A nova geração do Honda Civic chega apenas em versão híbrida, evoluindo a já conhecida tecnologia e:HEV da marca nipónica. Face ao modelo anterior, o novo compacto cresce (ainda mais) nas dimensões exteriores e melhora consideravelmente na vertente da qualidade ao ponto de ser um dos melhores representantes do seu segmento na atualidade. Tudo tão bom. Depois vem o preço e torna tudo mais difícil.

A história do Honda Civic já vai longa, atingindo já a marca respeitável dos 50 anos, sendo ele próprio um produto de cada era. Contudo, entre a primeira geração, de 1972, e a mais recente há um paralelo curioso: ambas surgem com a intenção de poupar combustível, ainda que os pontos de contacto parem, essencialmente, aí. Além da denominação e do foco na eficiência, as diferenças são abismais, desde logo a começar pelas dimensões.

Com 4551 metros de comprimento, o novo Civic é um dos maiores compactos do seu segmento, o que tem o condão de melhorar também a habitabilidade, graças aos 2734 mm de distância entre eixos.

Por outro lado, também evolui positivamente na estética, adotando uma imagem mais conservadora que promete agradar a ‘gregos e a troianos’, pondo de lado as entradas de ar falsas à frente e atrás, bem como os ângulos e vértices que foram a imagem de marca da décima geração. A dianteira não é particularmente bonita, mas a traseira, quase como um fastback, é uma das mais elegantes do segmento. Isto, de um ponto de vista meramente subjetivo, como qualquer questão estética.

Em questões mais concretas, o habitáculo dá um passo em frente e revela uma construção mais cuidada, bons revestimentos e um desenho que é muito bem conseguido, com as saídas da climatização numa faixa horizontal com grelha de formato ‘ninho de abelha’ que conferem elegância, desportividade e, ao mesmo tempo, uma maior sensação de largura. Todos os comandos têm um tato preciso e cuidado, com detalhes cromados, incluindo nos comandos dos vidros elétricos das portas ou nos controlos do ar condicionado. Tudo lógico, tudo racional e bem feito.

O painel de instrumentos é parcialmente digital, combinando um ecrã de 7″ à esquerda com um velocímetro analógico do lado direito, numa solução que não exibe o mesmo nível de sofisticação de alguns rivais, embora seja bem mais fácil de interagir do que no modelo precedente. O ecrã central tátil de 9″ é também uma melhoria face ao sistema anterior, não faltando dois botões de atalho e comando do volume: é fácil de manejar e intuitivo. Já as teclas para o seletor de condução (‘P’, ‘R’, ‘N’ e ‘D’) exercem o efeito contrário.

No que toca à habitabilidade, boa nota geral, disponibilizando doses consideráveis de espaço para todos os passageiros, incluindo atrás, beneficiando de um crescimento de 35 mm na distância entre eixos. Apenas os adultos mesmo muito altos poderão sentir algum incómodo devido à linha descendente do tejadilho. Mas a habitabilidade é muito boa.

No meio de tantos ganhos nas dimensões, a bagageira vê a sua capacidade cair para os 410 litros, deixando de ser uma das referências do segmento. A culpa é do sistema híbrido. Mas, não deixa de ser um valor bom para uma pequena família, enquanto o próprio formato amplo do portão (com as dobradiças na parte superior, junto ao tejadilho) a criarem uma abertura bastante ampla.

Ode à eficiência

Na vertente mecânica, o sistema e:HEV do Civic é mais uma evolução rumo à eletrificação completa. Nenhum Honda na Europa contará apenas com motor de combustão exclusivo (há uma exceção à regra chamada Civic Type R), pelo que os híbridos são agora a derradeira opção para se ter um motor térmico nos Honda.

Começando, precisamente, pelo motor térmico, trata-se de um bloco de 2.0 litros e quatro cilindros de ciclo Atkinson, conhecido pela sua elevada eficiência (a Honda aponta para um valor de 41% de eficiência), capaz de debitar 143 CV de potência e 186 Nm de binário, que serve de motor de tração em determinados momentos ou, em alternativa, de gerador, produzindo energia para utilização pelo motor elétrico de tração.

O Civic e:HEV conta com dois motores elétricos, sendo um precisamente o de tração, com 184 CV e 315 Nm, e o outro um gerador que, lá está, utiliza o motor de combustão para criar energia para armazenar na bateria de iões de lítio de 1.05 kWh, que vai, por sua vez, alimentar o motor elétrico de tração.

O modo elétrico é, pois, o modo preferencial de deslocação para o Civic e:HEV, resultando despachado e silencioso na maior parte das ocasiões, o binário do motor elétrico a ser uma autêntica mais-valia para despachar este modelo na grande maioria das ocasiões. Tremendamente agradável de utilizar, o Civic acaba até por incentivar à redução dos consumos, na medida em que o modo elétrico é tendencialmente o modo de condução mais utilizado pelo sistema, sendo o motor de combustão também silencioso no seu funcionamento de fundo quando em modo de gerador.

Se o motor elétrico de 184 CV dá ao Civic prestações muito dinâmicas (com aceleração dos zero aos 100 km/h em 7,9 segundos), há momentos em que é o motor térmico a ter a locomoção a seu cargo, nomeadamente, a velocidades de autoestrada, que é quando a Honda entende que este motor pode ser mais eficiente, com uma embraiagem simples a ligar diretamente o motor às rodas dianteiras. O condutor não tem de fazer nada, nem sente nada de especial.

