Ensaio Mercedes-Benz A 180d: Olha quem fala agora!

18/06/2018

Poder-se-ia começar este ensaio ao novíssimo Classe A da Mercedes-Benz por muitos ângulos: pela acutilância do desenho com inspiração no CLS, pela eficiência do motor 1.5 Diesel que a marca germânica utiliza neste seu novo compacto Premium ou até na mais-valia comercial que este modelo representa para a Daimler.

Poder-se-ia começar por qualquer um destes pontos e estaria certo. Contudo, quem se sentar a bordo deste modelo com o sistema MBUX, a mais recente solução de infoentretenimento da marca, tem de se render aos encantos da Mercedes, a rapariga que ‘vive’ submersa num qualquer chip ou unidade eletrónica deste Classe A.

Para quem conhece a perspicácia e sagacidade de soluções como a Siri, o facto de um simples ‘hey Mercedes’ dito em voz alta poder chamar uma espécie de assistente virtual para nos facilitar a vida poderá não parecer assim tão impressionante. Mas, é verdadeiramente um ponto digno de destaque. Não vá a pensar que terá conversas muito profundas com ‘a’ Mercedes. ‘Ela’ não lhe vai responder a coisas como o sentido da vida (falta de sentido de humor, dirão alguns…) ou se você é o(a) mais bonito(a) do mundo. Não foi para isso que a Mercedes-Benz concebeu o sistema.

Este foi idealizado para servir de assistente em diversas tarefas, ajudando em coisas tão simples como programar uma rota de navegação para um destino ou fazer uma chamada telefónica para alguém da sua lista de contactos (uma dica: nomes com acentuação são para ser ditos como se não o tivessem, como por exemplo, Joao). Quer saber o estado do tempo para uma zona em específico. A Mercedes saber-lhe-á responder. Tem calor na sua viagem? Peça-lhe para ligar o ar condicionado nos 18 graus. Tudo de forma simples…

Os primeiros tempos são de alguma estranheza por estar a dar ordens a alguém invisível no seu carro, mas depois, com a utilização, irá conhecer os comandos mais importantes a dar e a interação com a Mercedes torna-se intuitiva. Já agora, evite usar a expressão Mercedes nas suas conversas em voz alta com outro passageiro que esteja a bordo – em ‘carne e osso’ – uma vez que o sistema vai pensar que está a falar com ele…

Seja como for, pela facilidade de utilização, pelo acerto nas funções desempenhadas e pela inovação, este é um sistema que merece amplo destaque, sendo fácil de perceber porque é que a marca lhe vota grande atenção nas suas campanhas. Ao mesmo tempo, no modelo ensaiado, a solução dos dois ecrãs contíguos confere um visual ‘hi-tech’, com diversas formas de personalização, tanto do painel de instrumentos, como do ecrã central (este último tátil). De série, o sistema MBUX tem dois ecrãs de 7″, depois há opção de 7″ na instrumentação e central de 10.25″ e, por fim, dois ecrãs de 10.25″. Em momento algum, houve dificuldades na leitura de um ou do outro por reflexo de luz solar.

Mais ainda: este é um sistema que detém já alguma capacidade de aprendizagem graças a um módulo de inteligência artificial, pelo que pode começar a ‘aprender’ os hábitos do condutor e fazer até sugestões personalizadas. Um sistema de altíssima qualidade e com o qual se torna quase imperativo conviver na era da digitalização e dos smartphones (tendo ligação ainda com a aplicação Mercedes.Me). O sistema permite ainda receber novo conteúdo, personalização das aplicações, atualizações via wireless ou perfis de condutor específicos que guardam as preferências de cada condutor ao mais ínfimo detalhe.

Um mundo a explorar neste sistema MBUX, que significa Mercedes-Benz User eXperience, mas que é logo um grande chamariz para um Classe A que tem aqui valências que em breve irão ser alargadas à restante gama conforme forem sendo lançados novos modelos.

Muito menos interessante para o capítulo da conectividade é o da integração de tomadas USB de tipo C. Ou seja, aquela que ainda está longe de ser usual, mas nada que um cabo de adaptação não resolva facilmente para conseguir ligar o seu ‘desatualizado’ smartphone com mais de um ano…

Também é para conduzir

Naturalmente. O Classe A de nova geração surge com uma herança de peso, sobretudo porque a geração anterior foi um sucesso tremendo. A ‘porta de entrada’ no universo Mercedes-Benz foi trabalhada e aparece mais eficaz numa multiplicidade de aspetos, a começar desde logo pela condução, que oferece respostas muito precisas e elevada estabilidade em aliança com conforto digno de realce.

