Os veículos comerciais não escapam à tendência de eletrificação geral da indústria automóvel, com os construtores a procurarem oferecer soluções para diferentes tipos de utilização. A Renault é uma das marcas que reforça a sua aposta nos Comerciais Ligeiros (VCL) com o Kangoo Van E-Tech, uma versão de trabalho 100% elétrica que tem o condão de não ser prejudicada em termos de capacidade de carga face à correspondente versão de combustão.

Numa fase em que o comércio online obrigou a uma reinterpretação dos conceitos de entregas dentro da cidade, a aposta é cada vez mais clara nos VCL elétricos para assim poderem aceder a cidades em que a malha para os modelos com motor de combustão interna venha a apertar. A pensar nisso, a Renault apresentou a mais recente geração do Kangoo Van E-Tech, que tem por base o modelo lançado no ano passado (e que foi eleito Comercial do Ano a nível europeu), traduzindo-se dessa forma num conceito altamente versátil, não dispensando mesmo a solução inovadora de ‘Open Sesame’ para a porta do passageiro.

A história do Kangoo elétrico não começa aqui, no entanto. A marca francesa apresentou o seu primeiro comercial elétrico, o Kangoo Z.E. (o acrónimo antigo para Zero Emissions), em 2012, cujo sucesso ficou patente em mais de 70 mil unidades entregues desde então para vários tipos de uso. Este detalhe é relevante na medida em que ao longo desta década, as informações e as respostas recolhidas junto dos utilizadores serviu para melhorar o Kangoo e ajudá-lo a adaptar-se às exigências dos clientes.

Já referido atrás, um dos destaque em termos funcionais é o o conceito ‘Open Sesame’ sem pilar B do lado do passageiro para um espaço de carga adaptável e mais amplo, que transita aqui da versão térmica, sem qualquer tipo de impedimento. Isto porque a conceção do novo Kangoo Van E-Tech teve já em mente a versão 100% elétrica, assim permitindo que o espaço para a carga não sofresse qualquer alteração ou que os seus méritos de arrumação fossem diminuídos.

Assim, deslizando a porta lateral traseira de correr e abrindo a porta do passageiro (praticamente a 90 graus), obtém-se aquela que é a maior abertura lateral do mercado: 1,45 m, o que lhe permite assim carregar grandes volumes a partir da zona lateral sem a intromissão do pilar B. A marca operou diversos reforços estruturais para garantir que a condução e a segurança em nada perdiam com esta solução, apresentada anteriormente nos modelos com motor de combustão. Ainda no capítulo das soluções de trabalho, destaque para a galeria interior retrátil ‘Easy Inside Rack’, os três bancos da frente com um encosto central rebatível para criar um escritório móvel, e os quase 60 litros de compartimentos de arrumação na cabina, incluindo a gaveta ‘Renault Easy Life’.

Ao colocar a bateria de iões de lítio de 45 kWh sob o piso, a capacidade de carga permanece inalterada, com até 3,9 metros cúbicos de volume de armazenamento na versão mais curta L1 (subindo para os 4,9 metros cúbicos no modelo longo, a ser lançado mais tarde), 600 kg de carga útil (800 kg no modelo de formato longo) e 500 kg de capacidade de reboque.

Com rapidez e menos receios de autonomia

O novo Kangoo E-Tech recorre a um motor de 90 kW/120 CV de potência e 245 Nm de binário, o que lhe permite oferecer prestações desafogadas e ritmos muito adequados para viagens de trabalho em cidade e fora dela. Ao volante, a posição de condução parece aproximar-se mais à de um turismo familiar do que a um comercial, enquanto o painel de bordo combina os manómetros analógicos tradicionais com um ecrã TFT de 4.2″ ao centro.

Dispondo de dois modos de condução, esta Kangoo Van E-Tech Electric oferece toda a potência no modo ‘Normal’, sendo adequado para quando vai mais carregado, enquanto o modo ‘Eco’ (selecionável a partir de botão na consola central) limita a potência e a velocidade máxima, ajudando dessa forma a otimizar a autonomia em condições de carga leve.

