Há uma nova marca de automóveis elétricos premium em Portugal. A Polestar, companhia fundada em 2017, chega agora a Portugal com o 2, um fastback dinâmico que se posiciona abaixo dos 50 mil euros e que faz a apologia do design, tecnologia e eletrificação. Com três versões disponíveis, as entregas estão previstas para outubro.

Tendo começado como uma preparadora desportiva para os automóveis da Volvo, a Polestar ganhou a sua independência em 2017, passando a ser uma companhia independente no seio do Grupo Geely, que detém, entre outras, marcas como a Volvo, Lotus ou a Lynk & Co, embora beneficiando sempre das sinergias deste poderoso grupo.

Depois de se lançar nos mercados considerados mais importantes, a Polestar desenha o seu plano de expansão em 2022 para outras paragens na Europa, procurando chegar ao final de 2023 com presença em cerca de 30 países, quase duplicando a sua presença face os 19 países do início de 2022. Portugal é agora um dos contemplados, com o novo Polestar 2, lançado inicialmente em 2020, a chegar às estradas ainda este ano, demarcando-se, desde logo, pela sua faceta estética, o que não é de estranhar atendendo ao facto de ter um designer como CEO, Thomas Ingenlath.

Esse é precisamente um dos três pilares apontados como fundamentais para o ‘credo’ da Polestar, sendo os outros a tecnologia e a sustentabilidade, termos que são naturalmente os mais relevantes na atualidade do automóvel (e não só). Optando por uma abordagem holística em que tudo é pensado para oferecer uma experiência premium e de elevada qualidade, a Polestar tem vindo a trabalhar com diversos parceiros – como a Brembo e a Öhlins – no desenvolvimento de conceitos específicos para os seus veículos.

Nessa mesma observação holística, a preocupação com o ambiente é fulcral, havendo uma busca incessante pela redução das emissões poluentes decorrentes de todo o ciclo de vida do automóvel – da produção à utilização na estrada –, ao mesmo tempo que a tecnologia desempenha um papel cada vez mais determinante, tanto ao nível das ajudas, como ao nível da conectividade, sendo aqui também o Polestar 2 um modelo importante por trazer incorporado o sistema Android para automóveis, com uma experiência de utilização muito semelhante à de um smartphone com aquele sistema operativo.

O melhor de dois mundos

Para o conceito exterior, a Polestar destaca que o 2 é o melhor de dois mundos, fazendo a fusão entre as berlinas e os SUV, resultando numa berlina sobrelevada de superfícies limpas e com extrema atenção ao detalhe. Os faróis totalmente em LED e a luz traseira de largura total com 288 LED criam uma assinatura de design facilmente reconhecível, com a sua presença robusta a ser documentada ainda pelas cavas das rodas musculadas, capazes de albergar jantes de 19 e de 20 polegadas.

Laços de família

Ao entrar no habitáculo, antes de tudo, há alguma sensação de familiaridade com os Volvo, o que não é de estranhar, dadas as ligações técnicas e tecnológicas no seio da Geely, que é visível sobretudo nos comandos do volante, em tudo semelhantes aos de um XC40 ou S90. Vale a pena notar que não há, propriamente, nada de errado com isso e que é prática comum na indústria atual.

 

Além dessa sensação de familiaridade, a outra ideia que é transmitida é a de excelência de construção e de refinamento a bordo. Recorrendo a muitos materiais sustentáveis, todos os detalhes do Polestar 2 são de ótima conceção, dando assim uma sensação geral de solidez bastante elevada. Junte-se a isto uma elevada insonorização e as viagens podem ser feitas com total tranquilidade e conforto.

O painel de instrumentos é digital (ecrã de 12.3”) e os comandos físicos foram quase todos eliminados, sendo a vasta maioria incluída no ecrã tátil central de 11.15 polegadas que apresenta o sistema de infoentretenimento Android Automotive, desenvolvido em colaboração com a Google. Todas as funções do veículo, incluindo navegação, entretenimento, configurações do veículo e controlo climático, são ajustadas pelo ecrã. De acordo com a marca, o sistema operativo Android Automotive representa um grande passo à frente, dando facilidade de interação e rapidez na capacidade de emparelhamento com os smartphones – por enquanto, apenas Android, estando o Apple CarPlay previsto para mais daqui a algumas semanas.

As atualizações ‘Over-the-Air’ (OTA) permitem atualizar o software do veículo remotamente, dando aos condutores as funcionalidades mais recentes e atualizadas de diferentes elementos, como a climatização ou eficiência. As atualizações OTA também são cobertas pelo plano de dados Polestar incluído nos primeiros três anos de propriedade.

