O recente lançamento do novo SUV coupé elétrico da Volvo representa uma mudança de paradigma para a marca em muitos aspetos, sendo o principal a preocupação com o impacto que os automóveis têm no meio ambiente. Não basta equipar um automóvel com um motor elétrico e baterias para dizer que não é poluente. O CEO da marca sueca Pehr G. Gyllenhammar, foi o primeiro responsável de um fabricante automóvel a assumir ainda em 1972 que a sua indústria estava a contribuir para a poluição do ambiente. A Volvo assume assim ser parte do problema, mas quer também fazer parte da solução.

 

Ainda estamos longe da solução encontrada por Doc Brown o cientista no filme Regresso ao Futuro, onde o seu DeLorean converte lixo em combustível, mas a Volvo está determinada em construir automóveis sustentáveis e o C40 Recharge é para já um dos meios para atingir esse fim. É o primeiro automóvel da marca que não incluirá pele de origem animal no seu interior, não só por causa da crueldade, mas também porque a transformação das peles é das indústrias mais poluentes e que mais água consome. Há ainda uma forte aposta na utilização de peças recondicionadas e na seleção de fornecedores eticamente responsáveis.

O exterior é onde o C40 se diferencia do seu irmão XC40 ao assumir uma silhueta coupé definida pelo ângulo da linha do tejadilho. Já no interior encontramos mais semelhanças, diferindo no design do tabliê e na utilização de materiais provenientes da reciclagem de rolhas de cortiça e garrafas de plástico com um feeling premium pela sensação ao toque. O espaço a bordo não é referencial no segmento, a causa é a utilização da plataforma CMA, que por uma questão de custos está pensada para receber também motores de combustão como é o caso do XC40. Os dois carros são montados na mesma linha de montagem, como pudemos comprovar na visita à fábrica em Ghent, na Bélgica. Ainda assim há espaço disponível para acolher quatro adultos muito confortavelmente, sendo o lugar do meio do banco de trás penalizado pela existência do túnel de transmissão reservado ao irmão XC40 que ainda monta um motor de combustão. A bagageira disponibiliza 480 litros e na frente ainda há um compartimento com mais 30 litros, onde se podem guardar os cabos de carregamento.

Conduzimos o C40 Recharge na única versão disponível para já, a Twin com 300 kW (408 cv) e 660 Nm, dois motores elétricos, um em cada eixo e tração integral que será também a que virá para Portugal. O conforto e o silêncio são absolutos, bem característicos de um automóvel elétrico. A performance é a espectável e ao pisarmos o acelerador ficamos colados ao banco enquanto o C40 Recharge atinge os 100 Km/h em 4,7 segundos. Nada mau para um carro com mais de duas toneladas!

Para alimentar estes dois gulosos motores elétricos temos uma bateria de 75 kWh efetivos que garante até 441 km de autonomia e pode ser carregado dos 0 aos 80% em 37 minutos num posto de 150 kW ou em oito horas numa wallbox de 11kW. Durante o nosso teste sem preocupações com consumos fizemos uma média de 20 kW/h, o que dará para uma autonomia de cerca de 400 Km, não muito longe do anunciado pela marca. Não há modos de condução, mas se a autonomia for uma preocupação podemos selecionar o Range Assist para garantir que temos bateria suficiente para chegar ao destino.

 

Os clientes de automóveis elétricos dão muita importância ao software, ao interface e à integração com o seu smartphone. A Volvo percebeu isso e deu aos clientes algo que estão habituadas a utilizar no seu dia a dia: um ecrã que replica o formato ao alto dos smartphones com um sistema operativo da Android específico para automóveis, onde até podemos instalar as apps que mais utilizamos. A integração com o smartphone é total e a experiência de utilização com o software de navegação Google Maps é das melhores do mercado. Dependendo dos mercados a Volvo disponibiliza ainda atualizações over the air e dados ilimitados.

O C40 Recharge marca uma nova etapa na vida da marca ao representar simultaneamente o compromisso com o fim dos motores de combustão e uma produção livre de pegada de carbono e sustentável. É o primeiro dia do resto da vida da Volvo.

Na Volvo as mulheres são muito importantes e integram os diversos departamentos da empresa, desde a fábrica até aos lugares de topo como é o caso de Xiping Huang, 33 anos, natural de Wuhan na China, licenciada em engenharia automóvel na vertente mecânica e que foi trabalhar para a Volvo em 2012 porque o seu namorado na altura perdeu o comboio em que iriam para o casamento da sua melhor amiga. Pedimos a Xiping que nos resumisse o seu percurso na empresa.

