Prometendo uma gama 100% eletrificada para 2023, a Nissan tem em curso uma renovação de gama que prevê a chegada de uma série de novos modelos que demonstram diferentes abordagens à eletrificação, como os novos Ariya e Townstar (totalmente elétricos) ou os híbridos Qashqai E-Power, X-Trail e-Power e Juke Hybrid, sem esquecer uma ligeira renovação do Leaf.

A marca nipónica tira o máximo partido das sinergias da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, preparando-se para aumentar a sua gama de modelos eletrificados, prevendo chegar a 2030 com o total das vendas na Europa a corresponderem a modelos 100% elétricos. Antes, porém, ainda há opções eletrificadas, mas com suporte do motor de combustão, como é o caso do Juke híbrido ou da nova tecnologia e-Power para os Qashqai e X-Trail, que funcionam como uma espécie de elétrico com extensor de autonomia (o motor de combustão).

Num evento especial da Nissan, que decorreu no circuito de Jarama, em Madrid, foi possível ver os novos desenvolvimentos em primeira mão e sentir as primeiras emoções de condução de duas das novas apostas – o Ariya e o Qashqai e-Power – as quais irão dar continuidade à implementação dos SUV da Nissan, que conta já com mais de quatro milhões de crossovers na estrada no Velho Continente.

Grande Ariya

De forma a replicar um cenário minimamente realista, o circuito de Jarama, onde pilotos de Fórmula 1 batalharam em tempos pelos melhores tempos, foi dividido por setores com sinalização simulada e pinos a darem conta de diferentes tipos de estrada – um ambiente citadino de 50 km/h, outro de estrada aberta a 90 km/h, outro de localização residencial a 10 km/h e outro ainda de autoestrada a 120 km/h. Porém, sabendo-se que estávamos num circuito, as condições nem sempre foram totalmente respeitadas…

A primeira abordagem ao traçado espanhol fez-se com o Ariya, o novo SUV 100% elétrico da Nissan que se posicionará num patamar similar ao do Qashqai e que é verdadeiramente apelativo ao olhar. Proporcional nas linhas, o Ariya tem um cariz dinâmico e arrojado, mantendo ao mesmo tempo aquele que é um dos critérios da marca, a especificidade japonesa, algo que é sobretudo visível no interior.

Uma vez sentados no lugar do condutor, encontramos a posição de condução ideal (elevada, como é hábito nos SUV), mas com ajustes elétricos do banco e do volante, enquanto existe uma sensação de refinamento e cuidado nos materiais e na apresentação, como as superfícies em madeira com botões táteis hápticos integrados de forma contínua. Um belo detalhe que se conjuga com outros, como o padrão ‘Kumiko’ para um ambiente acolhedor e, ainda, bem insonorizado face ao exterior.

Existem ainda dois ecrãs de 12.3″, um para a instrumentação e outro para o sistema de infoentretenimento, o qual dispõe da mais recente tecnologia da marca, com sistemas de assistência e serviços conectados com updates Over the air, Amazon Alexa, Google home, programação de rotas inteligentes e controlos remotos de algumas funcionalidades. O condutor tem ainda direito a um head-up display com as principais informações de condução.

Assente na plataforma CMF-EV desenvolvida em parceria com a Renault, este modelo foi pensado para oferecer maior emoção de condução com distribuição de peso equitativa na variante de quatro rodas motrizes (perto disso nas demais) e construção que permite o aumento da rigidez estrutural e baixo centro de gravidade.

Para o mercado, o Ariya terá diferentes versões de potência, sistemas motrizes e autonomias, começando por aquela com bateria de 63 kWh e duas rodas motrizes com autonomia até 360 quilómetros (embora tenham sido revelados os detalhes oficiais homologados naquele mesmo dia – 403 quilómetros em ciclo WLTP), que foi a que utilizámos no percurso em pista.