Tal como noutros elétricos, uma vez sentado, o condutor não precisa de procurar o botão de ‘arranque’ – o mesmo é feito de forma automática assim que o condutor é detetado e que este coloca o pé no travão. Também o sistema de condução com um pedal está presente, oferecendo uma desaceleração bastante forte que elimina a necessidade de recorrer ao travão convencional para a maioria das situações. Tanto o nível de travagem regenerativa, como o peso ou sensação de direção, podem ser ajustados nas configurações do veículo.

O sistema integra o Google Assistant para assistência por voz, o Google Maps para navegação e a Google Play Store. Se o condutor conectar a sua conta do Google ganha ainda um maior entrosamento com o automóvel, melhorando as suas experiências de navegação e do assistente por fala com os dados que as suas aplicações Google associadas já armazenam. Isto inclui destinos favor itos do Google Maps ou preferências de restaurantes e uma compreensão profunda do tom e do sotaque da conversa do utilizador que o Google Assistant aprendeu ao longo do tempo. Além disso, pode sempre pedir que a Google lhe conte uma anedota… Os dispositivos Google Home também podem ser controlados usando o Google Assistant no carro.

Medindo 4606 mm de comprimento, 1985 mm de largura e 1479 mm de altura (1473 com o Performance Pack) o Polestar demarca-se pelas dimensões generosas, mas com uma ilusão ótica de um compacto. Graças aos 2735 mm de distância entre eixos, o espaço atrás é avantajado, mesmo não sendo o mais amplo do segmento dos elétricos. Ainda assim, não existirão grandes problemas para adultos, mesmo de maior estatura.

O Polestar 2 oferece 446 litros de volume combinado de carga dianteira e traseira, incluindo 41 litros à frente e 405 litros na traseira. A porta da bagageira pode ser aberta eletricamente através do chaveiro ou usando o sensor de pé incluído

Chassis a preceito

Do ponto de vista dinâmico, a Polestar procura afirmar-se como uma marca dinâmica, exibindo um argumento curioso: o de tentar converter não os utilizadores de outros veículos elétricos, mas sim chamar os de veículos de motores de combustão de outras marcas premium. A estrutura do Polestar 2 é criada a partir de cinco tipos diferentes de aço, incluindo aço boro de ultra-alta resistência difícil de moldar, para uma rigidez de torção superior. A caixa da bateria e o caminho de carga inferior dianteiro (FLLP) são feitos de alumínio extrudido, que protege a bateria de alta capacidade, endurece a carroçaria e direciona as cargas de colisão frontal, lateral e traseira para partes específicas da carroçaria projetadas para as absorver e atenuar.

A plataforma CMA no qual é baseado permite assim que os sistemas de suspensão dianteira e traseira de multi-ligação MacPherson se combinem. No lançamento, o Polestar 2 possui tração às quatro rodas como padrão com uma polarização de potência máxima de 50/50 à frente e atrás. O Performance Pack opcional aumenta ainda mais a experiência dinâmica com potência e binário adicionais e a adição de amortecedores Öhlins ajustáveis, travões Brembo e pneus personalizados voltados para o desempenho.

Três versões

No lançamento nacional, o Polestar 2 chega com três configurações possíveis de cadeias motrizes. Os motores elétricos são sempre de íman permanente síncrono, com conjuntos de engrenagens planetárias.

A versão mais acessível, a Standard Range Single Motor conta com um único motor e 170 kW/228 CV e 330 Nm, com uma bateria de 69 kWh com uma autonomia até 470 quilómetros. Esta versão acelera dos zero aos 100 km/h em 7,4 segundos e atinge os 160 km/h de velocidade máxima. Com carregamento rápido (CC) até 130 kW, pode recarregar de 10 a 80% da carga em 35 minutos.

Num patamar intermédio, a versão Long Range Single Motor apresenta os mesmos dados de potência e binário (170 kW/330 Nm), mas uma bateria de 78 kWh incrementa a autonomia estimada para os 540 quilómetros e o carregamento em CC para os 155 kW, com idêntico tempo de espera para carga dos 10 aos 80%. Ambas as versões de motor único são de tração dianteira.

A versão de topo Long Range Dual Motor conta com dois motores elétricos de 150 kW cada, para uma potência de 300 kW/402 CV e 660 Nm de binário, o que lhe permite acelerar dos zero aos 100 km/h em 4,7 segundos e os 205 km/h de velocidade máxima. Conta com a bateria de 78 kWh, permitindo uma autonomia de 480 quilómetros. Com carga rápida (CC) a 155 kW, carrega de 10 a 80% em 35 minutos.

