Dizem que o primeiro olhar diz muito sobre uma relação. No caso do Honda e (um nome que não é exatamente o melhor…), o visual é arrebatador numa lógica de emotividade que os automóveis elétricos ainda não souberam bem explorar. Pelo menos, no capítulo da estética, algo em que a Honda, por outro lado, parece ter acertado em cheio.

Não é por acaso que a maioria das reações à apresentação do novo elétrico da Honda tenham sido, precisamente, sobre a sua aparência ‘tão gira’. E os próprios responsáveis da companhia nipónica reconhecem-no, como foi o caso do responsável pelo desenvolvimento do Honda e, Takahiro Shinya, durante a conferência de imprensa. E é por aí que o novo Honda e (já se percebe porque é que a denominação não é propriamente fácil de colocar em texto?) começa por conquistar. Tal como já é quase uma tradição na marca japonesa, as linhas do modelo de produção aproximam-se bastante do concept que foi revelado há cerca de dois anos e que granjeou tantos elogios. Nesse cenário, a Honda não poderia deixar o seu citadino na ‘gaveta’.

Tudo acelerado, porém, pela meta de emissões poluentes mais apertada imposta pela União Europeia e que obriga ao lançamento acelerado de modelos alimentados exclusivamente por bateria elétrica, como é o caso deste Honda e, que acaba por ser o primeiro de uma nova leva de automóveis eletrificados e que terá continuidade ainda este ano com o novo Jazz, unicamente desenvolvido em modo híbrido. Até ao final de 2022, chegarão ainda mais quatro modelos compostos por sistemas elétricos ou híbridos, numa estratégia que pretende ter todos os modelos centrais com algum género de eletrificação em 2023. A noção de ‘core models’ ou gamas centrais pode ser a chave para que o Civic Type R permaneça como um ‘resistente’ dos motores de combustão interna.

Estilo conquistador

Como já foi referido, o estilo é elemento fundamental deste novo modelo, que replica algumas noções ‘retro’ com a modernidade tecnológica. Diferença maior face aos concepts ‘Urban e’ e ‘e Prototype’ é a configuração de cinco portas, uma vez que os protótipos tinham três. Mas, o resto é muito semelhante. Na dianteira, na máscara negra superior encontram-se os dois faróis circulares, sempre com tecnologia LED, algo que é aplicado também na traseira com iluminação LED numa máscara negra horizontal. Regressando à dianteira, a porta de carregamento está no capot, sendo acedido a partir de uma porta bem visível (há, aliás, contraste de cores entre a carroçaria e a dita porta). Depois, jantes de 16 polegadas para a versão base ou de 17” na versão Advance (que tem muitas outras diferenças).

No interior, porém, a ideia é oferecer tecnologia em catadupa na interface Homem-Máquina, com cinco ecrãs na horizontal a quase toda a largura do tablier, contando-se dois ecrãs para transmitir as imagens das câmaras laterais (no Honda e não há espelhos retrovisores exteriores convencionais) com 6″, um ecrã TFT de 8.8″ para a instrumentação e outros dois táteis de 12.3″ para o sistema multimédia e aplicações (ao centro).

2020 Honda e

Este sistema agora lançado pela Honda permite uma interação em novos moldes com quase todas as funcionalidades do veículo, havendo a possibilidade de os ecrãs serem manuseados em separado – um para a navegação e outro para o áudio ou para os dados de consumo da viagem. Os dois podem ser trocados na sua ordem ou, quando estacionado, servem também para jogar consola (há tomada de 230 V e entrada HDMI) ou para apresentarem ‘wallpapers’ zen. O aquário com peixinhos é um favorito, mas, tal como a função de jogos ou vídeos, apenas pode ser apresentado nos ecrãs quando o veículo está parado. A ideia da marca foi fazer do Honda e uma extensão do quarto, o que para qualquer aficionado das novas tecnologias é apelativo.

Ao mesmo tempo, é introduzido um novo assistente pessoal inteligente, que responde ao comando vocal ‘Ok Honda’ e que, de forma muito semelhante ao que faz a senhora da Mercedes-Benz (que responde sempre ao ‘Hey, Mercedes’), atende a diferentes pesquisas ou comandos. A marca garante que se trata de uma interação com base na inteligência artificial e que o tempo de resposta às solicitações é curto.

De resto, numa espécie de ‘trade-off’, o interior está composto por muitos plásticos duros no tablier e portas – ainda que também existam revestimentos têxteis nas portas e construção cuidada. A nível de espaço no habitáculo, o facto de recorrer a uma plataforma completamente nova permite colocar o motor na traseira quase de forma oculta, com a bateria de iões de lítio de 35.5 kWh a ser colocada em posição central sob o piso para reduzir o centro de gravidade e melhorar o dinamismo, sendo que este esquema permite acomodar de forma confortável quatro adultos de estatura média. Mede 3895 mm de comprimento, 1750 mm de largura e 1510 mm de altura, com 2530 mm de distância entre eixos. Acaba por ser uma boa surpresa na habitabilidade, mas a bagageira não é particularmente ampla, variando entre os 171 litros e os 861 litros com as costas dos bancos traseiros rebatidos. Duas malas de viagem de cabine de avião cabem à justa.