Um modelo com postura muito assertiva, com boa aplicação da potência ao solo e progressividade na subida da velocidade, ao invés de optar pela brusquidão. Essa sua suavidade e boas respostas perante a maior pressão no acelerador surgem acompanhadas de um equilíbrio que nos pareceu muito elogiável, com reações bastante seguras, mesmo quando provocado, notando-se porém, a atuação da eletrónica para ‘cortar’ a entrega da potência em curvas mais velozes. A direção tem um peso muito bom e transmite bons detalhes do piso.

É ainda possível alternar entre modos de condução, com o mais eficiente ‘Eco’ a privilegiar a economia, assim limitando a forma como a potência é entregue (bem como a energia consumida por algumas funcionalidades, como o ar condicionado). No polo oposto, o modo ‘Sport’ torna a resposta mais desportiva, mas não nos pareceu uma diferença gigantesca. Também presente está o sistema E-Pedal com condução de pedal único, valendo pela sua experiência em ambiente urbano que lhe permite quase dispensar o pedal do travão.

Quanto aos outros modelos que estarão disponíveis, o Ariya terá versões com bateria de 87 kWh e duas rodas motrizes, com autonomia até 500 quilómetros, e de quatro rodas motrizes (sistema E-4ORCE) com autonomia até 460 quilómetros. Este sistema de tração integral eletrificada utiliza os controlos eletrónicos para distribuir o binário de forma distinta por cada uma das rodas com vista ora a uma maior suavidade de rolamento (com menor afundamento e inclinação), ora a maior dinamismo e segurança, sendo que o objetivo máximo é dar maior confiança ao condutor.

Os tempos de carregamento variam consoante as tomadas escolhidas, podendo ser ligado a ‘wallboxes’ de 7.4 kW ou 22 kW, podendo repor de 10 a 100% em 3h30 no caso do modelo de 63 kWh e em até 5h00 no caso dos de 87 kWh. O novo Ariya admite ainda carregamento rápido até 130 kW em postos CC, repondo de 10 a 80% da carga em 35 minutos no caso do modelo com bateria de 63 kWh e em 40 minutos no caso do de 87 kWh.

O Ariya será construído no Japão, mas terá afinação especial para o mercado europeu, que é considerado o mais exigente em termos de condução.

Em suma, nesta primeira abordagem, o novo Ariya mostrou excelentes dotes dinâmicos e uma agradabilidade de condução que farão dele um concorrente a ter em conta entre os SUV elétricos de segmento médio-alto. O lançamento está previsto para o verão de 2022 com preços ainda por finalizar, mas sabe-se já que a versão base caberá no intervalo entre os 45.000€ e os 50.000€.

Qashqai elétrico mas a gasolina

Também o Qashqai surgirá neste verão, sendo esperado com grande expectativa atendendo ao facto de que introduz na Europa uma tecnologia que no Japão teve grande sucesso com o Note. No caso do SUV europeu, há também algumas novidades estéticas, que não chegam ao nível de um facelift, mas que se notam pela grelha distinta (com novo símbolo da Nissan) e pelas insígnias e-Power espalhadas na carroçaria.

O interior tem agora novos ecrãs de 12.3” para a instrumentação e para o sistema de infoentretenimento, de nova conceção e com funcionalidade de controlo por voz, a que se junta ainda a possibilidade de interagir com a Amazon Alexa. Estas novidades estarão em todos os modelos Qashqai daqui em diante.

Recorrendo à plataforma CMF-C pensada para motorizações híbridas e com motores de combustão interna ‘puros’ (tendo um peso estrutural 60 kg inferior à da anterior plataforma), o Qashqai passa a incorporar o sistema híbrido e-Power primeiramente lançado no Note em 2017 e, mais tarde, no pequeno SUV Kicks. Porém, os responsáveis da Nissan reconhecem que o mercado europeu é mais exigente do que o nipónico em termos de condução, pelo que houve um processo de adaptação ao Velho Continente, sobretudo com o aumento da potência de todos os componentes do sistema e-Power.

