Mais do que apenas um novo modelo, o smart #1 (lê-se ‘hashtag 1’) traduz a nova realidade da marca até aqui conhecida pelos seus automóveis citadinos. Primeiro resultado da parceria estabelecida entre a Mercedes-Benz e a Geely, o #1 é o maior modelo de sempre da smart e assinala o seu “relançamento” a nível mundial, como revela o CEO da smart Europe, Dirk Adelmann.

Muito mudou na indústria automóvel desde que a smart lançou o seu primeiro automóvel, o fortwo, em 1998: os SUV ganharam protagonismo, a eletrificação assumiu contornos essenciais e a conectividade é cada vez mais determinante para chamar os jovens clientes. Cumprindo cada um desses requisitos com o #1, a marca reinventa-se para uma nova era da mobilidade, procurando manter o seu estatuto irreverente perante uma sociedade em mudança.

Foi precisamente sob os auspícios da mudança que o novo #1 foi apresentado na cidade alemã de Berlim, tratando-se do primeiro passo do caminho feito a dois na ‘joint venture’ estabelecida em 2019 entre a Mercedes-Benz (então Daimler AG) e o Zhejiang Geely Holding Group, com cada uma das companhias a deter 50% da smart Automobile GmbH.

Em resultado, os novos modelos têm por base uma filosofia de ‘duas casas’, com o design a ser criado na Alemanha e a parte técnica e tecnológica ser desenvolvida na Ásia, naquela que é uma transformação fulcral na marca. Dirk Adelmann, CEO da smart Europe, reconhece a magnitude desta mudança em termos de planeamento estratégico, mas defende que o imaginário da smart está sempre defendido.

“Para nós, é o relançamento da marca smart. Vamos para um segmento completamente novo e é também um novo território. Estamos bastante curiosos para ver a reação das jovens famílias e das pessoas a que não podíamos ambicionar chegar até agora com os modelos anteriores”, começa por dizer Adelmann, para quem o desenvolvimento do #1 teve de respeitar aquilo que denomina de ‘ADN’ smart. “Já estou há muito tempo na smart, mas a maior parte da nossa equipa é nova e ficou bastante surpreendida com a nossa ideia de ‘ADN’ smart. Perguntaram ‘o que é isso?’ e nós respondemos que o interior espaçoso e o exterior compacto, com as extremidades curtas, são elementos típicos da smart e é algo que os nossos clientes adoram verdadeiramente. Foi algo que quisemos trazer para a nova geração”, apontando que foi um dos ensinamentos obtidos com a “base de adeptos da smart”.

Mas, se o arranque de uma nova parceria já era, por si só, um grande desafio, a Covid-19 obrigou a uma total remodelação dos conceitos tradicionais de desenvolvimento automóvel, com o #1 a ser evoluído num ambiente digital particularmente inédito. Face às restrições impostas na mobilidade entre países, as ferramentas digitais foram fundamentais, com o responsável alemão a confessar-se muito satisfeito com a “grande cooperação” entre a equipa de design da Mercedes-Benz, situada na Alemanha, e a divisão tecnológica baseada na China, onde têm sido feitos grandes progressos na área da conectividade e nas baterias.

Adelmann diz mesmo que viu, ao longo destes meses, uma “verdadeira ‘joint venture’” entre dois dos maiores grupos automóveis mundiais, destacando simultaneamente o facto de ser “a primeira vez que a marca não está com um dos acionistas. A marca está na smart, na nova companhia, sendo assim uma verdadeira OEM [NDR: construtora]. Nós somos o fabricante do veículo, não é a Mercedes-Benz, nem a Geely”.

A força do digital

Com 4,26 metros de comprimento, o smart #1 (com tração traseira e motor elétrico de 272 CV) afasta-se do conceito usual da marca em termos de dimensões, mas a plataforma modular SEA da Geely assegura diferentes tipos de veículos e de motorizações, estando assim prometidos novos modelos para o futuro.

Mantendo os próximos lançamentos no ‘segredo dos deuses’, Adelmann assegura que “somos uma companhia multi-produtos e podem esperar mais automóveis nossos dentro dos próximos dois ou três anos. A plataforma modular que temos pode crescer ou encolher nas dimensões, no tamanho das baterias ou na configuração dos motores. Por isso existem muitas possibilidades”. A confirmar esta versatilidade da plataforma está já o facto de o smart #1 vir a ser lançado posteriormente com versão de tração integral em complemento à de tração traseira do lançamento.