O software de gestão do veículo coordena as funções dos motores dianteiro e traseiro para aceleração, cruzeiro e travagem regenerativa, não havendo conexão física entre eles. Com base em vários parâmetros operacionais, como posição do acelerador, velocidade do veículo, direção, forças nas curvas e outros fatores, incluindo a ativação do controlo de tração ou controlo eletrónico de estabilidade, o controlador eletrónico ajusta automaticamente a divisão de potência entre as rodas dianteiras e traseiras (sem vetorização de binário).

Os conjuntos de engrenagens planetárias são lubrificados e arrefecidos com um lubrificante especial vitalício que não possui intervalo de manutenção programado.

A bateria da versão Long Range tem design de célula em bolsa, enquanto uma bateria de iões de lítio de 69 kWh com design de célula prismática alimenta o modelo de alcance padrão. Se a potência de carregamento varia entre os modelos Standard e Long Range, já o carregador de bordo é idêntico em todos, sendo de 11 kW para os postos CA, como os das ‘wallboxes’.

A refrigeração líquida mantém a bateria à temperatura ideal, com o sistema de refrigeração a operar em comum com a refrigeração dos motores elétricos gémeos e controladores. O objetivo é manter a temperatura de operação da bateria abaixo de 40º Celsius. Isto é feito por meio do arrefecimento líquido, além dos espaços de ar entre os módulos da bateria, entre a bateria e a tampa da caixa e entre a caixa da bateria e a parte inferior do veículo. Por fim, os módulos da bateria repousam sobre placas de arrefecimento especiais que absorvem o calor.

A garantia das baterias é de oito anos ou 160.000 quilómetros. Uma das particularidades da bateria da Polestar é o facto de os módulos de bateria serem reparáveis individualmente, o que permite uma abordagem mais sustentável e menos dispendiosa para o comprador.

Personalização simples

O processo de compra online obriga a simplificar opcionais e packs. Assim, o Polestar 2 dispensa grandes listas de equipamento opcional, surgindo apenas com seis cores externas (Snow, Thunder, Magnesium, Midnight, Jupiter e Space), três pacotes de jantes e pneus (de 19 e 20 polegadas), duas suspensões e combinações de travões, três cores internas (Charcoal, Slate e Zinc) e três tipos de revestimento internos (tecido, Weav eTech e napa) que são considerados já como adequados para criar uma configuração personalizada.

Sem vendas nos espaços físicos

Com um modelo de negócio pensado para a era digital, os Polestar não serão vendidos nos tradicionais espaços físicos, embora se mantenham, mas apenas para oferecer um eventual contacto com o veículo e permitir uma primeira experiência de condução. A marca destaca que os empregados desses espaços serão especialistas, mas não terão qualquer pressão para vender, não existindo esquemas de comissão por vendas, por exemplo.

São dois os tipos de espaço da Polestar: os ‘Spaces’ (espaços, literalmente), no qual os veículos podem ser observados, tocados e os especialistas podem tirar dúvidas, e os ‘Destination’ (destino), que funcionam como pontos de entrega dos automóveis. Os primeiros estão situados sobretudo dentro da cidade, nomeadamente em zonas mais premium, enquanto os segundos estão na periferia.

Em Portugal, a Polestar prevê a existência de três espaços – Porto, Lisboa e Algarve –, estando o primeiro pensado para a zona do Porto, muito em breve. Já o serviço de após-venda será feito na atual rede de concessionários da Volvo, que acedeu a ‘receber’ também os Polestar apesar de terem em Portugal operações diferentes.

Miguel Pinto, responsável pela marca em Portugal, explicou que, as primeiras indicações em termos de interesse são muito positivas, com mais de 650 pedidos de test-drive, estando planeado um ‘roadshow’ pelo país que permita aos potenciais clientes efetuarem esse teste em Lisboa (até final de 2022), Porto e Algarve. Está também montada uma estrutura dedicada para a área B2B já com acordos em vigor com algumas empresas.

Equipamentos e opcionais

A Polestar também aposta forte na segurança e conta com os mais recentes sistemas de assistência à condução e oito airbags (incluindo airbags laterais internos), diferenciando-se ainda pela ampla lista de equipamento de base, como as jantes de 19” ou o sistema de áudio premium com oito altifalantes e 250 W.

Depois, além de opcionais como as cores e o gancho de reboque elétrico, a Polestar oferece dois packs para simplificar os processos de encomenda e produção.

