Partilha muitos dos seus genes com o Porsche Taycan, mas o Audi e-tron GT é um desportivo de carácter singular. Com um design ao estilo coupé que é cativante e funcionalidade acrescida graças às quatro portas, a sua faceta desportiva é sublinhada por um sistema motriz composto por dois motores para uma potência total de 530 CV.

Há automóveis que exalam uma aura especial logo desde o primeiro momento em que são revelados. O e-tron GT da Audi é um desses casos. Sendo puramente elétrico, foi assumido desde o início como uma abordagem desportiva que presta também atenção ao lado do refinamento e da dinâmica de condução, aspetos em que sobressai (enormemente) pela positiva.

Medindo praticamente cinco metros (4989 mm) de comprimento, esta berlina destaca-se pelo visual coupé em que a linha de tejadilho a partir do pilar B cai suavemente rumo à zona da bagageira. Uma decisão que contribui para um aspeto belíssimo, mas que também afeta, de certa forma, o acesso e a saída dos lugares traseiros.

Ainda sobre o desenho exterior, a dianteira larga com a reinterpretação da grelha Singleframe em preto, as grandes jantes e a traseira com grupos óticos em estilo de setas unidos por uma faixa central contribuem para uma impressão de robustez que é consolidada, depois, por um interior de construção irrepreensível, com uma escolha de materiais de ótimo nível (como a Alcantara, pele e inserções em carbono, estas últimas opcionais por 1410€) e pela vertente tecnológica também de primeira linha, com painel de instrumentos digital personalizável (12.3″) e ecrã central tátil (10.1″) em posição elevada e com excelente visibilidade. Naturalmente, exibe o sistema de infoentretenimento da Audi, com as diversas funcionalidades agregadas e emparelhamento com os sistemas Android Auto e Apple CarPlay.

Tamanha excelência é ainda reforçada pelo volante desportivo cortado na zona inferior e pelos bancos com apoio fantástico e posição de condução tipicamente desportiva. Atrás, persiste a mesma impressão de grande comodidade, com muito espaço para as pernas e até surpreendendo em altura do assento ao tejadilho, muito porque o assento está em posição baixa.

Desempenho excecional

Ora, se muito do conceito transita do Taycan, o acerto do chassis é exclusivo da Audi, que tem até duas versões deste e-tron GT, uma base com 530 CV de potência (pico) e, outra, mais potente e diferenciada em termos dinâmicos, com a sigla RS, que chega aos 646 CV de potência (também em pico).

Mas é a versão base de ‘apenas’ 476 CV (ou 530 CV em ‘overboost’) e 640 Nm que temos em ensaio, sendo obviamente notável no capítulo das prestações. Escolhido o modo de condução ‘dynamic’, que extrai o máximo possível do conjunto, o e-tron GT acelera de forma espontânea e estonteante, valendo-se da eficiência de uma configuração elétrica de tração integral quattro para colocar no asfalto essa mesma potência sem constrangimentos ou grandes dificuldades. A aceleração dos zero aos 100 km/h em apenas 4,1 segundos é sinal claro de que este é um modelo de excelentes performances.

Por outro lado, a sua afinação não tão extrema permite-lhe ser extremamente dócil em condução quotidiana, oferecendo conforto e solidez de rolamento na grande maioria das situações. O isolamento acústico reforçado permite viajar praticamente em silêncio total, numa condição que parece até mimetizar a do A8, que é um dos melhores em todo o mercado automóvel no que toca a isolamento acústico face ao mundo exterior.

A condução é assim, simultaneamente, apta para tiradas em conforto, mas também para desfrutar de troços mais sinuosos, nos quais a direção eficaz, o chassis obediente, rígido e extremamente equilibrado e o baixo centro de gravidade permitem obter uma sensação de condução gratificante. No limite, em modo ‘dynamic’, a traseira consegue libertar-se um pouco mais, mas sempre com imensa estabilidade.

A suspensão pneumática (com modo para levantamento do chassis de forma a subir ou descer desníveis) concede ainda uma aprazível variedade no amortecimento, nunca sendo particularmente duro no amortecimento, mas acentuando a comodidade quando se passa pelo mau piso mesmo com jantes de 20 polegadas (com pneus 245/45 à frente e 285/40 atrás), que são opcionais por 1525€.