Mesmo que, nesta versão, a marca tenha recorrido a um menos evoluído esquema de suspensão traseira assente em barra de torção, ainda que de carácter reforçado e melhorado para responder aos pergaminhos de conforto e requinte de rolamento da marca de Estugarda, há uma notória solidez no ‘pisar’. Elevar o ritmo em percursos sinuosos faz sobressair o bom acerto do chassis, com uma configuração de direção e amortecimento que faz do novo Classe A um excelente ‘all-rounder’, polido na sua abordagem ao asfalto e competente dinamicamente.

Para este primeiro ensaio, a versão 180 d foi a escolhida, com o seu motor 1.5 Diesel de 115 CV de potência a mostrar respostas de elevado gabarito sem ser um atleta de sprints. Associado a uma caixa automática de sete velocidades (7G-Tronic), o motor denota enorme elasticidade que lhe permite acelerações com ímpeto e recuperações sem grandes demoras. A resposta do acelerador é também influenciada pelos diferentes modos de condução, havendo quatro à escolha – Individual, Sport, Comfort e ECO. Por defeito, ativa-se o Comfort, que combina utilização despreocupada com suavidade, sendo o Sport aquele que melhor permite explorar o rendimento do bloco turbodiesel de injeção direta. Já o ECO, sem surpresa, promove a eficiência, permitindo até, em determinadas circunstâncias em plano e sem ‘carga’ no acelerador, o desacoplamento entre motor e transmissão, com o Classe A a circular em modo ‘roda-livre’, baixando os consumos e emissões quando possível. A suavidade nas transições está muito bem conseguida, não se notando praticamente quando é que o motor e caixa voltam a ‘reunir-se’. Face a isso, o consumo médio obtido de 4,9 l/100 km é um bom indicador de contenção na utilização de gasóleo.

Regressando ao interior, a construção volta a estar num patamar deveras elogioso, havendo ainda que mencionar a utilização de muitos revestimentos macios ao tato no tablier, integração com plásticos de boa qualidade e o tópico da iluminação ambiente (com 64 cores disponíveis) que também dá um toque de modernidade. Mesmo sendo o modelo de entrada na Mercedes-Benz, a marca não poupou esforços para oferecer um ambiente requintado e Premium, visível por exemplo nos puxadores das portas ou nas saídas de ar da climatização. Quanto aos pontos menos positivos, fica a ideia de que esses são um prolongamento dos que já existiam na geração anterior.

Mais: Qualidade geral, condução equilibrada, consumos, eficácia do motor, tecnologia, apresentação do interior.

Menos: Espaço atrás não progrediu por aí além, Atenção aos extras.

Ou seja, mesmo tendo maior distância entre eixos (+30 mm), o espaço atrás continua a não ser brilhante no segmento, embora esteja melhor agora, sobretudo no espaço para as pernas. Adultos até 1,80 metros não terão problemas, mas acima disso ficará mais ‘difícil’. A largura, com ganhos ligeiros, não é capítulo em que se destaque (até porque as laterais dos bancos junto às portas ‘empurram’ para o meio), mas esta é uma condicionante que se pode aplicar à grande maioria dos automóveis do segmento C e até do acima.

A bagageira foi ampliada ligeiramente para os 370 litros, sendo ligeiramente melhor do que os seus concorrentes Premium germânicos (mas abaixo de outras propostas do segmento como o Honda Civic, por exemplo). No geral, não desaponta para uma pequena família de quatro.

Por fim, em termos de equipamento, também muitos reforços, com este A 180d a dispor de elementos como a câmara de marcha-atrás, o airbag de joelho para o condutor, o já tão mencionado sistema MBUX de menores dimensões, cruise control, sensores de chuva e de luminosidade ou o sistema Dynamic Select. Tudo isto por 32.450€. Depois, quem quiser um pouco mais, como a versão mais arrojada do MBUX com dupla de ecrãs de 10.25″ terá de juntar extras, como o Pack Advantage (1150€), com navegação 3D e Pack Espelhos integrado, ou a linha Progressive (1650€). A versão ensaiada tinha um valor declarado de 36.914€.

VEREDICTO

Não há volta a dar. O novo Classe A tem um posicionamento realmente único neste momento, sobretudo pela sua tecnologia a bordo que o ‘atira’ para uma nova era de conectividade e assistência ao condutor. Qualidade de construção intocável e condução que é agradável, promovendo segurança e conforto em doses equilibradas com um lado dinâmico que também é muito apelativo dão também ao Classe A uma postura de referência no segmento C Premium. Na versão 180 d, com a variante Diesel de 1.5 litros com 116 CV, a frugalidade e a eficácia desde baixos regimes – em associação com a caixa automática de sete velocidades – dão-lhe serenidade nos ritmos quotidianos e segurança no momento de subir o ritmo. Ainda assim, vale a pena indicar que a variante com motor a gasolina de 1.3 litros com 163 CV tem o mesmo preço de base… e a potência é bem superior.

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