O Plus Pack inclui equipamentos como o tejadilho de vidro panorâmico de comprimento total, o sistema de áudio Harman Kardon premium com 13 altifalantes, 600 W e subwoofer, estofamento WeaveTech, painéis decorativos Black Ash, bancos dianteiros aquecidos totalmente elétricos com memória, bancos traseiros, volante e escovas do limpa pára-brisas aquecidos e uma nova bomba de calor (que reduz a necessidade de usar a capacidade da bateria para preparar e manter o ambiente a bordo em temperatura acolhedora). A bomba de calor é um dos elementos que poderá beneficiar, no futuro, de desenvolvimentos implementados através de atualizações OTA.

O Pilot Pack inclui recursos melhorados de segurança e assistência ao condutor, como assistência ao condutor com cruise control adaptativo e assistência ao condutor, uma câmara de visão surround de 360 graus, sensores de estacionamento completos e reconhecimento do condutor, incluindo sistema de informação de ângulo morto (BLIS) com suporte de direção, Cross Traffic Alert com suporte de travagem e Rear Collision Warning.

Por fim, reforçando o compromisso da Polestar com a desportividade, o Polestar 2 dispõe do Performance Pack (apenas para a variante de motor duplo). Juntamente com mais potência (350 kW) e binário (660 Nm), beneficia de amortecedores Öhlins Dual Flow Valve ajustáveis, pinças de travões dianteiras Brembo de quatro pistões, jantes de alumínio forjado de 20 polegadas e pneus Continental SportContact 6 sob medida.

Os preços começam nos 49.900€ para a versão de base Standard Range Single Motor, sendo de 53.400€ no Long Range Single Motor e de 56.900€ no Long Range Dual Motor. Todos os preços sem contar com as eventuais ajudas do Estado à aquisição de veículos elétricos. As encomenda abrem a 24 de maio, com as primeiras entregas prevstas para outubro.


Primeiro contacto: O imperativo valor da qualidade

O primeiro aspeto a salientar do Polestar 2 é a sua vertente estética. Tendo como CEO um designer, nomeadamente o ex-designer da Volvo, Thomas Ingenlath, esta berlina sobrelevada (talvez não seja correto categorizá-lo como um SUV na sua verdadeira aceção da palavra) impõe-se de forma evidente tanto em movimento, como parado. Naturalmente, existem algumas semelhanças estéticas também com os ‘primos’ da Volvo. Afinal, os genes de família estão sempre presentes.

O mesmo sucede no interior, com algumas semelhanças em termos de comandos e de ergonomia face aos Volvo, sendo de esperar também uma maior diferenciação com os próximos modelos. Seja como for, algo que é também palpável é a noção de qualidade e rigor de construção, tanto exterior, como interior. Painéis integrados de forma minuciosa, ótima escolha de materiais e padrões de montagem superiores são argumentos deste Polestar 2.

Na primeira experiência de condução, de cerca de duas horas pela cidade de Lisboa, tivemos acesso à primeira unidade deste modelo matriculada em Portugal na configuração Long Range Single Motor, portanto com a bateria de 78 kWh e motor elétrico singular de 170 kW com tração dianteira.

Uma combinação mais do que suficiente para um desempenho veloz, apto para toadas urbanas e para ambições mais desportivas fora da grande urbe, merecendo sobretudo destaque as prestações.

Também muito convincente a qualidade de rolamento. Mesmo sendo assumido como um automóvel de índole mais desportiva, logo mais firme, o Polestar 2 não deixa de ser refinado na passagem por piso deteriorado, nomeadamente no empedrado desnivelado e repleto de remendos de alcatrão, sendo acompanhado ainda pela insonorização.

Faltou uma passagem por estradas mais sinuosas (‘tempus fugit’, ou o tempo foge…) para averiguar as suas eventuais capacidades dinâmicas mais apuradas atendendo ao trabalho específico do chassis, mas também aos cerca de 2000 kg de peso que acarreta.

Nota ainda para a variabilidade de configuração no modo de condução ‘one pedal’, ou seja, podendo escolher a intensidade da regeneração e da desaceleração, mas também a sensibilidade da direção. Com a desaceleração no máximo, pisar o travão torna-se pouco relevante na maior parte da situações.

Sem muito tempo, a primeira impressão que ficou do Polestar 2 é a de um automóvel com vistosa aptidão qualitativa na condução e na construção, valendo-se ainda de componente tecnológica muito apurada que podem ser argumentos mais do que suficientes para convencer os adeptos da mobilidade elétrica e incentivar os demais a fazer a transição. Falta ensaio mais longo para perceber se o apetecido dinamismo está presente.

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