Imagine que tem dois depósitos no seu automóvel e que com isso pode percorrer muitos mais quilómetros com um custo que é bem mais acessível do que se fosse apenas alimentado por gasolina ou Diesel. Parece demasiado otimista para ser realidade, mas é isso que se passa com o Leon TGI ensaiado, uma unidade aqui em versão familiar ST que recorre ao bem-sucedido motor 1.4 TSI a gasolina mas que o converte para utilização com gás natural comprimido (daí a sigla TGI), ajustando-lhe a potência para 110 CV. Uma ligeira adaptação para um motor que é dos mais versáteis do mercado nesta faixa de potência e que, como se verá mais por diante, não acarreta grandes prejuízos em termos de performance.
O que muda?
Na prática, o Leon TGI não tem grandes mudanças técnicas face a um 1.4 TSI convencional, embora existam, naturalmente. A maior de todas é a inclusão de um segundo depósito de GNC sob o piso da bagageira, o que lhe retira alguma da capacidade comparativamente à carrinha Leon com motores a gasolina ou Diesel. Esse depósito permite levar até 15 kg de gás natural comprimido, sendo que tem um armazenamento com pressão de 200 bar.
Além desse, mantém-se o depósito de 50 litros de gasolina, o que, como se percebe, já é um bom indício de autonomia. E, tecnicamente, as mudanças ficam-se por aqui. No interior, ao condutor é reservado no manómetro do conta-rotações um ícone do GNC (verde quando está a ser utilizado), no lado esquerdo, bem como o respetivo indicador do nível de combustível restante. Do lado oposto, no direito, dentro do velocímetro, encontra-se o indicador tradicional de gasolina. O computador de bordo também apresenta dados de consumo e autonomia de ambos os combustíveis.
Como se conduz?A forma de conduzir é praticamente a mesma, embora exista uma novidade: o GNC é o combustível primário. Ou seja, o condutor não tem hipótese de escolha entre o GNC e a gasolina, com o gás a ser utilizado sempre que ainda esteja presente no depósito. Uma vez esgotado, alterna para gasolina. Em termos práticos, a SEAT oferece com esta solução mais de 1000 quilómetros de autonomia com solução ecológica, não sendo difícil registar baixos consumos com o GNC. No nosso ensaio obtivemos uma média de 4,3 kg/100 km no GNC – no caso dos modelos de gás natural, a forma de apreciação dos consumos altera-se para quilogramas por 100 quilómetros. A marca espanhola aponta um consumo médio de 3,6 kg/100 km, ao passo que a média de consumo de gasolina é de 5,5 l/100 km.
Uma vez que falámos da localização do depósito de GNC, convém referir que, pelo lado menos bom, a sua colocação sob o piso da bagageira resulta numa perda da capacidade desta variante face aos modelos a gasolina ou Diesel, além de ver reduzida alguma da sua versatilidade – passa dos 587 litros para 482 litros. Perde, ainda, a possibilidade de receber uma roda sobressalente. Contudo, na verdade, muito dificilmente irá sentir que ‘perdeu’ aqueles 100 litros de capacidade, tal é a volumetria disponível em configuração de cinco lugares.
Esta versão TGI debita 110 CV e 200 Nm de binário máximo, surgindo aqui em associação a uma caixa manual de seis velocidades (também existe variante com caixa automática DSG), destacando-se pela sua comodíssima prestação, mostrando respostas rápidas e desembaraçadas em praticamente todas as situações. Elástico nas reações, tem fôlego interessante desde baixas rotações até patamares mais altos, mesmo que não seja necessário esticar a mudança para regimes mais altos. Ou seja, fruto do funcionamento do turbocompressor, o motor TGI tem boa elasticidade e atitude quando se carrega na acelerador.
O seu comportamento é muito certinho, com ótima estabilidade em curva sem ser um desportivo, dando primazia ao conforto dos ocupantes. Na prática, o Leon ST é ágil nas mudanças de direção, com rolamento da carroçaria bem contido em percursos sinuosos, ainda que a direção ofereça pouca sensação do que se passa na estrada. Por dentro, qualidade nos acabamentos e na construção é ponto de honra, sendo um bom exemplo do cuidado que é depositado atualmente nos produtos oriundos de Martorell. O sistema de infoentretenimento de nova geração é outra mais-valia, sobretudo pela nitidez e conectividade apresentada. O sistema consegue, também, antecipar o final do GNC e mostrar na navegação os pontos de carregamento do gás natural mais perto.
Para passageiros, idealmente quatro, uma vez que os bancos traseiros são estreitos, mas tanto o espaço para as pernas como em altura são bastante bons. Apenas adultos de estatura acima da média poderão sentir qualquer incómodo.
Só se lamenta, mesmo, a redução da capacidade da bagageira…
“É fazer as contas…”
A rede de abastecimento também ainda é uma pequena limitação, mesmo que esteja a crescer cada vez mais, prevendo-se até a sua expansão nos próximos tempos.
VEREDICTO
Não se fala muito do GNC como opção, mas é uma pena que seja assim. Em boa verdade, esta é uma solução bastante útil e eficaz para quem procura um modelo mais ecológico sem ter de abdicar dos motores de combustão interna e sem ter de despender mais dinheiro em modelos da era da eletrificação. Mesmo que seja o futuro, a eletrificação ainda não está ao alcance de todos. Ambientalmente, as emissões de CO2 são menores em cerca de 25% face a um modelo a gasolina e 20% face a um Diesel. Comparativamente ainda a um GPL, é também menos poluente no CO2 em 12%. No que diz respeito ao nocivo óxido de azoto (NOx), emite menos 15% do que um gasolina e GPL e impressionantes menos 80% do que um Diesel.
Entremos, pois, no capítulo do custo: o GNC é muito mais acessível do que o gasolina ou gasóleo, pelo que o custo operacional resulta num dos modelos mais económicos do mercado. Na versão Style, que já tem bastante equipamento de série, o custo de partida é de 28.730€, mas acrescentem-se alguns extras e o valor aumenta. Mas, seja como for, os custos de utilização são difíceis de bater num produto solidamente concebido, como já tem sido apanágio na SEAT.
Motor 1395 cc, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler
Potência 110 CV às 4800 rpm
Binário 200 Nm às 1500 rpm
Transmissão Caixa manual de 6 velocidades, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h 11 seg.
Velocidade máxima 194 km/h
Consumo médio anunciado Gasolina 5,5 l/100 km
Consumo médio anunciado GNC (medido) 3,6 kg/100 km (4,3 kg/100 km)
Emissões CO2 96 g/km
Comprimento/largura/altura 4549/1816/1454 mm
Distância entre eixos 2636 mm
Peso (c/ condutor) 1421 kg
Bagageira 482 – 1365 litros
Depósito de combustível gasolina 50 litros
Depósito de combustível GNC 15 kg
Suspensão dianteira Independente McPherson
Suspensão traseira Eixo de torção
Pneus 225/45 R17
Preço base 28.730€
MAIS: Autonomia, custos de utilização, conforto, condução, qualidade geral, prestações.Menos: Bagageira reduzida para uma carrinha, Equipamento de série poderia ser mais recheado, Rede de abastecimento ainda escassa.
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