Caracterizando-se sobretudo pela sua facilidade de condução, com todos os comandos corretamente posicionados e volante com boa precisão, o Kangoo E-Tech acelera com vigor, mesmo com mais carga a bordo, valendo-se do binário elétrico sempre disponível, ao mesmo tempo que se nota uma boa progressividade na entrega da potência no modo ‘Eco’, suavizando as respostas de forma evidente para também poupar a bateria. Neste modo, a velocidade máxima é limitada, mas tenderá a servir eficazmente os seus propósitos em ambiente urbano, onde o tráfego mais constante e a baixa velocidade não exige grandes necessidades de potência.

A velocidade máxima é de 135 km/h e a aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 12 segundos.

O tato do pedal do travão é correto, mas não esconde os efeitos da travagem regenerativa. A este respeito, há três modos de regeneração selecionáveis a partir da alavanca da caixa (que não o é, em boa verdade), sendo um deles menos intrusivo com desaceleração muito limitada (B1), um intermédio (B2) com sensação semelhante à de um motor de combustão quando desacelera e a mais intensa (B3), com maior capacidade regenerativa para utilização em engarrafamentos e em estradas de montanha. Jogando com estes modos é sempre possível ganhar alguns quilómetros adicionais aproveitando o relevo da estrada.

A nova bateria de 45 kWh de capacidade é composta por oito módulos independentes e reparáveis (a Renault pensa assim em sustentabilidade e nos custos de operação futuros), autorizando até 300 quilómetros de autonomia com uma única carga (em ciclo misto WLTP). O valor declarado parece-nos bastante correto, já que ao cabo de um percurso de cerca de 70 quilómetros na apresentação em França, o registo de consumo obtido foi de 15.5 kWh/100 km, sem grandes cuidados com o andamento.

Disponível em versões com carregador de 22 kW, a bateria tem um sistema de refrigeração líquida e uma resistência elétrica que permite a sua utilização numa zona de temperatura ideal, mantendo assim a sua autonomia e reduzindo o tempo de carga. As baterias têm uma garantia de oito anos ou 160.000 km. Durante este intervalo, são substituídas gratuitamente se a sua capacidade se degradar para menos de 70% do seu valor nominal (SoH).

Sendo um modelo primariamente direcionado para o trabalho, o amortecimento é macio, de forma a proteger a carga de abalos desnecessários em mau piso, mas com boa estabilidade em percursos sinuosos, sem nunca apelar a toadas mais elevadas. A direção é informativa q.b., pelo que a condução é possível de agradar pela simplicidade e comodidade.

Alternativamente ao painel de instrumentos convencional, o condutor pode contar com um painel digital a cores, totalmente personalizável, de 10 polegadas para um outro ambiente interior. Outro opcional é o retrovisor digital interior, que projeta as imagens captadas por uma câmara traseira posicionada em posição superior para oferecer uma visão posterior alargada, o que é importante atendendo a que as portas de painel atrás impedem a visibilidade de um retrovisor interior.

Opções de carregamento

Para recarregar a bateria, o novo Kangoo Van E-Tech Elétrico oferece uma escolha de três tipos de carregador. De série são oferecidos dois tipos de carregadores: um carregador trifásico de 11 kW (ajustado a todo o tipo de carregamentos domésticos AC), um carregador trifásico de 22 kW, para carregamentos rápidos em terminais públicos e, a mais rápida de todas, um carregador rápido de 80 kW para CC (corrente contínua), o qual permite recuperar 170 quilómetros de autonomia (ciclo WLTP) em 30 minutos.

A bateria elétrica do novo Kangoo Van E-Tech demora 2h40 para passar dos 15% aos 80% de carga, quando ligada a uma ‘wallbox’ de 11 kW e menos de seis horas numa ‘wallbox’ de 7.4 kW.

Finalmente, graças à aplicação para smartphone MyRenault ou ao sistema multimédia Renault Easy Link, há uma série de serviços associados como a programação da carga da bateria com monitorização remota do seu estado ou a climatização remota.

O novo Kangoo Van E-Tech está disponível com diferentes níveis de equipamento, Advance e Extra (ambos com a possibilidade de serem agregados também ao equipamento ‘Open Sesame’), com preços a partir dos 40.036€ no caso da versão Advance e dos 42.496€ no caso da Extra. A função ‘Open Sesame’ eleva ligeiramente os preços para 41.020€ e 43.480€, respetivamente. De notar que estes preços incluem o valor do IVA e que a Renault proporciona também diferentes tipos de serviços adequados para clientes profissionais consoante as suas necessidades, ao abrigo da marca recém-criada Mobilize, como serviços de telemática, entre outros.

*Em Paris, França.

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