A Alemanha lidera um grupo de países europeus que se opõe à proposta da União Europeia para proibir a venda de automóveis novos com motor de combustão interna a partir de 2035, pretendendo uma exceção para os combustíveis sustentáveis, comummente conhecidos por ‘e-fuels’.

A proposta da União Europeia prevê que os automóveis novos com motor de combustão interna sejam proibidos de vender a partir de 2035, privilegiando assim os veículos elétricos, mas uma série de países europeus pretende alterar a proposta para que os combustíveis sustentáveis sejam aceites como forma de manter os automóveis com motores térmicos em comercialização para lá dessa data.

Em reunião ontem, os ministros dos Transportes da Alemanha, Itália, República Checa, Polónia, Roménia, Hungria, Eslováquia e Portugal decidiriam criar uma plataforma para debater não só a proposta de proibição de venda de automóveis novos a combustão, mas também a meta anti-emissões estabelecida para meados desta década, conhecida como a norma Euro 7.

A renitência dos países que compõem esta aliança terá razões mais ou menos idênticas, centrando-se nas preocupações com o emprego após a passagem para a eletrificação, mas também com a falta de uma rede de carregamento suficientemente desenvolvida, mesmo no futuro, para acomodar o potencial crescendo de veículos elétricos, sobretudo nos países mais a Leste da Europa, onde o preço deste tipo de veículos também poderá ser um óbice.

O grupo agora estabelecido pretende que seja criada uma categoria específica para os automóveis com motor de combustão interna que possa ser ‘alimentada’ com ‘e-fuels’ a partir de 2035, com o ministro dos Transportes alemão, Volker Wissing, a considerar que é “urgente” alterar a proposta atualmente em cima da mesa para acomodar essa possibilidade, apelando ao mesmo tempo para que a neutralidade carbónica seja atingida por intermédio da neutralidade tecnológica e não por imposições políticas.

Alemanha e Itália: dois motores automóveis

A posição recentemente escolhida pela Alemanha secunda aquela que a Itália já havia declarado recentemente, com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, a comentar que era necessária uma abertura tecnológica para se atingir a meta da neutralidade carbónica na Europa. A italiana declarou, portanto, que o seu país se opunha à proposta de banir os automóveis novos com motor de combustão a partir de 2035.

Ambos os países convergem no facto de terem duas das indústrias automóveis mais fortes na Europa, sendo de destacar o peso do setor na Alemanha, onde marcas como a Audi, BMW e Mercedes-Benz contam com várias infraestruturas de produção, com cadeias de produção que, incluindo os fornecedores, rondam os milhões de pessoas.

A potencial passagem para a eletrificação poderá ter o condão de reduzir o emprego naqueles países, com a Ford a abrir um precedente recentemente ao anunciar o despedimento de milhares de pessoas na Europa, com a Alemanha à cabeça, mas também Espanha e o Reino Unido.

Por outro lado, alguns construtores daqueles dois países estão a trabalhar nos ‘e-fuels’ com vista a manterem alguns automóveis térmicos na sua gama, sobretudo os mais desportivos, que poderão encaixar assim nos legados da Porsche, Ferrari ou Lamborghini.