Conectividade ao serviço do condutor

O recurso a espelhos digitais, ou seja, com câmaras a fazerem as vezes dos espelhos retrovisores tradicionais, permite ganhar eficiência aerodinâmica e baixar o ruído proveniente do exterior, com a Honda a garantir ainda que as câmaras são repelentes de água e sujidade e fornecem visualização sem mácula da área posterior mesmo em condições de chuva ou de baixa luminosidade. O espelho central pode também ser digital, com uma câmara na traseira, sendo este elemento um equipamento da versão Advance.

2020 Honda e

A marca propõe sistema de conectividade remota a partir do smartphone que permite comandar diversas funcionalidades do veículo, nomeadamente o carregamento, o pré-condicionamento do interior ou a iluminação, mas há ainda alertas de segurança enviados para o utilizador caso saia de um limite geográfico (geo-fencing). Outra potencialidade é a de partilha com cinco outros utilizadores a partir de chaves digitais.

Por outro lado, oferece ainda amplas soluções de segurança, com o Honda Sensing proposto de série e a incluir agora algumas novas funcionalidades, como o Alerta de Saída de Faixa do veículo Precedente, o sistema de Mitigação de colisões a baixa velocidade (como no estacionamento) e função de travagem automática a baixa velocidade.

O sistema de estacionamento Honda Parking Pilot surge no Honda e com a particularidade de conseguir realizar cinco manobras, desde estacionamento em paralelo a perpendicular, conseguindo também efetuar a manobra de saída do espaço. Porém, surpresa, não atua caso a manobra de saída seja fácil… indicando que o condutor pode fazê-la. Afinal de contas, se tem licença de condução, deve saber conduzir. O sistema consegue reconhecer os espaços automaticamente e o condutor apenas tem de escolher um lugar no ecrã central e apertar um botão físico no tablier ao centro. A partir desse momento, o Honda e assume as rédeas do estacionamento, devendo o condutor prestar, ainda assim, atenção o ambiente envolvente.

Primeiro em cena

O Honda e faz uso de uma solução de motor traseiro (tração também atrás) com dois níveis de potência: 100 kW (136 CV) e 113 kW (154 CV), sendo a mais potente reservada para a versão Advance. No entanto, ambos dispõem da mesma bateria com 35.5 kWh, variando ainda a autonomia apresentada em cada um dos modelos. No caso do mais potente, a autonomia cifra-se nos 210 quilómetros e no de entrada está firmada nos 210 quilómetros, uma particularidade das jantes de maiores dimensões e da maior potência disponível. O binário é idêntico nos dois conjuntos, isto, 315 Nm. Há dois modos de condução, o Normal e o Sport, que basicamente incidem na resposta do motor elétrico.

A aceleração do Honda e com 100 kW é de 9,0 segundos, melhorando um pouco na versão com 113 kW, que é de 8,3 segundos. A velocidade máxima está limitada a 145 quilómetros. Os dados de consumo homologado (WLTP) são de 18 kWh/100 km, algo elevado atendendo às suas dimensões compactas, mas pode ser inferior com a utilização de tecnologias como a de regeneração da travagem, aplicando um sistema semelhante ao do Nissan Leaf, com aceleração e travagem possíveis utilizando apenas o pedal do acelerador. No valor mais elevado de regeneração, atinge os 1.8 G.

Porém, mais do que chamar-lhe motor, a Honda prefere a denominação Unidade de Potência Inteligente (IPU), uma vez que todos os elementos estão integrados de forma a obter uma maior eficiência, havendo algoritmo inteligente que utiliza a refrigeração por líquido da bateria para preservá-la em longevidade.

Carregamento

O Honda e oferece diferentes opções de carregamento, destacando-se a possibilidade de utilizar postos DC de carga rápida até 100 kW. Nesses, chega aos 80% de carga em cerca de 30 minutos, aumentando para 31 minutos em postos de 50 kW. Nos postos públicos, a 6.6 kW, leva 4.1 horas a chegar aos 100%. Já com uma ligação tipo 2 em casa a 2.3 kW, uma carga completa demora 18.8 horas.

O dinamismo foi também ponto de honra do novo Honda e, com a marca a escolher uma configuração de suspensão independente às quatro rodas (mais eficaz, mas também mais dispendiosa e menos poupada no espaço), direção progressiva com a velocidade, repartição de peso na ordem dos 50/50 e elementos de baixo peso onde possível. Ainda assim, o seu foco é a cidade e a agilidade citadina foi muito trabalhada, como comprovam o raio de viragem de 4,3 metros e o volante com 3,1 voltas de topo a topo.

Preços e gama

Aproveitando o sucesso comercial dos elétricos no mercado nacional, o citadino japonês será lançado em Portugal logo na primeira leva europeia. Desta forma, chegará no final do primeiro semestre (previsivelmente, em junho), com preços base a partir dos 36.000 euros na versão de 136 CV. O mais potente Advance terá um custo de 38.500 euros, mas compensará com esse acréscimo na potência e com mais equipamento, como as jantes de 17” (com pneus Michelin Pilot Sport 4), retrovisor interior digital ou sistema de som com oito altifalantes (é de seis no Honda e de entrada). Os representantes nacionais da Honda acreditam que a versão Advance terá 70% do mix de vendas.

Resta ainda dizer que bateria terá garantia de oito anos ou 160 mil quilómetros e que o veículo tem garantia geral de sete anos sem limite de quilómetros.

Em Valência, Espanha.

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