Um desejo tecnológico chamado Renault Mégane E-Tech Elétrico

07/03/2022

Chega em setembro, é proposto por um preço que começa nos 35.200 euros e promete revolucionar o povoado segmento dos veículos elétricos compactos.

Cinco minutos. Eis o tempo de condução necessário para nos esquecermos que o Mégane E-Tech Elétrico é… 100% elétrico. Talvez seja redutor começar um texto a elogiar o facto de um modelo não parecer aquilo que, na verdade, é. Mas a grande aposta da Renault no segmento C, que fomos conhecer a Marbella, Espanha, onde fizemos os primeiros testes dinâmicos, tem esse grande trunfo: dá-nos a sensação de que estamos ao volante de um veículo “normal” e com um comportamento absolutamente convincente em estrada. Uma espécie de GTI dos elétricos. Com um “pequeno” detalhe: não tem emissões poluentes, o grande imperativo dos fabricantes atualmente.

Longe dos holofotes do Salão Internacional de Munique, onde o espreitámos, pela primeira vez, em setembro do ano passado, o Mégane E-Tech Elétrico parece bem mais compacto. Atraente e vanguardista, rompe com as linhas da versão “tradicional”, remetendo-a para as memórias dos mais saudosistas. A inspiração estética foi buscá-la ao universo dos crossovers: exibe umas jantes grandes (20”) e uma linha de cintura elevada. A curva descendente do tejadilho, as vias mais largas e (até) os puxadores das portas embutidas de série – pormenor a que não nos habituámos – são mais típicos de um coupé. Estamos perante um modelo “bem educado”. Mal nos aproximamos, dá-nos as boas-vindas com uma coreografia de cores e efeitos sonoros. Uma oportunidade de observar a assinatura luminosa de LED, à frente e atrás, cortada a laser, elementos distintivos do Mégane E-Tech Elétrico.

O habitáculo é a fiel expressão tecnológica da Renault. Construído com base na inovadora plataforma CMF-EV, conta com umas dimensões interiores que nada devem ao Mégane de combustão e até acrescentam 21 cm de espaço para os joelhos dos ocupantes dos bancos traseiros. A bagageira, com 440 litros, também não foi sacrificada.

O Mégane E-Tech Elétrico é um “nativo digital”. Nem podia ser de outra forma, uma vez que o público-alvo, assumido pelos responsáveis da marca, pertence às faixas etárias mais novas. Dispõe de aplicações da Google e do OpenR, um conceito que combina o painel de instrumentos com o ecrã multimédia. O objetivo é conferir ao habitáculo o ambiente acolhedor de um “lar”, sim, mas tecnológico, com uma boa qualidade de materiais, muitos deles reciclados, diga-se.

Trata-se de um todo coerente. Apenas com um “excesso virtual”: o espelho retrovisor goza de uma função que permite projetar a imagem traseira virtualmente – para colmatar a menor visibilidade – mas a verdade é que… não parece minimamente real. Porém, basta um pequeno toque para voltarmos a ter um espelho retrovisor comum.

Um GTI… elétrico

Na apresentação internacional, tivemos oportunidade de conduzir o Mégane E-Tech cerca de 200 quilómetros, através do magnífico cenário da Andaluzia, onde não faltaram inúmeras curvas. Um dos troços mais interessantes para extrair o máximo prazer de um modelo que nos pareceu extremamente maduro. As prestações são da responsabilidade do motor elétrico que o move, disponível em duas versões – 996 ou 160 kW (130 ou 220 cv de potência) -, muito leve e compacto (145 kg). Ao nosso dispor, temos quatro níveis de travagem regenerativa, que podemos controlar através de duas patilhas situadas no volante. Por outras palavras, sempre que levantamos o pé do pedal do acelerador, recuperamos energia cinética para alimentar a bateria e poupamos os travões. Coube-nos a versão mais potente, que conta com 300 Nm de binário, cujos valores oficiais apontam para um consumo (WLTP) na ordem dos 16,1 kW/100 km.

Admitamos que ultrapassámos um pouco esta média (perto dos 18,2 kW/100 km), mas, também, aproveitámos o melhor do Mégane E-Tech Elétrico. Não o poupámos. E este respondeu sempre com animação e disponibilidade (sobretudo com o modo Sport ativado), sendo surpreendente a rapidez e o rigor da direção. A marca anuncia 7,4 segundos para cumprir o tradicional arranque dos 0 aos 100 km/h e não duvidamos… nem por um segundo. A suspensão multilink, de resto, oferece uma resposta precisa nas curvas e uma condução silenciosa e refinada, embora não seja muito macia. Flui como um elétrico, sim, mas é firme como, lá está, um GTI.

Carregamentos rápidos

Com uma autonomia de 470 quilómetros e uma bateria ultra fina (11 mm de espessura, sendo 40% mais pequena do que a do ZOE), o Renault Mégane E-Tech Elétrico permite várias opções de carregamentos: pode ser feito até 22 kW em casa ou até 130 kW em carregadores rápidos de rua (DC). O tempo de carregamento varia entre as 1h15 em carregador rápido de 130 kW (exterior), 3h10 em carregador 22W (trifásica a 32A, interior) e até 6h17 também em carregador de 7,4 kW (monofásico, interior).

O Mégane E-Tech Elétrico foi alvo da mais recente bateria de testes do EuroNCAP. E, também aqui, mostrou competências, conquistando as desejadas cinco estrelas que atestam a sua segurança. Nem todos os elétricos do grupo brilharam assim: o Renault ZOE não obteve nenhuma estrela e o Dacia Spring não foi além de… uma.

Previsto para março e, depois, para junho, o Mégane E-Tech Elétrico só chegará a Portugal em setembro deste ano. A crise dos microchips a tal obriga. A versão mais acessível custará 35.200 euros, enquanto a mais elitista (Ionic), obrigará a um esforço financeiro maior: 47.700 euros.

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