O formato AMG parece não se esgotar e depois de todos os elogios feitos ao compacto A 35, com um motor 2.0 turbo de 306 CV de potência, os engenheiros do departamento desportivo da marca alemã esticaram a corda. Encheram o bloco de quatro cilindros com mais uns ‘pózinhos’ e fizeram uma obra de arte mecânica com 421 CV de potência. Um império dos sentidos em língua alemã.

Conquista-nos ao primeiro olhar: a grelha dianteira ‘Panamericana’ agora típica dos AMG, os para-choques volumosos com os splitters laterais para efeitos aerodinâmicos, o capot com as duas saliências, as cavas das rodas mais largas e as saias laterais acompanhadas de jantes expressivas de 19 polegadas, o enorme aileron traseiro (opcional) e o difusor inferior que integra as saídas de escape mostram uma ambição diferente. O cardápio visual do AMG A 45 S 4MATIC+ é impressionante e apenas a cor negra da unidade ensaiada parece contrariar a tendência para sobressair. No entanto, a sua condição quase discreta também lhe assenta bem.

No interior, a magia da AMG é produzida em acessórios como o volante desportivo específico com revestimento parcial em Alcantara, com o retoque extra de contar com os botões para escolher os modos de condução do Dynamic Select, da sonoridade do escape e do Controlo de Estabilidade (ESP). Não é preciso perder tempo a olhar para a consola central, está tudo à mão de semear. No tablier há ainda revestimentos também únicos, mas o destaque acaba por ser o conjunto de dois ecrãs de 10.25 polegadas em formato ‘panorâmico’ com integração do sistema de infoentretenimento MBUX. Aqui, menús específicos da versão AMG, que permitem acertos e acesso a dados a preceito.

Condutor e passageiro vão sentados em bancos de estilo bacquet com ajuste elétrico (AMG High-End por 4150€), ainda que a posição de condução não nos apaixone – é ligeiramente mais elevada do que o desejável. Mas o suporte do corpo é fantástico, deixando os passageiros ‘encaixados’ nos seus braços. E nem sequer é um prazer egoísta, uma vez que os lugares traseiros acomodam dois adultos de maior estatura com relativa comodidade, tirando também partido da menor espessura das bacquets para oferecer mais espaço para as pernas atrás. Uma vantagem inusitada.

O som do trovão

Mas é na mecânica que reside o grande trunfo deste AMG mais extremo, com o motor de quatro cilindros mais potente do mundo em carros de produção em série. Construído em alumínio, este motor de 1991 cc de cilindrada está equipado de injeção direta e de turbo, apresentado no seu cartão de identidade um total de 421 CV de potência e 500 Nm de binário, embora obtidos numa faixa elevada de rotações – entre as 5000 e as 5250 rpm. O sistema motriz fica completo com a caixa de velocidades automática de oito velocidades AMG-Speedshift 8G, com patilhas atrás do volante para comando manual/sequencial.

Ao ligar o motor, surge a primeira declaração de interesses. Uma sonoridade rouca proveniente das quatro saídas de escape redondas, que se agrava porém com um toque na tecla de comando da sonoridade do mesmo, que fica em modo ‘Powerful’ (potente). Curiosamente, em cidade, apesar da suspensão desportiva com afinação entre o ‘Comfort’ e o ‘Race’, este Mercedes-AMG não resulta demasiado desconfortável. Firme, por certo, mas quando em modo mais confortável do AMG Dynamic Select, tolerável em pisos mais degradados. O mesmo se pode dizer à entrega da potência: moderada, com a sua energia latente. Como um atleta de sprint a fazer o aquecimento para a sua prova: apenas dá o essencial, reservando o mais importante para depois.

E esse “depois” surge em estrada aberta, percurso sinuoso ou em circuito. A intensidade do bloco é surpreendente, assim como a entrega da potência ao asfalto com a benesse concedida de enorme estabilidade e segurança em curva que o sistema de tração integral 4MATIC+ AMG Performance de atuação ativa e com distribuição de potência entre os dois eixos consoante as necessidades oferece.