Essencialmente, a tecnologia híbrida funciona sempre com o motor elétrico a alimentar as rodas motrizes, com o motor de combustão a servir de gerador de carga e não de componente para movimentação das rodas, ao contrário de outros sistemas híbridos que já existem no mercado.

Apresenta um motor elétrico de 140 kW/190 CV (mais potente do que o do sistema do Note, que era de apenas 95 kW), associado a um motor 1.5 VCR turbo de 156 CV. Este bloco a gasolina dispõe de tecnologia VCR de taxa de compressão variável que permite mudar a taxa de compressão consoante a exigência da condução em cada momento.

A potência final é a mesma do motor elétrico, uma vez que é este que movimenta as rodas: 140 kW/190 CV, para 330 Nm de binário máximo.

A marca japonesa promete aceleração suave própria de um elétrico, a par de maior refinamento e silêncio de marcha, valendo-se também de sistema de cancelamento de ruído a bordo que ajuda a disfarçar o barulho exterior e do motor.

A simulação de percursos incluía dois cenários de ‘STOP’ dentro do circuito…. Se os de 30 km/h já eram de difícil cumprimento…

Na primeira experiência em solo espanhol, houve impressões positivas e outras menos interessantes, sendo que a questão do ruído do motor de combustão – por exemplo, ao ralentí –, não nos pareceu totalmente conseguida. No entanto, dinamicamente, o Qashqai e-Power oferece bons desempenhos e prestações muito boas, com a tal disponibilidade momentânea do motor elétrico a fazer-se sentir nos arranques e nas recuperações.

O modo 100% EV pode ser ativado (dependendo da capacidade da pequena bateria de iões de lítio com 1.5 kWh), assim percorrendo alguns quilómetros não muito exigentes em termos de piso, enquanto outra novidade é a introdução do sistema sistema e-Pedal Step, neste caso com a diferença de desacelerar de forma mais progressiva para uma velocidade lenta (cerca de 5 km/h), obrigando dessa forma a utilizar o travão.

Em termos de economia, no traçado de Jarama, apesar da simulação de estradas urbanas nas quais o consumo poderia baixar, a verdade é que a condução foi… pouco real, com a fase de autoestrada, por exemplo, a proporcionar-nos a possibilidade de atingir os 140 km/h na reta da meta. Assim, o consumo médio acima dos 10 l/100 km é pouco mais que simbólico, tendo a Nissan um valor homologado de 5,3 l/100 km de consumo médio e de 119 g/km de emissões de CO2.

Nota muito positiva para o comportamento deste Qashqai, muito seguro e competente, independentemente do estilo de condução.

Juke tira ‘coelho da cartola’

Já o Juke recorre a mecânica híbrida mais convencional, com forte partilha de componentes com os utilizados pela Renault no Captur e no Clio. O sistema é composto por um motor a gasolina de 1.6 litros com 94 CV associado a dois motores elétricos, um de tração com 49 CV e outro que atua como gerador de alta voltagem, sendo a potência conjunta de 143 CV.

A marca aponta que cerca de 80% dos percursos urbanos possam ser feitos com recurso apenas o modo elétrico, o que lhe confere uma economia acentuada. A caixa multimodo com diferentes modalidades de funcionamento completa o conjunto que aponta para consumos desde 5,1 l/100 km e emissões de CO2 desde os 117 g/km.

A complementar a oferta de eletrificação estarão o Leaf, com uma ligeiríssima atualização estética para 2023, e o comercial ligeiro Townstar com motor elétrico de 90 kW/122 CV e bateria de 45 kWh para autonomia até 300 km. Sem comprometer a capacidade de carga e funcionalidade, esta é a resposta da Nissan à tendência crescente de limitação da entrada de veículos a combustão nas grandes cidades, que se conjuga com o crescimento cada vez mais acentuado nas compras online.

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