Afastados do modo mais desportivo, podemos optar pelo modo de condução ‘efficiency’ para tentar estender a autonomia deste e-tron GT ao suavizar enormemente a entrega do motor, bem como a atuação da climatização. O sistema de regeneração de energia de travagem é muito eficaz, podendo ser comandado em diferentes níveis a partir de patilhas atrás do volante, mas ainda assim o consumo médio obtido foi de 20.9 kWh/100 km, o que será suficiente para uma autonomia em torno dos 400 quilómetros entre carregamentos. Ou seja, longe dos 487 quilómetros propostos na ficha técnica.

A bateria, fornecida pela LG Chem, tem uma capacidade ‘líquida’ de 83.7 kWh (93.4 kWh no total), aceitando carga rápida de até 270 kW, o que lhe permite repor de 0% a 80% em cerca de 25 minutos.

Quanto a preços e equipamentos, a versão base tem um custo base de 110.543€, que já inclui elementos como a segunda porta de carregamento, jantes de 19”, direção assistida progressiva Plus, faróis LED Matrix com iluminação cénica, indicadores de mudança de direção dinâmicos e assinatura luminosa digital, ar condicionado automático de três zonas, sistema Audi connect Navigation & Infotainment Plus com MMI Touch, Audi pre sense front, câmara traseira de estacionamento, bomba de calor, volante desportivo multifunções em couro com patilhas e bancos dianteiros Sport. Entre os opcionais, destaque para a pintura metalizada Cinzento Daytona (1235€), as jantes de 20” (1525€), o Pacote Visual Black (1525€), o Pacote Interior Design Black (705€), os bancos dianteiros Sport Plus (2335€) e a suspensão pneumática adaptativa (2759€), entre outros, para um valor que se aproxima dos 130.000€.

VEREDICTO

Quebrando alguns convencionalismos no segmento dos desportivos, o Audi e-tron GT representa um ótimo exemplo de competência e rigor desportivo assente numa plataforma e componentes que foram Desenvolvidos em parceria com a Porsche.

Mas, pelo menos nesta variante, o e-tron GT não é um desportivo puro e duro, já que é suficientemente aprazível para longas viagens e até para utilização maioritariamente familiar, sabendo que os mais de 500 CV são suficientes para colar todos os ocupantes aos bancos.

A qualidade de construção, o equilíbrio de condução e a forma como dá ao condutor uma enorme sensação de confiança são os seus principais méritos, ajustando-se a todos aqueles que almejam chegar a um desportivo elétrico.

Pelo lado menos positivo, a autonomia é demasiado penalizada pela condução mais agressiva, enquanto o preço dos opcionais também pode ter um peso decisivo no valor final a pagar. Mas tudo isso são detalhes de uma experiência que já não é só a de grande aceleração em linha reta. O e-tron GT tem carisma e isso também deve ser valorizado.


MAIS
Design elegante
Qualidade de construção referencial
Prestações
Condução emocionante e segura
Espaço a bordo

MENOS
Autonomia
Preço de alguns opcionais
Acesso e saída nos lugares traseiros

FICHA TÉCNICA
Audi e-tron GT quattro
Motor Dois motores elétricos; um por cada eixo
Potência 476 CV/350 KW (530 CV/390 kW ‘overboost’)
Binário máximo 640 Nm
Bateria Iões de lítio, 93.4 kWh (83.7 kWh ‘úteis’)
Transmissão Tração integral, caixa de duas velocidades
Acel. 0-100 km/h 4,1 segundos
Vel. máxima 245 km/h
Consumo médio (WLTP) 20.1 kWh/100 km
Autonomia (WLTP) 487 km
Carregamento Máximo de 270 kW (CC) 23 min. 0-80%; 14h de 0-100% a 7.4 kW (CA)
Dimensões (C/L/A) 4989/1964/1413 mm
Distância entre eixos 2898 mm
Peso 2351 kg
Bagageira 405 litros (‘frunk’: 81 litros)
Pneus 225/55 R19 (D) – 275/45 R19 (T)
Preço 110.543€
Gama desde 110.543€

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
10
Prestações
9.5
Espaço
9
Segurança
9
Condução
9.5
Consumos
8
Preço/equipamento
8