“O volume [de vendas] virá, mas não estamos a apontar para isso. Somos, isso sim, uma marca Premium no segmento”

A nova fase da smart será ainda alicerçada por um modelo de vendas renovado, com a marca a planear um sistema de vendas mais direto e a “mudar ligeiramente a abordagem ao cliente, significando que vamos mais para uma experiência online, mas mantemos a rede física na dimensão adequada e na forma correta em todos os mercados europeus, como centro da experiência física”. Ou seja, os clientes poderão até comprar o seu carro online em pouco cliques (valendo-se de uma simplificação acentuada dos opcionais e das possibilidades de configuração), mas os concessionários continuarão a fazer parte da estratégia, prevendo-se para Portugal um número em redor dos 13 espaços de venda físicos com a nova imagem da smart, os quais se manterão ligados aos da Mercedes-Benz.

Essa reformulação da rede é uma das ‘heranças’ do trabalho feito nos últimos anos pela marca germânica, cujo planeamento de envolvimento entre as vendas digitais e o mundo físico – cuja fusão resulta no termo ‘figital’ – foi anunciado ainda antes da pandemia de Covid-19. A ideia central é a de que a rede física terá sempre um papel importante na venda ao cliente.

Manter o estatuto premium

Já a opção pela carroçaria SUV como aposta inicial não surpreende, já que é o segmento no qual é imperioso marcar presença, tanto na China, como na Europa. Não obstante, Adelmann garante que a smart não ambiciona tornar-se numa marca de grande volume de vendas.

“Em primeiro lugar, para nós, [um smart] é um produto Premium. Estamos totalmente inseridos no ambiente de vendas da Mercedes-Benz. Não somos de luxo, mas somos mais orientados para o Premium, caso contrário não faz sentido estar no mesmo ambiente. Para a Mercedes-Benz, somos também uma boa extensão do seu portefólio. Depois, se pensarem em volume, é verdade que estamos a deixar o nicho: mantemos o fortwo num segmento muito pequeno na Europa, mas vamos para um mercado mais amplo, que na Europa é cerca de dez vezes maior do que o segmento A ou dos microcarros. O volume virá, mas não estamos a apontar para isso. Somos, isso sim, uma marca Premium no segmento”, salienta.

Nesse sentido, o CEO da smart na Europa também recusa a ideia de que a marca esteja a abandonar a sua especificidade e o seu carácter único, considerando que “neste segmento, ainda somos únicos, porque somos os únicos que oferecem um SUV elétrico construído de origem e sem partilha de plataforma com versões de motor de combustão. É apenas para elétricos, o que nos dá muito espaço interior e é algo que não era esperado da smart. É isso que é smart. Quando lançámos o fortwo definimos um novo segmento. Agora, não vamos definir um novo segmento com este novo modelo, mas esperamos revolucionar ou abanar o segmento, pelo menos à maneira da smart. Não é apenas o carro, mas sim tudo o surge associado em termos de funcionalidades. Vamos ter conectividade de referência neste segmento em termos de partilha, de estar conectado com o carro. Por exemplo, basta aproximar-nos do carro com o smartphone, que em três etapas, vai interagindo de forma diferente com o condutor. Se eu estiver a ouvir música no telemóvel, por exemplo, o carro assume essa mesma música ao ligar-se ao dispositivo. Se eu tiver uma reunião na qual preciso de estar, o carro ‘sabe’ e vai direcionar o cliente para essa reunião através do sistema de navegação. Tentamos realmente conectar o cliente com o veículo, o que é único também neste segmento”.

Bem mais incerto é o panorama económico mundial, dadas as circunstâncias atuais da guerra na Ucrânia que, aponta Adelmann, podem ter algum impacto nas operações da smart ao nível logístico, mas também levar a dificuldades na obtenção de componentes. Se a bateria é fornecida por uma empresa subsidiária da Geely na China, removendo um potencial foco de preocupação, a smart terá também de lidar com o potencial aumento dos custos das matérias-primas. “Podemos garantir o volume necessário para produzir carros para a Europa e para a China, mas isso não nos protege do aumento atual do custo das matérias-primas. Isso vai afetar todos os construtores e também a nós”.

Ainda sem preços conhecidos (apenas deverão ser revelados no último trimestre deste ano), o #1 será lançado em março de 2023, com a produção a arrancar no próximo mês de agosto na China.

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