potência | 245 CV às 5000 rpm |
| Binário | 370 Nm às 1600 rpm |
| Transmissão | Integral, caixa automática de sete velocidades com modo sequencial |
| 0-100 km/h | 5,2 s |
| Velocidade máxima | 250 km/h |
| Consumo anunciado (medido) | 7,0 l/100 km (8,8 l/100 km) |
| Emissões CO2 | 160 g/km |
| Comp./Larg./Alt./Entre eixos | 4191 mm/1832 mm/1376 mm/2505 mm |
| Peso | 1440 kg |
| Suspensão (Fr/Tr) | Independente McPherson/independente |
| Mala | 305 litros |
| Pneus | 225/55 R17 (ensaiado: 245/35 R19) |
| Preço (ensaiado) | Preço: 55.440€ (74.620€) |