Comparar um Dacia Sandero desta nova geração com um dos modelos do início da década de 2010 é como tentar comparar a noite com o dia. Tirando total partido da nova plataforma do Grupo Renault e de todos os ensinamentos recolhidos ao longo dos últimos anos, o novo Dacia Sandero Stepway é um modelo que é realmente recomendável, sobretudo quando se fala desta solução Eco-G com combinação gasolina/GPL, que o transforma num ‘rei da poupança’.

O veículo mais vendido a clientes particulares na Europa ganha uma nova ‘alma’ e um impulso muito forte nesta sua nova geração. Alvo de uma profunda renovação estética, o novo Dacia Sandero Stepway apresenta-se com um visual muito mais moderno e apelativo, mas beneficia também de uma grande melhoria tecnológica e qualitativa.

É aqui que o novo Sandero mostra o seu maior progresso, com um desenho mais apelativo e funcional, enquanto procura apelar a uma faixa de clientes cada vez maior, distanciando-se da mera perceção de carro de baixo custo para deslocações de ‘A’ para ‘B’. A realidade é que o novo Sandero é bem-sucedido nessa sua ‘missão’, dando mais do que aquilo que seria de esperar para um automóvel da sua gama em aspetos como o equipamento de série ou até na própria condução.

Olhando para o exterior, os novos grupos óticos com a assinatura luminosa em ‘Y’ são claramente distintivos, valendo ao novo Sandero uma outra robustez e maior sensação de largura, que no caso da versão Stepway se torna mais determinante fruto de especificidades como os protetores de carroçaria, as barras de tejadilho ou a maior altura ao solo (cerca de 5 cm). Não que faça muita diferença para passeios TT, na medida em que o Sandero Stepway conta apenas com tração dianteira e não foi pensado para grandes aventuras fora de estrada.

Interior é bom sítio para se estar

O habitáculo do novo Sandero é bem revelador do salto qualitativo, embora não abandone o predomínio dos plásticos como material para a sua construção (dando potencial azo a alguns ruídos parasitas), mas a construção geral é bastante boa e a funcionalidade também. Ainda assim, aqui e ali alguns toques de bom gosto, como o tecido numa faixa a toda a largura do tablier e nas portas. A insonorização é menos eficaz do que num Renault Clio, por exemplo, sobretudo num arranque a ‘frio’, mas é justo que se aponte uma melhoria face à anterior geração.

O painel de instrumentos é bem legível, com um ecrã digital ao centro para o computador de bordo, enquanto na consola central há um generoso espaço de arrumação e, não menos importante, um ecrã tátil de 8.0″ no topo com grandes ícones, de certa forma, parece rudimentar, mas a sua inclusão na versão ‘Comfort’ merece destaque pois garante a este modelo a possibilidade de ligação simples e direta aos smartphones (com conexão Apple CarPlay e Android Auto) até sem necessidade de recurso a cabos.

Além disso, muitos dos elementos do interior contam com apontamentos específicos para a variante Stepway em laranja no tablier ou bancos, onde se encontram também denominações ‘Stepway’ incrustadas nas costas. A este respeito, a posição de condução elevada ajuda à visibilidade geral.

Atrás, espaço muito interessante para dois adultos, revelando boas cotas de altura e de espaço para as pernas dos ocupantes. Já a largura interior não é conveniente para mais do que dois passageiros. Ao aceder à bagageira, quem estiver à espera de ver um volumoso depósito de GPL a retirar funcionalidades vai ficar surpreendido. Como a plataforma foi pensada de raiz para receber esta solução, a funcionalidade não foi comprometida, dispondo de 328 litros de bagageira, bem úteis para a maioria dos requisitos dos clientes.

Grande autonomia

Numa época em que a eletrificação ganha espaço (a própria Dacia vai lançar em breve o sue primeiro elétrico de baixo custo, o Spring), a marca volta a apostar numa solução que não tem tantos adeptos quanto, porventura, merecia – a do GPL. A fórmula ‘bifuel’ permite que o motor 1.0 TCe deste Sandero possa ser alimentado com gasolina ou GPL (Gás de Petróleo Liquefeito), recebendo a denominação Eco-G e valendo-lhe uma autonomia facilmente superior a 1000 quilómetros com baixos custos de utilização.

O motor 1.0 de três cilindros foi ligeiramente modificado para funcionar com gasolina ou GPL, contando para isso com dois sistemas de injeção distintos que permitem comutação entre combustíveis de forma rápida e impercetível através de um botão situado do lado esquerdo atrás do volante. Eis um primeiro ponto diferenciador do novo Sandero Stepway Eco-G. A apresentação do conceito GPL está muito melhorada e, além bo botão de aspeto mais ‘normal’, passa a dispor de um ecrã de ecrãs diferenciados no computador de bordo que mostram o consumo médio, o percurso feito com recurso a GPL e a autonomia.

