A smart prossegue com toda a força na sua transformação para o mundo elétrico e o forfour assume um dos papéis principais na família EQ dedicada aos veículos eletrificados. O citadino tem um visual renovado e está mais jovial, mas a componente técnica é a mesma do modelo lançado originalmente, o que torna a sua vida muito complicada…

A smart foi das marcas que mais rapidamente abraçou a nova era da eletrificação na indústria automóvel, assumindo, com alguma naturalidade, que os seus veículos foram pensados para utilização na cidade, logo, elétricos. A reforçar essa ideia a passagem em definitivo para as motorizações elétricas, rejeitando os motores de combustão sob o pragmatismo da denominação EQ para os modelos eletrificados do grupo Daimler.

Aproveitando facelift da sua gama, os smart fortwo e forfour passaram a ter maior distinção entre si, no caso do maior (quatro lugares) com grelha de formato em ‘A’, a juntar-se a novos faróis (com possibilidade de tecnologia Full LED em opção) e capot, bem como ‘lettering’ smart espalhado neste último. Atrás, também há nova imagem para os farolins. Pouco mais há a apontar, mantendo-se o aspeto jovial e irreverente que vem caracterizando estes modelos há anos.

Por dentro, o smart EQ forfour apresenta algumas novidades mais relevantes, como o aumento dos espaços de arrumação, sobretudo com a criação de uma pequena plataforma na consola central, perfeito para deixar o smartphone, mas também com mais espaço nas portas. O desenho do tablier não inova, mantendo a configuração jovial e com uma combinação apreciável entre plástico mais duro e revestimento em tecido. O condutor ganha ainda um indicador de utilização de potência ou de carregamento da bateria, bem como um indicador de carga. Ainda ausente da unidade a ensaio está o novo sistema de infoentretenimento fornecido pela Bosch, associado a ecrã de 8.0” e que permite maior integração com o universo digital, com conectividade aos sistemas operativos Android Auto e Apple CarPlay, mas sem navegação – algo que a marca julga ser compensado pelo tipologia de sistemas como o Waze e Google Maps, embora estes exijam gasto de dados por parte do utilizador. Além disso, permitirá acesso à aplicação smart EQ Control, para acesso a funcionalidades remotas e dados sobre o veículo na palma da mão.

Face às suas dimensões, que se mantêm muito compactas, o forfour acomoda quatro passageiros adultos com comodidade, embora a altura traseira não seja fantástica, tal como o espaço para as pernas, sobretudo se o passageiro for de elevada estatura. A isso junta-se um posicionamento elevado dos assentos, devido à colocação da bateria sob o piso do veículo. Não é brilhante, mas cumpre perfeitamente com a sua missão. A bagageira está na média do segmento, mais adequada para a azáfama do dia a dia.

Ligado à cidade

Onde a smart mexeu pouco ou nada foi na vertente motriz, mantendo o mesmo motor e bateria da versão lançada originalmente. Ou seja, mantém-se o motor elétrico de 60 kW/82 CV e 160 Nm de binário, na prática, capazes de dotar o forfour de uma genica muito apreciável dentro e até fora da cidade, ganhando velocidade de forma fácil até aos 80 km/h. Porém, se as prestações são elemento positivo do forfour elétrico, até pela sua agilidade no arranque e recuperações, já a autonomia acaba por ser o ‘calcanhar de Aquiles’.

Sob o piso, tal como já foi escrito, está uma bateria de iões de lítio de 17.6 kWh, fornecida pela Deutsche Accumotive, que permite autonomia até 140-150 quilómetros. Mesmo assim, com recurso ao botão ECO, que limita a potência e a gestão do ar condicionado em prol da eficiência, é possível obter esse valor desde que se permita também utilizar as descidas para ir recarregando a bateria através da inércia e da posição ‘B’ da caixa. O ‘B’, de ‘Brake’, acentua a regeneração durante a condução e também a energia recuperada para a bateria.

Muito positivo, por outro lado, o seu comportamento. Ágil e muito seguro, beneficiando do centro de gravidade mais baixo que se contrapõe à sua altura, o forfour negoceia curvas com estabilidade e direção comunicativa, sendo elogiável por isso mesmo em percursos mais encadeados. A suspensão é algo firme, mas não propriamente desconfortável, ajudando mais ao lado dinâmico. Em cidade, muito bom também o raio de viragem, possibilitando manobras de forma fácil.

