A Tesla continua a ser uma das marcas mais destacadas no que ao imaginário dos elétricos diz respeito, continuando a expandir as suas vendas, embora o mercado esteja cada vez mais populado por rivais de diversas marcas. Fundamental para as suas aspirações está o aumento do número de locais de produção, com a gigafábrica de Berlim, na Alemanha, a ter agora um papel importante para o incremento de entregas no mercado europeu. O Model Y Performance deste ensaio é um ‘descendente’ dessa aposta europeia, mostrando como a desportividade não se perde no mundo dos elétricos.

A fábrica de Berlim é a primeira da marca na Europa, com a Tesla a apontar aquela infraestrutura como essencial para dar vazão aos pedidos de encomendas que continuam a ser em grande número. Com efeito, os Model Y e Model 3 são dos elétricos mais requisitados do mundo, sendo o Model Y Performance o primeiro dos modelos fabricados ali para todos os mercados europeus.

Com uma capacidade anual de 500 mil unidades do Model Y e até 50 GWh de produção de baterias, é a maior fábrica de produção de automóveis elétricos na Europa em capacidade, de acordo com os dados da Tesla, que aponta algumas melhorias para as unidades europeias em comparação com as fabricadas até aqui noutros locais, nomeadamente em revestimentos e nos acabamentos, embora sejam alterações de circunstância e nada de muito profundo.

Que belo ‘disparo’

A versão Performance sobressai pela discrição, ainda que as jantes negras de 21” denominadas Überturbine e o sistema de travagem Performance com maxilas a vermelho ajudem a distingui-la, bem como o spoiler traseiro em carbono na tampa da bagageira (de abertura elétrica), sendo estes praticamente os únicos indicadores de que estamos na presença da versão mais desportiva, capaz de acelerar dos zero aos 100 km/h em apenas 3,7 segundos e até aos 250 km/h de velocidade de ponta.

Este é um valor já no campo dos superdesportivos, com o Model Y Performance a ser verdadeiramente impressionante no registo de aceleração quando escolhido o modo de condução mais dinâmico, o ‘Desportivo’, que altera o desempenho dos dois motores elétricos para oferecer toda a potência (480 CV/353 kW) de forma praticamente imediata. Isso faz com que a aceleração e as recuperações (639 Nm de binário) sejam, efetivamente, fora de série, deixando-nos sempre ‘encostados’ ao banco tal é a agressividade com que transmite a potência ao asfalto e, ainda mais surpreendente, sem sinais de perda de motricidade. Basta pisar o acelerador com um ligeiro aumento de pressão e o Model Y Performance ‘dispara’…

Nota-se que há uma calibragem muito eficaz do sistema motriz, que impede perdas de tração, mesmo quando o piso está molhado, naquele que é um dos melhores predicados deste modelo. Além disso, também o comportamento é verdadeiramente interessante, com um dos melhores compromissos do mercado. Não está ao nível de um superdesportivo como no caso das prestações, mas tem um equilíbrio muito salutar e que, até agora, poucos rivais conseguem oferecer, com direção informativa, chassis rígido e amortecimento capaz de combinar qualidade de rolamento com ótimo controlo dos movimentos e da inclinação lateral em curva.

A suavidade de rolamento e a forma composta como lida com o mau piso, apesar de dispor de suspensão rebaixada, tornam o Model Y Performance num modelo extremamente eficaz também enquanto automóvel familiar.

A este respeito, importa destacar o papel do modo ‘Relaxado’, que torna a condução menos agressiva e bem mais suave para todos os ocupantes, ao mesmo tempo que cumpre todos os objetivos de performances no dia-a-dia.

Algo que achámos estranho foi o facto de os modos de condução não interagirem diretamente com o acerto da direção, que também dispõe de três níveis – ‘Conforto’, ‘Normal’ e ‘Desportivo’ – e que alteram o nível de assistência aplicada à direção. Ou seja, é necessário ajustar o modo ‘Relaxado’ e ‘Conforto’ individualmente para dispor de uma condução mais sóbria e sem esforço. Não sendo uma crítica, é uma especificidade do modelo em si.

O Model Y Performance está equipado com uma bateria de iões de lítio de 75 kWh, que tem o condão de anunciar 514 quilómetros de autonomia homologada em ciclo combinado WLTP e já com todos os equipamentos desta versão mais desportiva. O nosso ensaio retribuiu um consumo médio de 15.5 kWh/100 km, o que é um dado extremamente positivo, denotando igualmente o bom trabalho feito no capítulo da aerodinâmica, tratando-se de SUV com 4751 mm e mais de 2000 kg de peso. A bomba de calor que vem de série também é fundamental, ao permitir a climatização do habitáculo sem afetar a bateria elétrica.

Quanto ao carregamento, pode receber carga rápida até 250 kW, naquele que é um dos seus trunfos com a rede Supercharger dedicada, ou até ao máximo de 11 kW em carga ‘normal’, embora com recurso a wallbox.