O funcionamento varia pouco ou nada entre os dois combustíveis, não se verificando disparidades de ruído ou de prestações. Regra geral, sendo uma mecânica tricilíndrica com 100 CV e 170 Nm, o Sandero Stepway apresenta boa desenvoltura geral, com boas acelerações e recuperações acertadas, mesmo quando ativado o modo ECO, que retira algum do ímpeto ao motor. A diferença também não é substancial e, com efeito, parece-nos até que a atuação do bloco fica ligeiramente mais suave nesse modo, já que a curva de potência é entregue de maneira mais linear.

O recurso à caixa manual de seis velocidades com escalonamento curto também auxilia nas boas prestações e no bom aproveitamento das suas competências, mesmo que o seu manuseamento pudesse ser mais preciso. Não obstante, dependendo da circunstância, para uma ultrapassagem pode ser mais benéfico recorrer à caixa para ganhar ritmo.

Mas, se as prestações não desapontam, o que importa mesmo é a sua autonomia e custo de utilização. O Sandero Stepway apresenta um consumo médio homologado de 5,8 l/100 km de gasolina e 7,4 l/100 km de GPL (o consumo deste é sempre ligeiramente superior), o que tem correspondência com a utilização real: no ensaio, obtivemos um consumo de 5,6 l/100 km e de 8,0 l/100 km, respetivamente. No global, percorremos 202 quilómetros a gasolina e 169 quilómetros a GPL para autonomias restantes de 550 quilómetros e 350 quilómetros. Ou seja, se fizermos a soma de quilómetros feitos e ainda possíveis de fazer (com a ressalva de que o estilo de condução e os percursos influenciam estes dois pontos), podemos ter um total de 752 quilómetros a gasolina e 519 quilómetros a GPL para um total de mais de 1200 quilómetros!

Atendendo a que cada litro de GPL tem um custo médio de 0,63€, um percurso diário de 40 quilómetros pode representar uma poupança de 555€ por ano em comparação com a utilização puramente a gasolina (observando um custo médio por litro de 1,36€), que tende a ser maior quanto maior for o custo por litro da gasolina, cuja flutuação é muito comum.

Também a condução é ponto positivo, orientando-se este Dacia para o conforto, graças a amortecimento macio, mas sem prejudicar a boa estabilidade geral, oferecendo uma boa sensação de segurança e movimentos contidos da carroçaria em curva. A direção, algo vaga, é o seu ponto menos apreciável, mas não destoa da tónica de conforto de utilização do Sandero Stepway Eco-G.

Por fim, note-se que o Sandero Stepway tem um custo de base de 13.800€ na versão Essential, subindo para os 15.299€ da Comfort, que foi a ensaiada e que oferecia o já mencionado ecrã central tátil de 8.0 polegadas com navegação, barras de tejadilho modulares, vidros elétricos à frente e atrás e ar condicionado automático, câmara traseira, entre outros. Na lista de opcionais, destaque para a pintura metalizada Laranja Atacama (400€) e para o Pack Hands Free (450€), que acrescenta travão de estacionamento elétrico e acesso e ignição sem manuseamento da chave.

VEREDICTO

O novo Dacia Sandero Stepway atualiza-se e afirma-se como uma ótima proposta para quem o automóvel não tem de ser apenas um meio de deslocação, mas um local no qual se pode passar um momento agradável em viagem. Melhorando em todas as vertentes, desde o estilo à condução, o Sandero Stepway acaba por ser uma proposta vencedora capaz de fazer crescer o seu leque de clientes, atendendo igualmente ao facto de ter na economia de utilização um dos seus pontos fortes.

A variante GPL permite um ganho substancial na autonomia e proporcional redução nos custos de utilização, tendo em conta que o preço do GPL é muito vantajoso e, igualmente importante, mais ecológico com menores emissões de poluentes nocivos.

A mecânica 1.0 de três cilindros não desaponta, com a sua versatilidade de utilização a permitir-lhe adequação para os ritmos do dia a dia: sem deslumbramentos, mas com eficácia. Adicionando o preço apetecível, não há como negar o facto de a Dacia ter produzido um modelo apto a dar continuidade ao sucesso das anteriores gerações e cimentar a sua posição de automóvel ligeiro mais vendido a clientes particulares.


MAIS
Custo de aquisição e de utilização
Prestações adequadas
Melhoria na qualidade
Conforto de rolamento
Vertente GPL ganha interação condigna
Conforto
Espaço e funcionalidade

MENOS
Ainda há muitos plásticos a bordo
Direção pouco comunicativa
Insonorização menos cuidada

FICHA TÉCNICA

Dacia Sandero Stepway Eco-G 100 bifuel

Motor Gasolina, 999 cc, três cilindros em linha, turbo intercooler
Potência 100 CV entre as 4500 e as 5000 rpm
Binário 170 Nm às 2000 rpm
Transmissão Dianteira, caixa manual de seis velocidades
Dimensões (C/L/A) 4099/1848/1535 mm
Distância entre eixos 2604 mm
Aceleração 0-100 km/h 11,9 s
Velocidade máxima 177 km/h
Consumo médio 5,8 l/100 km (Gas) – 7,4 l/100 km (GPL)
Emissões CO2 131 g/km (Gas) – 115 g/km (GPL)
Peso 1251 kg
Bagageira 328-1108 litros
Pneus 205/60 R16 (série)
Preço base 15.299€
Preço ensaiado 16.150€

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