O ‘desaparecimento’ da autonomia é tanto maior quanto maior a velocidade, pelo que a sua capacidade de circular a 80 km/h com facilidade acaba por ter repercussão na autonomia. No ensaio, a média obtida foi de 13.5 kWh/100 km, o que é manifestamente bom atendendo a que foi sempre conduzido de forma relativamente normal, mas aproveitando os declives para recuperar energia.

Melhorias houve, isso sim, no capítulo do carregamento. Mas não para o rápido, ainda. O smart EQ forfour passa a poder carregar a 22 kW (obrigando a aquisição de carregador de bordo de 22 kW por 995€), demorando cerca de 40 minutos a repor a energia dos 10% aos 80%. A marca entende que, sendo um veículo maioritariamente urbano, deve dar primazia à facilidade de carregamento em qualquer local sem ter necessidade de um posto de carregamento rápido e a uma bateria maior.

Assim, de série, o EQ surge com um carregador de bordo de 4.6 kW, o que permite repor entre zero e 80% da carga da bateria em cerca de seis horas numa tomada doméstica de 230V, algo que é prático durante a noite para as voltas do dia seguinte. No caso de optar por uma ‘wallbox’ de 7.2 kW, o processo torna-se um pouco mais lesto, em redor das quatro horas.

Porém, essa sua capacidade rápida acaba por não atenuar o facto de estar agora, mais do que nunca, limitado à cidade ou zonas envolventes, devido à sua autonomia que apenas excecionalmente será superior a 150 quilómetros e isto atendendo sempre ao estilo de condução, temperatura ambiente e tipo de percurso.

O que nos leva a outra questão: o preço. O smart EQ forfour tem um preço base de 23.739€, o que é um dos seus principais óbices num momento em que noutras marcas começam a aparecer alternativas algo mais versáteis em termos de utilização e em faixa de preço muito semelhante, como o Renault ZOE ou o Opel Corsa-e, com autonomias muito superiores.

No caso da unidade ensaiada, os opcionais como o teto de abrir em lona (625€), os vidros escurecidos (175€), o carregador de bordo de 22 kW (995€), o Pack de Cabos de Carregamento (310€), que inclui cabo de carregamento trifásico para ‘wallbox’ e estações públicas, ou o Pack Exclusive (2730€), que inclui faróis LED, radar e câmara traseira e sensor de luminosidade e de chuva, entre outros, elevam o preço final já para uns mais proibitivos 29.874€.

VEREDICTO

A smart está de pedra e cal no universo elétrico e os atuais EQ fortwo e forfour são duas propostas de veículos elétricos que têm o seu merecido espaço no panorama da eletrificação. No caso do forfour, no entanto, alguns detalhes acabam por prejudicar um modelo que teria muito mais para singrar. Acima de tudo, a sua parca autonomia em relação direta com o preço.

É certo e sabido que a maior parte dos condutores não percorre mais de 30 a 50 quilómetros por dia e, nestes casos, os smart são exímios e até divertidos de conduzir. Mas, indo um pouco mais além, os modelos acabam por estar confinados (agora que o termos está tão em voga…) ao ambiente urbano ou a trajetos onde o carregamento garanta as suas necessidades. Quanto a isso, sabendo-se se antemão dessa condição, um cliente do smart EQ forfour não sairá dececionado. Mas, se a ideia é ir ocasionalmente para um fim de semana de ‘escapadinha’, a solução smart já se torna mais complicada, tornando-se definitivamente um carro urbano. Enfim, a grande razão de vida da smart.

Mas, olhando para os outros aspetos deste modelo, destaque para a boa qualidade de construção e para a sua condução que é até divertida nalguns percursos, a que se acrescenta a tranquilidade de condução elétrica. Afinal de contas, ajustem-se as expectativas e o EQ forfour cumpre na perfeição. Procurando algo mais, o melhor é procurar nas alternativas do mercado.

MAIS

Qualidade geral

Facilidade de condução

Prestações

Consumo energético

MENOS

Preço

Custo dos opcionais

Autonomia limitada

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