M24: Nasceu em Shanghai?

Xiping Huang: Nasci em Wuhan, mas mudei para Shanghai com 18 anos quando entrei para a universidade.

M24: Como é que começou a trabalhar na Volvo?

Xiping Huang: É uma história curiosa: Em dezembro de 2011 eu e o meu namorado na altura, devíamos ter ido juntos ao casamento da minha melhor amiga, mas ele perdeu o comboio e como eu tinha exames decidi tirar os livros da mala para estudar durante a viagem. Foi então que um homem me abordou ao ver os meus livros de engenharia e perguntou-me se eu queria fazer um estágio na Volvo. Claro que ao início pensei que era a brincar e ele estava só a meter-se comigo.

M24: Então, o seu primeiro trabalho foi como engenheira mecânica?

Xiping Huang: Eu estudei engenharia automóvel, mas depois haviam várias vertentes: engenharia mecânica; eletricidade e eletrónica, marketing, etc. A vertente que escolhi foi engenharia mecânica. O meu primeiro trabalho foi como engenheira de suspensões em 2012.

M24: Certo. E depois disso?

Xiping Huang: Depois, em 2013 dois engenheiros do departamento de rodas e pneus tiveram de tirar licença de paternidade e o meu diretor pediu-me que assumisse aquela função. Fiquei curiosa e aceitei ficando com três trabalhos ao mesmo tempo e sem tempo para me “coçar”. No entanto acabei por ser promovida para liderar o departamento de rodas e suspensões no final de 2013, sendo provavelmente a engenheira mais jovem a liderar um departamento. Em 2014 fui para a sede da empresa em Gotemburgo, trocando com um engenheiro sueco ao abrigo de um programa de intercâmbio. Entretanto percebi que ali a engenharia é criada de raiz, onde são desenvolvidos conceitos de design muito interessantes. Por isso decidi mudar-me para a Suécia para fazer a “verdadeira engenharia”, uma vez que na China limitava-me a aplicar e afinar soluções já criadas. Mudei em 2015 para o departamento de interiores como chefe de projeto do banco da frente. Uma vez que o que pretendia era trabalhar em algo mais próximo do cliente, nada melhor que o banco do condutor, certo?

M24: E agora?

Xiping Huang: Então, depois do lançamento do meu “bebé”, o banco do condutor do XC40, a empresa decidiu que estava na altura de mudar-me outra vez, agora para o departamento que agiliza o desenvolvimento de soluções para as necessidades dos clientes. Fui promovida para chefe de projeto do banco completo, comecei a trabalhar no conceito de “banco inteligente” e dei conta que o departamento não tinha as ferramentas suficientes para o seu desenvolvimento, nem da arquitetura, nem do software. Percebi assim que tinha de ir para o departamento de software para aprender, em 2019 mudei mais uma vez e aqui estou! Agora sou responsável pelo lançamento e integração do software de “connected experience” que no fundo é o interface com que o cliente interage com o carro.

M24: E quantas pessoas tem na sua equipa?

Xiping Huang: Na minha equipa são cerca de 90 pessoas e globalmente à volta de 650. Desenvolvemos tudo: software para a nuvem, infoentretenimento, conetividade, diagnóstico, apps, áudio, etc.

Ficha técnica:
Motor: dois motores elétricos, um por eixo
Aceleração (0-100 km/h): 4.9 s
Potência: 300 kW/408 cv
Velocidade máxima: 180 km/h
Binário: 660 Nm
Tração: Integral
Capacidade útil da bateria: 75.0 kWh
Localização porta carregamento: Traseira, esquerda
Tipo porta carregamento: Type 2
Tempo carregamento AC: (0->365km) 8h15
Tipo porta carregamento rápido: CCS
Potência carregamento rápido: 150 kW DC
Potência carregamento: 11 kW AC
Tempo carregamento rápido: (40->300km) 33m
Velocidade de carregamento: 47 km/h
Velocidade de carregamento rápido: 470 km/h
WLTP Autonomia: 420 km
Consumo do veículo: 179 Wh/km
Consumo de veículo equivalente: 2.0 l/100
Consumo do veículo: 205 Wh/km
Bagageira: 413 L
Comprimento: 4431 mm Largura; 2035 mm Altura; 1582 mm Distância entre eixos; 2702 mm
Peso reboque travado: 1800 Kg
Carga tejadilho: 75 Kg
Peso: 2185 Kg

 

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.