Dacia Duster 1.5 dCi 4×4: Pergunta ao pó

27/12/2022

Conduzimos o robusto SUV da Dacia, já com a nova identidade da marca, pelo deserto marroquino. As competências 4×4 foram medidas em camadas de pó.

 

Se alguém quiser saber quanto vale o Dacia Duster fora de estrada, o melhor será responder: “pergunta ao pó” – um título roubado ao consagrado romance de John Fante.

A apresentação internacional do robusto e polivalente SUV da Dacia, já com a nova identidade visual da marca (onde se destaca o grande logótipo na grelha frontal) levou-nos a Marrocos, mais concretamente a Marraquexe. Uma oportunidade única para experimentar o modelo em situações limite. Ou não incluísse o programa um longo percurso pelo deserto de Agafay. E o deserto, admitamos, não engana e também não é para todos. O asfalto, esse sim, é para meninos.

Quis o destino que o evento coincidisse com o jogo de Marrocos – Espanha para o Mundial do Catar – e com o Portugal – Suíça. Dia histórico para os marroquinos que celebraram a vitória contra os “vizinhos” por todo o lado. Menos no deserto. Lá tudo continuava como sempre foi.

Entre o Duster Camp, onde estávamos alojados, e o deserto, não distavam, sequer, 20 quilómetros. Apenas o suficiente para nos despedirmos da estrada. E das referências pormenorizadas do sistema de navegação. A partir dali, era seguir a seta e a linha azul que aparecia no ecrã e tentar não perder muito a calma quando perdíamos a direção.

A dada altura, cruzámo-nos com uma feira no meio do nada. Vestidos, colares, bugigangas. Ainda ponderámos parar, mas a verdade é que a linha azul do GPS já andava perdida há algum tempo e há muito que não avistávamos nenhum outro Duster. Um piloto experiente sabe que, nestes casos, é bem provável que esteja perdido.

Pedras com dentes

Tudo o resto era pó, por vezes lama. E muitas pedras afiadas, como dentes de tubarão. O desafio era não sermos devorados por estas ou engolidos por um vácuo que nos escape à visão no meio de uma paisagem com vista para o Atlas, trajado de neve, lá muito ao longe, como a avaliar as proezas de condução dos jornalistas em ambiente adverso.

O motor 1.5 dCi de 115 cv foi conseguindo desembaraçar-se de todas as situações com bastante desenvoltura. E as hesitações, bom, essas eram nossas. Não dele. Força e agilidade em boas doses e um caixa manual de seis velocidades, constantemente solicitada, sempre competente. Em tal cenário, comprovada ficou, também, a eficácia dos ângulos de ataque e de saída (30° e 33°, respetivamente) e a altura ao solo de 210 mm, capaz de evitar batidas desnecessárias.

Tudo corria a preceito, até que, chegámos a um desfiladeiro. O ponto era certeiro. Talvez nevrálgico. Ou não estivessem os fotógrafos oficiais da marca estrategicamente colocados para ver o Duster numa dança de rodas no ar. Respirar fundo e ser audaz. Não há outra forma. E lá fomos nós por ali abaixo, numa coreografia digna de uma aula de pilates, com os dois braços a multiplicarem-se numa tentativa de compensar as poucas rodas na terra – e pedras. Para ajudar, Rui Cardoso, jornalista do Expresso, experiente em lides destas, que ia no veículo da frente, desfez o nó em segundos, sem dar tempo sequer para o apanharem numa foto. O que havia a fazer era não imortalizar o momento da pior maneira.

A manobra obrigava a enfrentar uma descida a pique, sem qualquer tipo de visibilidade. Valeu-nos a tecnologia na forma da câmara frontal, que, uma vez acionada, permitiu ver digitalmente aquilo que os olhos não alcançavam. Colocámos a caixa em “ponto-morto” e fomos acalmando alguns ímpetos com os travões, mas sem grande interferência. Chegado ao “fundo do poço”, nada como meter a primeira, acelerar e sorrir para os fotógrafos, provando que tudo estivera sempre controlado…

O percurso devolveu-nos, por fim, ao asfalto. E aí tudo piorou. O trânsito de Marraquexe parece um organismo vivo em que a lei é a da sobrevivência. Existem sinais e semáforos, sim, mas são quase elementos decorativos. Ou não fosse o dia de festa. Perdemo-nos várias vezes, claro, por uma razão muito simples: o sistema de navegação teimava em mandar-nos por uma lixeira. O que nos obrigava a refazer o caminho para ver onde fora o engano. Só que não havia engano algum. O caminho mais rápido era mesmo pelo meio de uma lixeira a céu aberto.

No fim da aventura, quando finalmente entregamos o Duster à organização do evento para o merecido descanso – dele e nosso –, as camadas de pó e lama atestavam a diversão e as competências 4×4 deste SUV. Se fosse uma prova, passaria, seguramente, com distinção e louvor.