Deliciosa precisão

A direção é precisa como a mão de um relojoeiro suíço e o AMG 45 descreve as trajetórias certinhas, eficaz e composto, mesmo que em caso mais limite, fique patente um ligeiro rolamento lateral de carroçaria. Mas a simbiose com o condutor torna-se maior com a passagem dos quilómetros.

O motor é um poço de força, impetuoso, agressivo e capaz de nos atirar para velocidades elevadas com facilidade desconcertante. Aliás, este é um compacto que pode ombrear com muitos superdesportivos recentes neste capítulo, bastando olhar para o valor de aceleração dos zero aos 100 km/h: apenas 3,9 segundos! A tração integral dá-lhe o impulso necessário para colocar a potência no chão e mostrar um fôlego que, ao passar de mudança, é acompanhado, de um troar do escape. A supremacia das emoções ganha ainda um outro nível com a utilização das patilhas atrás do volante em modo sequencial, sendo preferível deixá-la em modo automático quando no dia-a-dia.

Tudo muito mais intenso e veloz quando ativado o modo ‘Race’, que coloca a suspensão no seu ponto mais firme, a direção mais pesada e a resposta do motor mais intensa, enquanto o controlo de estabilidade deriva para uma função ‘Pro’, que ‘adormece’ vagamente a eletrónica, mas não a desativa. Para testar limites, há ainda uma função ‘Master’ que permite configuração própria.

Os modos de condução AMG Dynamic Select permitem ainda optar pelo Individual (que pode ser personalizado), o já referido ‘Comfort’ e os mais desportivos ‘Sport’ e ‘Sport+’, elevando sempre a parada até ao mais extremo ‘Race’.

Para utilizar em ambiente controlado – entenda-se em circuito -, o modo ‘Drift Mode’ do AMG 45, que recorre a uma nova engrenagem do eixo traseiro, equipado com duas embraiagens de discos, uma para cada roda, permite enviar para o eixo traseiro uma maior quantidade de potência para maior diversão de condução, permitindo igualmente a sua entrega de forma diferente entre as duas rodas desse eixos graças ao sistema AMG Torque Control. Soa um tanto ou quanto a capricho necessário para destacá-lo do A 35, mas não deixa de ser um detalhe interessante.

A travagem também não é menos impressionante, com mordaz sistema composto por discos de 360 mm de diâmetro na frente e de 330 mm atrás, com pinças de travão de 6 êmbolos em vermelho com letras negras AMG. A suspensão tem três níveis de firmeza para ajuste personalizado e merece ser equipada, tratando-se de opcional por 1250€.

Quanto a aspetos menos fantásticos deste 45 S, são… os óbvios. Os consumos raramente descem da casa dos dez litros e o preço, esse ‘inconveniente’ que se justifica pelo leque de potencialidades mecânicas e técnica, cifra-se nos 77.750€ de base a que acrescem depois os muitos euros em extras. A unidade ensaiada, como nas imagens, tinha um preço de 96.939€.

VEREDICTO

Na escalada de potencialidade (e de potência) dos compactos, parece estar a atingir-se o pináculo, com o AMG A 45 S 4MATIC+ a ser um exemplar de estonteante qualidade dinâmica, com muita eletrónica a ajudar o condutor e um motor de dois litros sobrealimentado que é de fazer o coração bater mais forte. A sua entrega e competência em estrada surpreendem tanto quanto a sua benevolência em condução quotidiana, podendo até ser um pequeno familiar, descontando o consumo algo elevado.

Mas, leve-se este AMG a um circuito para um track-day ou entre-se num percurso mais encadeado e brilha pelo seu lado dinâmico e pela precisão. Talvez o maior elogio que se lhe possa fazer é de, máquina de sensações, impele sempre o condutor a arranjar desculpas para continuar a conduzi-lo. Este é daqueles que perduram na memória.

Por outro lado, se acha que o preço a pagar por este 45 S é muito elevado, acabamos como começámos: o A 35 4MATIC, com os seus 306 CV, é já uma porta de entrada muito apetecível pelos seus 60.100€.

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