Mercedes na pedra

26/10/2018

a carregar vídeo
Será que desce? E depois, conseguirá voltar cá para cima? A pergunta estava na cabeça de muitos dos participantes que se debruçavam sobre o precipício de 150 metros da pedreira D’El Rey, em Bencatel, Vila Viçosa, naquela fria manhã de domingo. Os olhares de dúvida estavam focados no primeiro carro da caravana, um pequeno GLA 220 d 4MATIC.

“Não foi feito para isto”. Afinal, estamos a falar do modelo de entrada na gama de SUV’s da Mercedes e quem nunca tenha andado nestas andanças do Clube Escape Livre com a marca alemã – duram há sete anos –, mal desconfia do que um GLA é capaz.

Desceu e subiu sem grande esforço, raspando com o fundo aqui e ali, e muito ajudado pela eletrónica – controlo de velocidade em descida no caminho para baixo e controlo de tração no regresso à superfície. Na descida, o DSR fixou a velocidade nos 6 km/h e foi a esse ritmo que foram cumpridos os 600 metros de rampa bastante inclinada. O GLA, acompanhado por duas pick-up Classe X e alguns GLC e GLS, demorou uns 3 ou 4 minutos a chegar lá a baixo e outros tantos a subir. Bem menos do que os 50 minutos que as gruas demoram a trazer um bloco de 25 toneladas de mármore até à superfície.

Nem todos os participantes alinharam na viagem ao centro da terra, mas quem desceu ficou com um retrato preciso do que é a exploração de mármore no triângulo “dourado” de Vila Viçosa, Borba e Estremoz. Humidade perto dos 100%, muita água por todo o lado – a lubrificação e arrefecimento das ferramentas de corte é feita com água – e o céu lá em cima, distante.

Lá abaixo, o sol só chega no pico do meio-dia e pouco mais. Para se ter uma noção de escala, ali dentro, na pedreira D’El Rey, cabia a torre Vasco da Gama (Parque das Nações, com 140 metros de altura) e o hotel Sheraton (92 metros e 30 pisos) ficaria com o restaurante panorâmico, no topo, a uns 60 metros da superfície.

Por ali arranca-se pedra mármore do chão desde o tempo dos romanos, pedra formada há 500 milhões de anos e que acaba a decorar palácios ou a servir de matéria-prima a escultores. No ano passado, a exportação de pedra natural valeu perto de 340 milhões de euros, sendo que boa parte dessa pedra, mármore, saiu da zona de Vila Viçosa, Borba e Estremoz. Foi o melhor ano de sempre na exportação de pedra.

Quem passar ao largo, na autoestrada ou nas estradas nacionais, pouco mais vê do que gruas e moledos, montes de desperdício, de pedra que não tem qualidade para entrar no mercado. O que os quase 120 participantes nesta sétima edição do Mercedes-Benz 4MATIC Experience viram ao longo do fim de semana merece um desvio das estradas principais. Seja pela vertigem de olhar para o fundo de uma pedreira, seja pelo que se aprende sobre aquele negócio ao visitar uma pedreira.

A descida à pedreira, em grupos pequenos a bordo de carros da organização devido à falta de espaço lá em baixo, foi o ponto alto de dois dias de maus caminhos, horizontes abertos como só o Alentejo oferece e, não menos importante, boa mesa.

Esta foi a primeira vez que o Clube Escape Livre se aventurou tão para sul, para longe da sua zona de conforto – junto à raia e perto da sede, na Guarda. Não é que Luís Celíneo, o responsável pelo clube, não tenha já organizado passeios por quase todo o país, mas o facto é que nunca tinha escolhido o sul como destino.

No final, já na pousada de Estremoz, Luís Celíneo fazia o balanço do passeio. “Acho que descobrimos coisas muito interessantes, desde o museu do barro, no Redondo, passando pela pedreira D’El Rey, pela herdade do Esporão ou por Monsaraz. Pequenos ex-líbris desta região que permitiram um fim de semana de descoberta e de conhecimento”. O organizador confessa que o objetivo é despertar o interesse pela região. “Nós não temos a veleidade de dar a conhecer tudo em dois dias, mas a nossa obrigação é despertar os participantes a regressarem com mais calma, com mais tempo, para ficarem a conhecer bem esta região”.

O fim de semana teve descoberta, já se disse, com caminhada noturna pelo centro histórico de Vila Viçosa, logo na sexta-feira, visita ao museu do barro, no Redondo, uma passagem pelas caves da herdade do Esporão, onde repousam e vão ganhando caráter alguns tintos alentejanos de exceção, e um passeio guiado pela vila medieval de Monsaraz.

Ao volante, houve pisos para todos os gostos. Estradões rolantes, zonas de pedra a pedir condução mais cuidada e trialeira, e ainda alguma lama para decorar máquinas que, por norma, limitam-se a subir um ou outro passeio de cidade durante a semana.

Algumas zonas de xisto e pedra solta foram um sério desafio à paciência de quem seguia ao volante. Se há ponto frágil nos SUV atuais é o que trazem calçado. Desenhados para ambiente mais urbano, apesar de sérias competências fora do asfalto, saem da fábrica com pneus pouco dados a aventuras e, por regra, não consta do equipamento um simples pneu sobressalente.

Resultado? É preciso todo o cuidado. Ritmos mais animados são quase proibidos e torna-se arriscado qualquer escorregadela ou atravessadela. Todos os olhos são poucos para identificar perigos, pedras à espreita. No final, a equipa da First Stop, que trazia uma carrinha carregada de pneus da Bridgestone, pouco trabalho teve. Dois furos, no sábado, e ficou resolvida a questão.

O Motor24 fez este passeio a convite da Mercedes e a bordo de um GLC 250d 4MATIC. As jantes de 20 polegadas, com pneus de perfil demasiado baixo para o todo-o-terreno e uma bagageira sem sombra de soluções para eventuais furos, obrigaram a um ritmo de… passeio.

A navegação pelos corta-fogos da serra d’Ossa, no domingo a caminho de Estremoz ou alguns pisos mais duros no sábado rumo à herdade do Esporão, foram negociados com todas as cautelas, não só por causa dos pneus, mas sobretudo porque, apesar das capacidades da máquina, parece sempre contranatura levar um SUV de pouco mais de 80 mil euros por maus caminhos. Não é que o GLC 250d não seja capaz, longe disso. Mesmo sem o pacote off-road, que reforça as ajudas eletrónicas ou a suspensão pneumática, que permite aumentar a distância ao solo, deu conta de todos os recados.

A experiência correu tão bem que será para repetir. Luís Celíneo revela que o regresso ao sul já está nos planos do Clube Escape Livre. “Ainda não foi totalmente discutido internamente, mas posso adiantar que é nossa intenção fazer do hotel Marmoris e de Vila Viçosa a base para um outro passeio, no próximo ano, mas aberto a todos os tipos e marcas de veículos 4×4”.

Quanto à próxima edição do Mercedes-Benz 4MATIC Experience, daqui por um ano, já há um destino escolhido. A base será na Nazaré, pátria das ondas gigantes, onde a marca alemã tem uma outra parceria, com o surfista norte-americano Garrett McNamara.

Por Paulo Tavares