A sonoridade torna-se um pouco mais presente, mas a Honda recorreu a uma solução muito interessante para não ser desagradável: programou ‘quebras’ de rotações, como se tivesse uma caixa automática de múltiplas relações, que é coisa que não tem. O Civic, tal como os restantes Honda modernos com sistema e:HEV, não conta com uma caixa automática convencional, nem mesmo CVT.

Há ainda modos de condução distintos, com o ‘Eco’ a ser o preferencial para consumos baixinhos, suavizando a entrega da potência, não faltando um mais desportivo ‘Sport’ que coloca a ênfase na aceleração, dando o máximo de si. A sonoridade do motor ganha, aí sim, maior presença no habitáculo, mas é efeito do próprio modo ‘Sport’ e de uma modulação a partir dos altifalantes. O condutor pode ainda afinar alguns parâmetros a seu gosto com o modo de personalização.

Com tanto foco na eficiência, a ideia geral é de que o sistema da Honda funciona realmente bem, com respostas bem decididas e consumos baixos. Com efeito, conseguimos um valor de apenas 4,2 l/100 km, sem grandes preocupações com o ritmo, o que é verdadeiramente um dado muito elogioso para este Civic.

Atrás do volante há ainda patilhas para acertar a desaceleração e regeneração, ainda que, de forma algo estranha, a seleção efetuada nas patilhas desapareça ao fim de pouco tempo, pelo que, digamos, alguns minutos depois, terá de voltar a premir a patilhas para maior regeneração caso assim deseje.

Na dinâmica, rival para o Focus

O Civic sobressai, também na passagem em curva e no próprio refinamento de condução. Um dos primeiros pontos a elogiar é a posição de condução baixa e a excelente visibilidade geral. Este é um dos automóveis em que melhor se vê a envolvência por diante, graças a pilares A muito finos e recuados que libertam o campo visual.

Com um chassis mais rígido e ligações ao solo evoluídas, o Civic tem o condão de fazer um excelente equilíbrio entre conforto e desportividade. Consegue isolar bastante bem os ocupantes das irregularidades do mau piso e, simultaneamente, demonstrar um ótimo equilíbrio em curva, com a traseira a fazer um trabalho excecional a seguir o eixo dianteiro, evidenciando uma facilidade rotação que é mais usual nos desportivos – uma boa amostra para o Civic Type R. As jantes de 18″ associadas aos pneus Michelin Pilot Sport 4 também ajudam no desempenho dinâmico.

Mas, é sobretudo, a sensação de controlo e de robustez superior que o coloca numa posição de referência no segmento, apontando um pouco mais a quem aprecia a condução, tal como o Ford Focus. Aliás, na categoria dos familiares compactos são estes dois os mais indicados para os condutores que procuram um pouco mais de emoção ao volante.

Em termos de equipamento, a versão ensaiada Sport contava com uma grande quantidade de elementos de série, como o conjunto Honda Sensing de tecnologias de segurança, que ajudam a ‘adocicar’ o preço que é, no entanto, o seu maior entrave. A versão Sport tem um custo de entrada de 44.000€, que é quase proibitivo para as ‘bolsas’ de muitos portugueses. Os impostos em Portugal podem ser responsabilizados em grande parte, já que o motor de 2.0 litros é severamente penalizado fiscalmente. Para se ter uma ideia, em Espanha, o Civic e:HEV tem um custo de entrada de 34.100€, enquanto esta mesma variante Sport custa 35.200€.

VEREDICTO

O novo Civic atinge um estatuto referencial nesta sua nova geração, mostrando progressos impressionantes em todas as áreas: na qualidade de construção, na condução, na eficiência e na habitabilidade (embora regrida na capacidade da bagageira). O sistema híbrido da Honda consegue rivalizar com propostas como as da Toyota, sendo frugal e altamente satisfatório nas prestações, com um chassis muito bem conseguido que irá satisfazer quem procura também algo divertido para conduzir.

O equipamento de série é igualmente um ponto forte, mas o preço final é difícil de contornar. O preço de 44.000€ por um modelo de segmento C é ‘espinha’ atravessada neste compacto que é um dos mais completos representantes do segmento C.


MAIS
Qualidade
Prestações
Consumos baixos
Conceção do interior
Dinamismo

MENOS
Bagageira perdeu capacidade
Preço elevado

FICHA TÉCNICA
Honda Civic e:HEV 2.0 i-MMI Sport
Motor de combustão: Gasolina, quatro cil. em linha, inj. direta, ciclo Atkinson
Cilindrada: 1993 cm3
Potência: 143 CV às 6000 rpm
Binário: 186 Nm às 4500 rpm
Motor elétrico: síncrono de íman permanente, 184 CV/135 kW, 315 Nm
Bateria: Iões de lítio, 1.05 kWh
Potência total: 184 CV
Binário total: 315 Nm
Transmissão: Tração dianteira, engrenagem direta entre motor térmico e as rodas
V. Máxima: 180 km/h
Aceleração 0-100 km/h: 7,9 s
Consumo médio (WLTP): 5,0 l/100 km
Emissões CO2 (WLTP): 113 g/km
Dimensões: (C/L/A) 4551/1802/1408 mm
Distância entre eixos: 2734 mm
Pneus: 235/40 R18
Peso: 1533 kg
Bagageira: 410-1220 litros
Preço: 44.500€

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9
Prestações
9
Espaço
9
Segurança
9.5
Condução
9
Consumos
9.5
Preço/equipamento
7