Interior minimalista: ou se adora…

O interior do Model Y Performance não se diferencia no conceito minimalista do já verificado no Model 3 que também já pudemos ensaiar, com praticamente todas as funcionalidades inseridas ou ajustáveis a partir do grande ecrã tátil central de 15 polegadas que domina o habitáculo. Além de dois comandos de ajuste no volante, dos comandos dos vidros elétricos e do botão dos ‘quatro piscas’, tudo é ajustável pelo ecrã. Isso inclui o ajuste dos espelhos retrovisores e do volante, algo que nem sempre agrada, mas também a abertura do próprio porta-luvas…

O sistema, que é também fácil de compreender após algum tempo, dá validade ao termo menu: há uma página para cada tópico, como para os controlos do veículo (ajuste dos espelhos, etc), modos de condução, carregamento, Autopilot (de série neste modelo), luzes, dados de viagens ou navegação, entre outros, não faltando também os ‘brindes’ como jogos para passar o tempo quando no habitáculo à espera para alguma coisa.

Requer habituação, mas é simplesmente uma questão subjetiva de gosto. Ou se adora, ou não.

Já o nível de execução do interior é muito bom, com materiais macios ao toque em praticamente todos os locais, mesmo na área inferior das portas, com revestimento aveludado também nas bolsas, o que merece elogios. A luminosidade a bordo também agrada sobremaneira, graças ao tejadilho panorâmico em vidro.

Agraciados com muito espaço, os ocupantes dos bancos traseiros podem viajar com conforto e desafogo (até com bancos aquecidos), sendo menos positiva a largura entre ombros nesses mesmos lugares. A bagageira é bastante ampla até um máximo de 854 litros (até ao teto), secundada por uma outra bagageira na dianteira (‘frunk’) com uma capacidade para 117 litros. Os seus trunfos familiares ficam aqui bem à vista.

Tecnologicamente no topo

Um dos aspetos em que a Tesla tem vindo a ganhar pontos é com a tecnologia, em todas as suas facetas. A bordo, o já referido ecrã de 15 polegadas tira partido de uma ótima visualização e interação, dispondo de aplicações integradas, como são os casos de Spotify ou Tidal, aplicações de música que permitem tirar o melhor partido do sistema som Premium com 14 altifalantes, subwoofer e dois amplificadores.

Por outro lado, na vertente da segurança, o Autopilot com controlo automático do veículo em autoestrada é um dado vantajoso, já que tem um desempenho muito competente na larga maioria das ocasiões. Naturalmente, ainda há um caminho a percorrer – por exemplo, numa via rápida de 100 km/h, o sistema definiu como máximo os 120 km/h e tentou lá chegar.

O mesmo é válido para o desempenho de sistemas como os associados ao controlo automático das luzes de máximos e do acionamento do limpa para-brisas. Quanto ao primeiro, nalguns casos em condução noturna, o sistema ativou a luz de máximos de forma desnecessária em locais corretamente iluminados (algo que modelos rivais não fazem), enquanto noutras situações à chuva só após algum tempo e já com o para-brisas bem molhado é que as escovas do para-brisas começaram, efetivamente, a fazer o seu trabalho. Por duas ocasiões, ainda acedi ao menu correspondente para me certificar que as escovas estavam em modo ‘Auto’…

Porém, vale a pena lembrar que tudo é melhorável e atualizável por intermédio de ligação sem fios, estando a marca a trabalhar de forma contínua na melhoria destas e de outras questões nos seus automóveis.

Refira-se ainda que o custo do Model Y Performance é de 71.000€, o que se admite como um valor bastante justo para este SUV familiar de características desportivas, repleto de tecnologia e dotado de boas competências dinâmicas.

VEREDICTO

O compêndio de boas soluções técnicas é suficiente para fazer do Model Y Performance um SUV altamente recomendável, combinando as prestações extremamente rápidas dignas de um superdesportivo com a solidez e conforto de rolamento próprios de um SUV familiar compacto.

Mesmo com a chegada de mais rivais num mercado cada vez mais povoado, a Tesla continua a ter os argumentos necessários para sobressair, sobretudo no capítulo tecnológico com toda uma panóplia de funcionalidades e apresentação que se demarcam singularmente de muitos dos outros modelos no mercado.

Permitindo condução simultaneamente familiar e com um retoque de desportividade acima da média, o Model Y Performance é também eficiente e capaz de se aproximar da sua autonomia declarada.

Porém, vale a pena notar que o desenho do tablier não é consensual e o minimalismo pode não ser do agrado de todos, ainda que essa seja uma circunstância de feitio e não uma crítica na verdadeira aceção da palavra.


MAIS
Prestações de topo
Condução equilibrada
Eficiência geral
Posição de condução
Espaço a bordo
Equipamento de série

MENOS
Minimalismo pode ser… excessivo
Controlo automático de máximos errático

FICHA TÉCNICA
Tesla Model Y Performance
Motor Dois motores elétricos (um por eixo); síncronos de íman permanente
Potência 480 CV/353 kW
Binário máximo 639 Nm
Bateria Iões de lítio, 75 kWh
Transmissão Tração integral
Acel. 0-100 km/h 3,7 segundos
Vel. máxima 250 km/h
Consumo médio (WLTP) 19 kWh/100 km
Autonomia (WLTP) 514 km
Tempo de carregamento Máximo de 250 kW (CC); 8h35 de 0-100% a 11 kW (AC)
Dimensões (C/L/A) 4751/1921/1624 mm
Distância entre eixos 2890 mm
Peso 1990 kg
Bagageira 854-2041 litros (‘frunk’: 117 litros)
Pneus 255/35 R21 (D) – 275/35 R21 (T)
Preço 71.000€
Gama desde 49.990€

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AVALIAÇÃO
Qualidade geral
9
Prestações
10
Espaço
9
Segurança
9.5
Condução
9.5
Consumos
9
Preço/equipamento
9